Por Maria do Rosário Pimentel, em Buala
Flor e fruto têm vidas dependentes. A flor é promessa, o fruto é concepção. A flor é receptáculo, o fruto é semente. A vida de um implica a morte do outro. Os dois fazem parte do singular processo de vida da natureza. O homem, como espectador e como actor, intervém, organiza, interpreta, inventa ordenações que tornam o mundo inteligível à sua medida. Projecta-se nesse universo misterioso e preenche-o de linguagens simbólicas. A flora não foge à regra; muito pelo contrário, faz parte desse nosso dia-a-dia de linguagens, gestos e sonhos. Para este estudo, elegemos não a flor, mas o fruto da coleira, a noz de cola, fruto muito expressivo nas sociedades da costa ocidental de África, de onde é originário. Não é um fruto que represente a abundância, nem a exuberância exótica das novas terras, mas condensa uma forte dimensão social e simbólica nas sociedades que o elegeram como factor de evocação, de unidade e congregação. Nele se reúne o céu e a terra, o espaço e o tempo, o imanente e o transcendente. A noz de cola faz a ligação do mundo dos homens ao mundo dos espíritos. Presente nos relacionamentos interculturais proporcionados pelo expansionismo moderno espalhou-se por diversas regiões do globo, fazendo hoje parte do incremento agro-industrial e do panorama económico não só para a indústria farmacêutica, mas também para a confecção de bebidas, sendo a mais paradigmática a Coca-Cola. Actualmente, nas sociedades africanas, sobretudo muçulmanas, o uso da noz de cola permanece envolto em grande significado, sendo o fruto que sintetiza imagens e sentidos ocultos de mundos sagrados e profanos, plenos de significado e provação.
A árvore é vistosa, de porte considerável, originária do oeste africano, encontrando-se espontânea, sobretudo entre o Senegal e Angola, ao Norte do Cuanza. As flores são amarelas e os frutos, as sementes da coleira, que os botânicos designam por Sterculia Acuminata e que os navegadores quinhentistas divulgaram no mundo ocidental com a designação de noz de cola, estão hoje presentes em várias regiões do globo. A noz de cola ou castanha de cola, de sabor amargo, mas possuindo a propriedade de tornar saborosa a água que sobre ela se bebe, contém uma grande quantidade de cafeína que está na origem do seu efeito excitante e, por isso, diz-se que sob o seu efeito se pode resistir durante um período considerável ao cansaço e à falta de alimento. (mais…)
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