“Makèzú”, de Viriato da Cruz (1928-1973)

Poema enviado por Susan de Oliveira em resposta a África: A noz de cola, um fruto simbólico, com o comentário: “Deixo aqui um poema belíssimo do grande poeta e revolucionário comunista angolano, Viriato da Cruz, que fala sobre a cola e o gengibre como alimento tradicional da população angolana. No caso, fala da perda pelas novas gerações do costume de ingerir a mistura de cola e gengibre chamada de ‘Makèzú’. A mais velha e pobre vendedora ambulante da comida tradicional que ninguém consome também é um registro de um empobrecimento cultural”.

Viriato Cruz“Kuakié!… Makèzú…”

O pregão da avó Ximinha
É mesmo como os seus panos
Já não tem a cor berrante
Que tinha nos outros anos.

Avó Xima está velhinha
Mas de manhã, manhãzinha,
Pede licença ao reumático
E num passo nada prático
Rasga estradinhas na areia…

Lá vai para um cajueiro
Que se levanta altaneiro
No cruzeiro dos caminhos
Das gentes que vão p´ra Baixa.

Nem criados, nem pedreiros
Nem alegres lavadeiras
Dessa nova geração
Das “venidas de alcatrão”
Ouvem o fraco pregão
Da velhinha quitandeira.

– “Kuakié!… Makèzú, Makèzú…”
– “Antão, véia, hoje nada?”
– “Nada, mano Filisberto…
Hoje os tempo tá mudado…”

– “Mas tá passá gente perto…
Como é aqui tá fazendo isso?”

– “Não sabe?! Todo esse povo
Pegô num costume novo
Qui diz qué civrização:
Come só pão com chouriço
Ou toma café com pão…

E diz ainda pru cima
(Hum… mbundu Kene muxima…)
Qui o nosso bom makèzú
É pra véios como tu.”

– “Eles não sabe o que diz…
Pru qué Qui vivi filiz
E tem cem ano eu e tu?”

– “É pruquê nossas raiz
Tem força do makèzú!…”

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