Maranhão: violência não é amor de verão que não sobrevive depois das férias, por Leonardo Sakamoto

Por Leonardo Sakamoto

Esqueça a garantia dos direitos fundamentais para todas as pessoas sem distinção, a responsabilidade que o Estado tem para com quem está sob sua tutela e o fato de que as pessoas têm que ser julgadas por aquilo que fizeram de acordo com a lei e apenas de acordo com a lei. Pense na necessidade de resolver os problemas do sistema penitenciário como uma forma de garantir a segurança dos “homens e mulheres de bem”.

Mesmo assim, a declaração do senador Lobão Filho (PMDB-MA), filho do ministro Edson Lobão, aliado da governadora Roseana Sarney e que acompanhou a visita que a Comissão de Direitos Humanos do Senado fez, nesta segunda (13), ao presídio de Pedrinhas, colhida pela repórter Priscilla Mendes, do G1, foi de uma infantilidade sem tamanho.

“A prioridade absoluta da comissão tem que ser prioritariamente das vítimas, depois dos policiais que foram alvo dessa violência, e, no final da fila, os presidiários. Na hora em que se faz uma visita para defender direitos humanos, priorizar os detentos é um equívoco.”

Se isso saísse da boca de um jornalista sensacionalista berrando na TV em busca de audiência ou de algum membro de uma organização fascistóide fundamentalista em busca de ser amado, já seria péssimo.

Quem disse, meu caro Filho, que as coisas não estão relacionadas? Sei que a vida seria muito mais fácil de ser entendidas se as coisas fossem mais preto no branco, não é? Mas, não, a vida é complicada. Na prática, o número de vítimas do lado de fora também depende de como o poder público zela pela qualidade de vida das pessoas que fazem parte de sua força policial e das garantias mínimas de dignidade que oferece aos detentos.

Coisas que o clã que está no poder em seu Estado há décadas, e do qual você é aliado, não fez a contento.

Filho, isso não é amor de verão que não sobe a serra. O ódio gestado em muitos dos presos durante um processo bisonho de “ressocialização”, por tudo o que viram e viveram, é levado para fora quando retornam ao convívio social. E atingem quem não tinha nada a ver com a história.

Vamos desenhar, como se fosse uma criança, para garantir o entendimento:

Pessoas ruins, que machucaram outras pessoas de verdade, devem ir para a cadeia.

Na cadeia, as pessoas ruins têm que pensar nas coisas ruins que fizeram contra as outras pessoas.

Assim, quando voltarem para a rua, eles não vão fazer as coisas ruins de novo.

Até porque, vou te contar um segredo: a maior parte das pessoas não são ruins de verdade. Elas fizeram coisas ruins, mas não são ruins. Algumas sim. Mas, aí, né! Tem dodói em todo o lugar! Até na política!

Mas se as pessoas que fizeram coisas ruins sofrem outras maldades na cadeia, maldades que não fazem sentido, elas vão achar que a vida é assim mesmo.

Aí, quando saírem, as pessoas que fizeram coisas ruins vão fazer mais ruindades ainda com todo mundo. E ruindades até piores porque vão ter aprendido lá dentro da cadeia com quem é professor de ruindades.

Então, se você tratar com respeito as pessoas que fizeram coisas ruins que estão presas, menos coisas ruins vão acontecer com todo mundo.

Entendeu?

Está tudo ligado. E, concordando com isso ou não, são necessárias ações que desarmem a bomba relógio e não que se acrescente mais combustível a ela. A menos que não se queira resolver o problema. Daí, é uma outra história…

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