Poema dedicado ao fotógrafo e amigo João Zinclar (1953 – 2013). Faleceu na madrugada do dia 19 de janeiro de 2013 num acidente na BR 101, no Município de Campo dos Goytacazes (RJ) quando viajava num ônibus que foi atingido por um caminhão.
Quantas fotos ficaram por fazer?
Quantas lutas aguardando o teu clique de eternidade?
Quantos rostos e lutas e punhos erguidos ficarão no anonimato?
Quantos prantos?
Quantas internacionais ficarão silenciosas sem tuas fotos?
Andamos
Zinclar
Os que documentamos
As lutas populares
Solitários
Por campos e cidades
De ônibus
De caminhão
Como animais sedentos por justiça
No perigo constante
Como trapezistas sem rede de contenção
Como monges tibetanos
Concentrados
Atrás dos campos
Onde se livram as batalhas
Contra a opressão
Sabemos
Zinclar
Que qualquer BR assassina nos espera na volta da esquina
Como um cassetete
Um gás lacrimogêneo
Ou uma bala nem tão perdida
Mas nem tudo está perdido
Zinclar
Haverá livros que contarão tua história
Jornalistas honrarão em textos tua memoria
Do Chuí ao Oiapoque
Militantes sociais
Não esquecerão que um dia houve
Um fotógrafo armado de ternura
Que andou os mesmos caminhos
De poeira e solidariedade
Não esquecerão que um dia
Houve Joao Zinclar
E muitos levantarão
Tua câmera
E continuarão
Fazendo foco
No inimigo
Alguém disse
Que nas tuas veias
Corriam as águas do rio São Francisco
Digo mais
Frei Cappio celebrou
A última missa
No por do sol do teu coração
Ensanguentado
Ficastes
No asfalto
Destroçado
Mas abraçado à tua câmera
Onde as águas do Velho Chico
Sempre correrão em liberdade….
Onde as águas do Velho Chico
Sempre correrão em liberdade….
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Carlos Pronzato é Poeta e cineasta/documentarista.
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Enviada por Ruben Siqueira.