Muita coincidência ou muita incompetência!

Coordenador Nacional de Organização do MNU - Fracção MNU de Lutas

A propósito do racismo do comando da PM, em Campinas….

Reginaldo Bispo

Nos preparativos da última Conferência Nacional da Segurança Pública, promovida pelo Governo federal, em 2009/10, tivemos a oportunidade de assistir um vídeo de um capitão negro da PM do Rio Grande do Sul, na ativa, afirmando que haviam instruções internas, de comando, para abordar e reprimir com energia pessoas negras e pardas.

Anos antes tivemos acesso a um manual interno da PM de SP, onde haviam instruções explicitas neste sentido, caracterizando e fazendo juízo de valor quanto ao perfil dos marginais, de novo, a caracterização recaia sobre negros. Tive a oportunidade, ao ser abordado no centro de Campinas, por PM, de perguntar-lhes o porque, só a nós (eu e outro irmão)? A resposta foi: “Quando você for assaltado vai saber!”. Quer mais provas do racismo da PM?

Em 1984, foi assassinado o Benê, um jovem trabalhador negro (irmão de um cabeleireiro famoso na cidade), por dois PMs à paisana, que faziam bico em uma farmácia do Cambuí (bairro mais antigo de Campinas, com moradores semelhantes ao do Taquaral) sob acusação de que havia um suspeito com as mesmas características, praticando furtos na vizinhança.

Dois ou três anos depois, durante o julgamento dos assassinos (protegidos pelo Comando), um juiz auditor militar perguntou às testemunhas de acusação, se o falecido era militante de algum movimento negro. Não contente em receber uma resposta negativa, justificou a inquirição com uma pérola: “É que os militantes do MN fazem-se sempre de vitima!”, tentando condenar pelo crime o morto.

Agora, um oficial da comunicação da PM faz o mesmo; alega que “racismo é o que tentam fazer” interpretando a “Ordem”, chamando atenção para uma população (negra e parda) “que já é tão discriminada”, segundo ele. Invertendo, tentando acusar de racismo às avessas quem denunciou as provas do racismo, com que eles tem constrangido tantas pessoas, com demonstrações de abuso de autoridade, uso de força excessiva, quando não com violência e agressões que terminam em assassinato das vitimas, sob alegação de Auto de Resistência.

Falsificações descaradas, que contam com o apoio do Comando, do Governo Alckmin, dos deputados estaduais, federais e senadores e da justiça. A hipócrita, açodada e individualista, classe média branca, corre a apoiar como se todo pobre preto fosse um descumpridor da lei.

O Taquaral é um bairro burguês de Campinas, cerca o Parque Portugal, logradouro público frequentado por milhares de pessoas diariamente, aumentando nos fins de semana. Além de muitos bares e boates que funcionam a noite. É natural que entre esses muitos, os negros também o frequentem. Afinal aqui não é a África do Sul dos anos 70, só faltava ser diferente!?

O que se lê na ordem assinada por quatro oficiais é objetiva e genérica, para “abordar com rigor pessoas negras ou pardas, aparentando 18 a 25 anos, com rigor”. Não cita denúncia de moradores, nem cita as ocorrências que posteriormente o oficial negro, capitão do mato, tira da algibeira para justificar o ato racista. Aliás, eles sempre fazem isso, quando pegos em fragrante inquestionável, arranjam um pretinho subalterno e conivente para fazer o serviço sujo, justificando o injustificável.

Ocorre que há um exército de civis hipócritas, que mal sabendo do caso, corre a apoiar as justificativas oficiais: a turma do “acho isso acho aquilo”, que dá pitacos definitivos, com base nas informações oficiais. O eterno senso comum de que, se se meteu com a polícia, então é culpado. O problema é que a polícia é quem se mete com quem não deve nada.

O voluntarismo da PM, ao intimidar e tentar impedir a presença dos munícipes negros no bairro, fere o direito constitucional de ir e vir (não de uma pessoa, mas de um coletivo), de um povo, uma vez que não há nenhuma orientação anterior, em toda cidade do mesmo Comando, que cite características brancóides nos potenciais suspeitos; é racista, crime de lesa Humanidade, imprescritível e inafiançável, punido com prisão fechada.

A justificativa posterior de que foi em razão de denúncia de moradores, mas não está estampada na “ordem”. Acusar como responsável pela redação inapropriada a secretaria é improcedente e ridículo! Quatro oficiais assinam a tal “Ordem” e nenhum leu a mesma? É muita coincidência ou muita incompetência!

Fico com a explicação lúcida de uma internauta, que não cito o nome por razões óbvias. “Eles sempre dizem que não é racismo…. que tá tudo dentro da legalidade e que é exagero da cabeça de gente neurótica. Mas aí você vai ver os relatos e as estatísticas e percebe que, coincidentemente, é justamente esse o grupo mais reprimido e assassinado pela polícia. Se o comandante queria fazer um ofício assim, deveria ter especificado não só a cor da pele e a idade (já que a PM sempre pega pesado com esse grupo, mesmo), mas… os retratos falados, ou outras formas de identificação que não aumentassem ainda mais a suspeita sobre todo e qualquer grupo de jovens negros… eu que sou mulher branca classe média não sei o que é ser considerada suspeita em um ofício só por andar na rua, só quem sente isso na pele todo dia sabe o significado disso…”

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Enviada por Ney Didãn.

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