Por Kátia Zanvettor
João Zinclar costuma estar onde o povo está, literalmente. Há 16 anos ele trocou os instrumentos de operário em seu trabalho como encanador industrial e passou a operar a máquina fotográfica. Porém, não esqueceu sua opção de classe e se mantém firme fotografando exclusivamente os movimentos sociais e as causas que considera justas.
Segundo ele, não é uma escolha fácil. Como fotógrafo freelancer já perdeu muito trabalho por “não virar a camisa”, mas é para ele o único caminho possível. “Foi minha condição de operário que me sensibilizou para os movimentos sociais e para a causa dos trabalhadores, eu gostava de fotografia e acabei juntando as duas coisas. Quando fiz da fotografia uma opção profissional, minha sensibilidade para as questões sociais não mudou”, explica.
Esta escolha lhe rendeu algumas histórias emblemáticas como é o caso da inauguração da fábrica da Honda em Sumaré em 1997, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. “Enquanto todos os fotógrafos estavam cobrindo a programação oficial, tirando fotos de FHC, eu estava cobrindo a passeata dos operários. Foi quando a polícia tentou parar a manifestações com truculência e fui o único fotógrafo que pegou as imagens”, lembra. Segundo João, nestas histórias ele procura sempre olhar o lado do trabalhador.
O compromisso com as causas sociais o deixa colado no fotojornalismo e mais recentemente o apresentou a uma nova linguagem que é a atual ênfase do seu trabalho, ou seja, o documentário fotográfico. Seu último trabalho, uma série de fotografias sobre o Rio São Francisco, resultou no livro “O Rio São Francisco e as Águas no Sertão”.
Em parceria com o jornalista Flaldemir Santana, ele registrou por seis anos a vida das comunidades no entorno do rio e de quem depende dele para viver. Para documentar este cotidiano os dois percorreram várias vezes toda a extensão de 2700 Km do São Francisco indo da nascente do rio em Minas Gerais até a sua foz em Sergipe e Alagoas, passando pela Bahia e Pernambuco. “O mais importante foi conseguir desmitificar a principal bandeira do projeto de transposição que é a de eliminação da miséria. Se a água fosse a principal causa da miséria nós não teríamos encontrado tantas comunidades carentes na beira do rio”, afirmou João.
Ao encerrar a entrevista não esqueceu de frisar que o projeto do livro só foi possível graças ao empenho da população que o acolheu e que, de certo modo, apoiou o projeto. Como fotógrafo operário não podia ser diferente. Todo poder ao povo!
Enviada por Sonia Mariza Martusceli.
http://portalimprensa.uol.com.br/noticias/pontodevista/48199/sou+um+fotografo+operario+ou+um+operario+da+fotografia+diz+joao+zinclar
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Agradeço pela homenagem feita para meu tio João Zinclar. Fico feliz em saber que tinha muito amigos. Abraços da sobrinha dele Rhayane Lima Silva Teixeira