Rui Barbosa e a queima de arquivos: gesto nobre ou condenável?

CENPAH

Um dos fatos mais contraditórios da história do país e que gera polêmica e discussão até hoje é a queima dos arquivos da escravidão, promovida pelo então Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, em 1889, meses após a abolição da escravatura, assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888.

Os tais arquivos queimados em praça pública com uma grande comemoração listavam nomes, dados e históricos de todos os escravos e de quilombos. Após a queima, formou-se um hiato na história de muitos ex-escravos, que perderam seus documentos e sua própria identidade.

Rui Barbosa, um dos políticos mais importantes da história do país, teria autorizado a queima para supostamente acabar com esta “mancha negra” na história do país.  Isso explica porque não há quase nenhum documento sobre escravos famosos da época como Zumbi dos Palmares. É o que muitos acreditam. No entanto, há opiniões divergentes.

A professora de História da Unirio, Keila Gringerg, afirma em artigo que “isto é contado como um grande absurdo” e que Rui Barbosa destruiu os documentos logo após a proclamação da república por um motivo simples: a lei estabeleceu que os antigos senhores não seriam indenizados por ficarem sem escravos. Acontece que os senhores não aceitaram bem e queriam recompensas.

– Rui Barbosa achava que se alguém tivesse que ser indenizado, seriam os escravos, mas os proprietários continuavam a protestar. Para acabar de uma vez por todas com o conflito, ele mandou queimar os documentos que comprovassem a quem tinha pertencido cada escravo – afirma.

A historiadora afirma ainda que nem tudo foi destruído e que ainda há documentos que remetem a esse período. No entanto, há muitas opiniões contrárias. Zulu Araújo,presidente da Fundação Cultural Palmares, é categórico ao discordar:

– Ruy Barbosa, baiano da Freguesia da Sé, na cidade do Salvador, na então Província da Bahia, é o símbolo maior da elite conservadora brasileira. Rui Barbosa escreveu um triste capítulo da nossa história quando queimou os arquivos da escravidão, segundo ele para “acabar com o passado negro do Brasil”. Esse fato, aparentemente nobre e positivo, como foi alardeado durante longo tempo, em verdade, favoreceu a elite conservadora brasileira de então e impediu e impede, até hoje, que conheçamos uma parte importantíssima da história do nosso país e, consequentemente, da nossa cultura; o que em muito ajudaria compreendermos melhor o singular e complexo processo de formação da sociedade brasileira e os caminhos a serem percorridos para a superação do nefasto legado que foi a escravidão – diz.

Certo ou errado, nunca saberemos. O episódio da queima de arquivos da escravidão, que já foi tema de livros e teses de mestrado e doutorado, é uma das maiores incógnitas da história brasileira.

E você? O que acha do assunto?

fonte: Revista Afro

Rui Barbosa e a queima de arquivos: gesto nobre ou condenável ?

Comments (7)

  1. Freud tambem queimou seus arquivos e outros gênios também fizeram isto. Rui Barbosa tinha consciência do que estava fazendo.
    A atitude foi racional no melhor julgamento que ele fez. Nos, as vezes, avaliamos a atitude dele de forma emocional.
    Razão e emoção se completam, mas também não se entendem em muitos temas.

  2. Minha tia, hj com 94 anos, afirma que Rui Barbosa era racista e conta algumas histórias que ouvia de sua mãe. Os negros não pisavam na calçada da casa dele.

  3. Nem eu, pra dizer a verdade… Aliás, essa história de “passado negro” já é dura de engolir.
    Quanto à solução, ela me lembra outra mais recente, que estamos rediscutindo agora: a da chamada anistia…
    Tania.

  4. Por mais defesa que se façam a Rui Barbosa, eu realmente não me convenço que este gesto teve nobreza nos seus intuitos. Ora, tão inteligente que ele era, poderia ter encontrado outra solução que não essa. Ele deveria saber que não iria simplesmente pagar a “mancha negra” da escravidão dessa forma. Ah, sei lá. Mas quando penso, sempre acho que ele poderia ter dado outra solução para o caso, se fosse bem-intencionado. Não estou convencida.

  5. Queimar arquivos é sempre lamentável e condenável, mas acho que a Keila tem razão quanto ao motivo. É certo que se perdeu muita informação importante, enriquecedora, como diz o presidente da Fundação Palmares, mas não creio que chegue a impedir “que conheçamos uma parte importantíssima da história do nosso país”. Poderíamos, sim, conhecê-la melhor.

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