Por Josias Pires
“Chegança de Mouros” é uma manifestação da cultura popular inspirada na saga marítima portuguesa e nas lutas medievais travadas pelos europeus contra árabes, turcos e mouros. São encenadas, principalmente, por pescadores, que representam marujos e oficiais de um navio. O espetáculo pode durar até doze horas e se compõe de vários episódios independentes, que lembram as saudades que os marujos sentiam das suas terras de origem, os amores deixados nos portos e também as dificuldades enfrentadas durante as longas travessias marítimas, como as tempestades, naufrágios e brigas entre tripulantes. O ponto alto do espetáculo são as lutas contra os mouros, que acontecem em alto mar.
Mário de Andrade, um dos principais estudiosos da cultura popular tradicional brasileira, defendeu a tese de que as “Cheganças”, apesar de terem todos “os seus elementos importados de costumes ibéricos, são entidades próprias, aqui organizadas e de indiscutível formação brasileira em seu conjunto”. Elas teriam sido reelaboradas no Brasil, durante o século XVIII, por iniciativa de poetas urbanos, que tomaram como matéria-prima o cancioneiro e velhos romances de Portugal e da Espanha.
Chegança era o nome de uma dança ibérica, que tinha influência de tradições mouras. Suas cantigas foram proibidas em Portugal, por serem consideradas indecentes. No Brasil, porém, a Chegança ganhou características diferentes das de Portugal: ela nasceu para narrar a epopéia marítima portuguesa e para afirmar, entre os brasileiros, a fé cristã. As cheganças representam a luta do Bem contra o Mal, do Cristão contra o Infiel.
O domínio árabe sobre a península ibérica durou sete séculos. Granada, o último território espanhol ocupado pelos mouros, só foi reconquistado pela Espanha em 1492, o mesmo ano em que Colombo chegou à América. Mouro era o árabe nascido na Mauritânia, no norte da África. Mas foi o nome que passou a designar todos os árabes e outros muçulmanos, considerados inimigos da cristandade. Os mouros deixaram marcas culturais profundas em Portugal e na Espanha. E essas influências mouriscas chegaram ao Brasil na memória dos colonizadores portugueses.
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Enviada por José Carlos para Combate ao Racismo Ambiental.