Bahia Singular e Plural: “Encontro de Reis da Chapada”

O “Encontro de Reis da Chapada / Reisado Zé de Vale” foi o décimo quinto programa da série “Bahia Singular e Plural”. Na Chapada filmamos o Encontro de Reis realizado em Boninal, em janeiro de 2000, que reuniu cantadores de Reis dos municípios de Boninal, Piatã, Seabra, Mucugê, Andaraí, Palmeiras, Utinga e Rio de Contas. O Reisado Zé de Vale foi gravado na cidade de Saubara, no Recôncavo e no povoado Gameleira, na Ilha de Itaparica.

Foi o quarto programa da série “Bahia Singular e Plural” sobre festas de Reis — depois de Festas e Folias de Reis, Folias de Negros, Burrinhas e Bumba-meu-boi. As festas de Reis são, ao lado do Carnaval e do São João, estão disseminadas na Bahia. Elas integram o calendário de festas de praticamente todos os municípios do estado. Além de ser um ato de fé e de alegria, as cantorias de Reis desempenham importante papel de coesão social, de afirmação das identidades locais e de fortalecimento do grupos familiares e comunitários.

A maestria em fazer diferentes tipos de samba tornam os reiseiros os mesmos festeiros de épocas juninas e carnavalescas. É por isto que os reiseiros dos ranchos de Reis levados para o Rio de Janeiro pelas tias baianas na segunda metade do século XIX foram embriões das escolas de samba do carnaval carioca.

Na Bahia, a vitalidade das festas de Reis é é reafirmada a cada ano, entre o dia de Natal e seis de janeiro, quando cantadores e sambadores revivem o mito dos Reis Magos, sábios do Oriente que foram guiados por uma estrela até um presépio de Belém, onde nasceu o Menino-Deus. Além dos Reis Magos, encontramos reiseiros fazendo diferentes tipos de samba em folias e ternos de São Sebastião, do Divino Espírito Santo, São Benedito –este santo negro é padroeiro, inclusive, de marujadas como as de Prado e Jacobina. Os reiseiros são peregrinos festivos, que saem cantando e tocando violões, violas, tambores, flautas em visitas às moradias nas fazendas, vilas e cidades, repetindo um percurso tradicional todos os anos.

Em cada casa, eles cantam marchas para saudar o dono da casa e o Deus-Menino; e, em seguida, cantam chulas, batuques e sambas coreografados de modos variados, no interior da residência, diante do presépio. Dois grupos de Reis, também chamados Ternos de Reis ou Folias de Reis, quando estão percorrendo os seus caminhos tradicionais, jamais cantam juntos num mesmo lugar. Isto só acontece em eventos especialmente preparados para este fim, como foi o caso do Encontro de Reis da Chapada, coordenado pela fotógrafa Ieda Marques, natural de Boninal (http://www.iedamarques.com/), Onildo Reis e muitos colaboradores.

O Encontro revelou uma síntese diversa da manifestação singular e plural da Bahia: cada grupo de Reis tem o seu próprio repertório musical, suas danças e seus personagens. Há os ternos de pastoras, integrado sobretudo por mulheres, que usam indumentária e adereços coloridos; há as folias formadas exclusivamente por homens, que são os próprios músicos e cantadores; há os ternos de bumba, pequenas orquestras instrumentais formadas por zabumba, caixas, gaitas (flautas de taquara ou feitas de tubos de pvc), pandeiro e triângulo; há os reis de sanfona; há também os Reis de Boi, onde aparece o boi-bumbá e outros bichos.

Durante o evento, a TV Educativa exibiu em praça pública dois documentários sobre festas de Reis — Ternos e Folias e Folias de Negros — ambos da série Bahia Singular e Plural. Depois da exibição, os grupos de Reis da Chapada que participaram dos documentários da TVE receberam fitas dos programas. O impacto de verem a si mesmos cantando e dançando na televisão, deixou os reiseiros emocionados.

“Pra mim tá parecendo um sonho, parece que tô dormindo. A hora que eu acordar, não sei, a emoção; ainda mais de receber essa fita aqui, no dia que foi gravado em casa, a gente na maior simplicidade e agora no meio dessa emoção de gente aqui, tô surpreso, viu, não pensava deu chegar a essa altura”, disse o reiseiro José Braulino de Assunção (Zé Preto), do terno de bumba da zona rural do município de Piatã.

Enviado para Combate ao Racismo Ambiental por José Carlos.

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