“No” – O marqueteiro que derrubou o regime ditatorial chileno

O ator Gael García Bernal vivendo o personagem do filme "No"

Daniel Oliveira

Em determinado momento de “No”, filme que acaba de entrar em cartaz em Belo Horizonte, um dos líderes da oposição que tentava derrubar o general Augusto Pinochet no plebiscito chileno em 1988 diz que a primeira peça publicitária deles “parece um comercial da Coca-Cola”. A ironia subjacente é que a comparação é com uma das campanhas de publicidade de maior sucesso do mundo.

É com esse olhar não cínico, mas realista, que o diretor Pablo Larrain narra os bastidores da batalha política que deu fim à ditadura militar no país – o equivalente chileno das “Diretas Já”. Pressionado por lideranças internacionais, Pinochet convocou um plebiscito sobre sua permanência no poder por mais oito anos. “No” acompanha René Saavedra (Gael García Bernal), um verdadeiro marqueteiro político que coordenou a campanha publicitária pelo “Não” do título.

Profissional competente e nada idealista, Saavedra vira a estratégia da oposição do avesso com o que é hoje um dos pilares do marketing político: não se vendem ideais, mas sim produtos. Não são as melhores propostas que ganham uma eleição, mas sim a melhor campanha – nesse sentido, a publicidade se torna sua própria mensagem, um fim em si mesmo, e é aí que Saavedra muda o jogo do plebiscito. É necessário transformar o “não” naquilo que uma desacreditada população chilena queira comprar, associá-lo aos desejos do eleitor.

Selecionado para a Quinzena dos Realizadores do último Festival de Cannes, “No” é o fim da trilogia de Larrain sobre a ditadura no Chile. Os outros filmes são “Tony Manero”, de 2008, e “Post Mortem”, de 2010. Além de um roteiro sem arroubos políticos ou sentimentais, que analisa clinicamente o processo político sem julgá-lo, o grande chamativo do filme é seu visual. Com grande acesso ao material exibido na TV durante o plebiscito, Larrain decidiu fazer seu filme no mesmo suporte, as finadas fitas beta dos anos 1980, e abusando dos cortes secos. O resultado é um filme que, assim como seu protagonista, sabe que o meio é, sim, a mensagem.

Enviada por José Carlos para Combate ao Racismo Ambiental.

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