Em depoimentos à Comissão da Verdade agentes da repressão negam participação em torturas

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Adital – A Comissão Nacional da Verdade (CNV) deu início nesta semana a um mutirão para a tomada de depoimentos de 41 agentes da repressão. Até a próxima sexta-feira, 25 de julho, deverão ser ouvidas, na sede da CNV, em Brasília, Distrito Federal, 16 pessoas envolvidas em graves violações aos direitos humanos, ocorridas no Brasil e no exterior durante a ditadura militar brasileira (1964 a 1985). Até 1º de agosto, estão previstos mais 25 depoimentos a serem tomados no Arquivo Nacional, na cidade do Rio de Janeiro.

As pessoas convocadas terão a oportunidade de dar suas versões sobre alguns episódios, antes que aconteça o fechamento do relatório da Comissão Nacional da Verdade, a ser divulgado no próximo mês de dezembro. Relatórios preliminares foram difundidos no início deste ano e podem ser vistos no site da Comissão.

Na tarde desta quarta-feira, 23, a CNV tomou o depoimento do ex-delegado da Polícia Civil do Espírito Santo Cláudio Guerra, personagem central do livro “Memórias de uma Guerra Suja”. Serão verificadas informações já prestadas por ele e contrastadas com dados encontrados pela Comissão a respeito dos casos do atentado ao Riocentro, a morte da estilista Zuzu Angel e o paradeiro das vítimas da Casa da Morte, de Petrópolis.

O coronel reformado do Exército Roberto Amorim Gonçalves foi o depoente escutado nesta terça-feira, 22. Ele confirmou que alguns militares se infiltraram na região do Araguaia passando-se por posseiros para conseguirem informações sobre a guerrilha.

Dados apurados pela Comissão apontam que Gonçalves teve envolvimento direto na Operação Sucuri, na qual era responsável por comandar soldados e outros agentes da repressão infiltrados nas comunidades rurais, mas o ex-militar negou o envolvimento e assegurou que apenas tinha contato com os agentes.

Gonçalves confirmou que trabalhou no Codi (Departamento de Inteligência), de Brasília – considerado o maior órgão de repressão durante a ditadura -, mas negou qualquer tipo de participação em sequestros, mortes, prisões arbitrárias ou outros tipos de violações aos direitos humanos. O militar disse ainda que “integrantes da guerrilha justiçaram moradores da região”, contudo não soube apontar nomes das vítimas e autores envolvidos.

Dos cinco convocados para prestarem depoimento no primeiro dia, segunda-feira 21, quatro compareceram: Eudantes Rodrigues de Faria, Gerci Firmino da Silva, Jamiro Francisco de Paula e Deoclécio Paulo. Bolívar Mazon enviou um atestado médico.

Consta nos arquivos da CNV que os ex-militares do Exército Eudantes Rodrigues, Gerci Firmino e Jamiro Francisco tiveram participação na Operação Sucuri, ação de infiltração realizada em 1973 no Araguaia antes da operação militar, que dizimou os integrantes da guerrilha. Todos negaram envolvimento na ação de inteligência, assim como nas prisões, torturas e mortes relacionadas ao caso, assumindo terem participado apenas do levantamento de informações. Apesar disso, um dos agentes apontou que a Casa Azul, em Marabá, servia para interrogatórios e prisão.

Já o nome de Deoclécio Paulo está ligado ao caso do Estádio Nacional do Chile, onde foram presas, torturadas e mortas várias pessoas, após o golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973. Na ocasião, também foi preso o brasileiro Vânio José de Matos, que morreu em consequência da tortura. Paulo nega ter estado no Estádio, no entanto, nesse período, era adido militar da Embaixada do Brasil em Santiago.

A coleta de depoimentos segue até o dia 1º de agosto. Encerrado este ciclo a Comissão Nacional da Verdade fará um balanço dos casos e relatará ao Ministério da Justiça as situações em que seja necessária a condução coercitiva dos agentes convocados que faltaram reiteradamente ou sem justificativa às convocações.

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