Meu bairro e a Faixa de Gaza, por José Ribamar Bessa Freire

 

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Taqui Pra Ti

Confesso, humilde, que não entendo bulhufas de política internacional, por isso não comento os acontecimentos na Faixa de Gaza. Nem os do território palestino, nem sequer os das favelas cariocas. Nada sei fora do bairro de Aparecida, em Manaus. A Isis que conheço é uma caboca peitudinha que mora no Beco da Escola, fica saliente ao ver farda e lembra saudosa dos amassos escandalosos do Geraldão, tenente do NPOR. De Gaza, ignoro as fofocas, que é a forma suprema do saber. Sei apenas que ISIS é a sigla do grupo que luta por um Estado Islâmico no Iraque e na Síria. Nada mais.

Gaza está tão longe e Aparecida tão perto! Mas de repente, Gaza ficou mais perto de mim do que o bairro onde nasci, porque mexe com o que existe de profundo em cada um de nós: a nossa humanidade. Ninguém precisa fumar cachimbo e usar boina basca como os comentaristas internacionais ou fingir inteligência como a equipe do Manhattan Connection para saber que o que está acontecendo em Gaza é um exemplo acabado da estupidez, que nos traz tanto desencanto e compromete o destino da espécie humana.

Que fique claro, portanto, que não tratamos aqui de política internacional, mas da barbárie e da bestialidade humana, da qual cada um de nós entende um pouco. Não há outro nome para o fato testemunhado da janela do luxuoso hotel al-Deira, na cidade de Gaza, por dois jornalistas do New York Times. Eles observavam crianças palestinas que brincavam de bola, alegres e felizes, numa praia do Mar Mediterrâneo, quando foram assassinadas covardemente pela artilharia israelense. (mais…)

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20 de julho de 1925: nascia Frantz Fanon

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Autor de Pele Negra, Mascaras Brancas e Os Condenados da Terra, Frantz Fanon, nasceu em 20 de julho de 1925. O epistemicídio acadêmico não permite “ainda” que estudantes das ciências da saúde conheçam as contribuições de Fanon na Saúde Mental e na Reforma Psiquiátrica

Por Deivison Nkosi, em  População Negra e Saúde

Aos 20 de julho de 1925 nascia Frantz Fanon, um dos pensadores pretos mais importantes do século XX. Nasceu em Forte de France, Martinica (território francês de Ultramar) em 1925 no seio de uma família de classe média. Em 1944 se alistou no exercito francês para lutar contra a invasão alemã ocorrida durante a II Guerra Mundial e posteriormente seguiu para Lyon para estudar medicina e psiquiatria.

Em 1950 Fanon escreveu uma tese doutorado em psiquiatria discutindo os efeitos psíquicos do racismo colonial. Entretanto, a tese foi rejeitada por confrontar as correntes positivistas então hegemônicas em sua área de estudos. Escreve então uma segunda tese de doutorado no ano seguinte nomeada: Troubles mentaux et syndromes psychiatriques dans l’hérédo-dégénération-spino-cérébelleuse: Um cas de maladie de Friereich avec délire de possession.  (mais…)

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“Nota de Desagravo: ADPF lamenta a forma como vem sendo tratado o incidente ocorrido com o DPF Antonio Carlos Moriel Sanchez”

ADPF Nota

A Nota de Desagravo se refere a notícia divulgada pelo Ministério Público Federal no Pará e publicada por este blog no dia 10 de julho último, sob o título Urgente: MPF denuncia delegado da PF pelo assassinato de Adenilson Munduruku, executado com tiro na nuca. (TP)

ADPF

“Os Delegados de Polícia Federal, por meio da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, lamentam profundamente a forma temerária como vem sendo conduzido o processo que tem por objeto apurar o incidente ocorrido com o Delegado ANTONIO CARLOS MORIEL SANCHEZ.

MORIEL, Delegado reconhecido pela sua expertise nas ações de defesa a comunidades indígenas e pela sua dedicação à causa dos índios, foi Chefe do Serviço de Repressão aos Crimes Contra as Comunidades Indígenas, e, em razão da sua notória habilidade e experiência em tratar dessas questões, foi designado para comandar a Operação Policial Eldorado, que visava combater a extração clandestina de ouro no Rio Teles Pires, atividade que tem consequências gravíssimas para o meio ambiente, inclusive a danosa contaminação de cidades ribeirinhas por mercúrio. Tendo sido mapeada a ocorrência de crime de extração ilegal de minério, e considerando a necessidade de coibir a atuação de um grupo econômico ligado a esta nefasta atividade na região, foi exarada decisão no bojo do Processo nº 1243-58.2012.4.01.3600 (IPL 0006/2012- SR/DPF/MT), visando cumprimento de 26 mandados de prisão temporária, 08 mandados de condução coercitiva e 64 mandados de busca e apreensão.

Para executar a ordem judicial, os policiais da PF e da Força Nacional, bem como servidores do IBAMA e FUNAI, instalaram-se em Base Operacional montada próxima ao Rio Telles Pires, e já no início das atividades reuniram-se com as lideranças indígenas locais, tendo sido devidamente acordado que a Operação seria realizada sem interferência dos índios e que as barcas de extração de ouro seriam inutilizadas. A reunião foi testemunhada, frise-se, por servidores da FUNAI e contou com a presença, dentre outros, do Cacique da Aldeia Papagaio e de 04 representantes da Aldeia Teles Pires. (mais…)

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Duarte da Silveira, Petrópolis, RJ: uma comunidade prestes a pagar pela política preservacionista brasileira

Rebio Tinguá

Duarte da Silveira é um bairro que existe há mais de 100 anos, no município de Petrópolis, RJ. Em toda a sua existência, sempre se relacionou com as matas tropicais da região serrana e as políticas desenvolvimentistas que nunca consideraram o meio ambiente brasileiro. Num dado momento o bairro foi cortado pela BR 040, em outro momento teve que conviver com o lixão municipal.

A luta pelo direito a cidade e a dignidade humana fazem parte do histórico do bairro. Mesmo com a criação da Reserva Biológica do Tinguá em 1989, foram os moradores, através de trancamentos de rodovia, piquetes, manifestações, que conseguiram retirar o lixão de seu território. Todas as políticas sociais em que tiveram acesso, fazem parte de um processo de luta para obtenção de conquistas.

Mas desde de 2005 a Reserva Biológica do Tinguá e a Prefeitura Municipal de Petrópolis, em razão do inquérito administrativo promovido pelo Ministério Público Federal, vêm intervindo no território de Duarte da Silveira com o propósito de reduzir a ocupação e limitar atividades típicas do direito a cidade: não se pode fazer obras nas casas, não se pode reconstruir mesmo por necessidade urgente, não se instala luz elétrica e a Prefeitura está proibida de promover melhorias, como realizar obras de saneamento básico e contenção de encostas.

Com isso, embora o Governo Federal nunca tenha desapropriado e nem indenizado as famílias por suas propriedades, intervém no bairro e em propriedades particulares, proibindo o acesso aos serviços essenciais básicos garantidos na Constituição Federal, impedindo a melhoria do bairro e ensejando na má qualidade de vida da população. Usa de violência simbólica, com autos de infração, intimações para entrega de documentos, vistorias etc. É uma ocupação violenta por parte das autoridades do ICMBio, em nome da natureza, violando todos os direitos dos moradores que lá residem muito antes da constituição da Reserva. Agem como se donos do território fossem e os moradores, invasores ilegais, praticantes de crimes ambientais, que devem ser processados e humilhados. É a construção da legitimidade violenta, em que o povo, só tem o direito de ficar calado. (mais…)

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Nós, que amamos tanto Fellini

fellini de costas olhando par ao mar

Dirigido por Ettore Scola, outro cineasta italiano genial, “Que estranho chamar-se Federico” revela cinema transgressor e imaginativo, apenas possível naquele país e época

Por Deni Rubbo, do Brasil de Fato/Outras Palavras

Para L.

Era improvável ocorrer algo de errado em Que estranho chamar-se Federico – Scola conta Fellini. Trata-se do novo filme de Ettore Scola, 82, um dos maiores cineastas italianos, que não filmava há mais de dez anos, mas definitivamente não se esqueceu de seu ofício. Pela peculiaridade da obra, do homenageado (Federico Fellini) e do homenageante, qualquer tentativa de chafurdar erros, equívocos, excessos, parecerá inútil e ingênuo. Por isso, nossa questão não diz respeito à qualidade do filme – se é “bom” ou “ruim” –, mas ao significado histórico dessas duas figuras canônicas do cinema italiano.

Antes de qualquer coisa, estamos diante de um filme que pede passagem para se sentar e evocar, com gentileza e doçura, emoções e memórias de duas trajetórias que se entrecruzaram na história social de seu país. Assim, não se trata apenas de uma (justa) homenagem a Fellini, mas de construiruma afinidade eletiva, profissional e afetiva que ligou diuturnamente dois mestres do cinema italiano. (mais…)

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Construção da identidade da criança negra em meio as relações de racismo na escola

crianças negras sorrindo
Foto: Alex E. Proimos/ Creative Commons.

Por Ana Carolina Reis, em Blogueiras Negras

Às vezes me pego recordando minha infância e chego a conclusão que minha vida escolar tinha tudo pra ser um tanto quanto traumática e logo penso como foi difícil ser negra dentro da escola. Um ambiente que não aceita diferenças, que o diferente é visto como desigual, em que eu era freqüentemente hostilizada pelas outras crianças. A exclusão era fato, xingamentos, apelidos, “musiquinhas” eram rotineiros. O cabelo? Esse era alvo fácil, era comum me chamarem de “cabelo ruim” “ neguinha do cabelo duro” “cabelo pixaim”.

Enfim, ir para escola se tornou um ato de coragem, principalmente porque toda essa minha dor era silenciada, quando percebi que reclamar para a professora não adiantava nada, só me restava então chorar para minha mãe em casa. Minha negritude ascende da parte do meu pai do qual eu nunca tive nenhum contato, a família toda por parte de mãe inclusive ela própria é branca. Nunca tive um referencial negro dentro de casa, melhor dizendo em lugar nenhum, todas minhas amigas do condomínio eram brancas dos cabelos mais lisos possíveis. Cresci assim, sempre cercada por pessoas brancas que eu considerava como ideal de beleza, os cabelos “perfeitos”, eram essas as pessoas mais bonitas.

Os anos se passaram e cursando pedagogia e estudando os fenômenos de racismo no âmbito escolar, percebo que isso não era apenas um drama particular mas sim de muitas crianças negras que sofrem as consequências desse racismo velado em nossas escolas. O racismo é um assunto instigante por natureza, e quando associado ao âmbito escolar, gera ainda mais questões que precisam ser esclarecidas. (mais…)

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“Você faz a Diferença” retrata racismo no ambiente escolar

racismo - menino negro com márcara branca

Dirigido por Miriam Chnaiderman, curta reúne depoimentos de alunos e professores sobre preconceito e a importância de refletir sobre as diferenças

Geledés

Educação é elemento básico para o desenvolvimento de qualquer pessoa e a escola desempenha um papel fundamental nesse processo. Contudo, o ambiente escolar não está livre das muitas “chagas” que assolam o convívio social. Uma delas  – talvez a que mais resista à emancipação do pensamento humano – é discriminação racial.

Um documentário produzido em 2005 buscou retratar as muitas facetas do preconceito no âmbito escolar. Intitulado “Você faz a Diferença”, o trabalho dirigido por Miriam Chnaiderman reuniu depoimentos de alunos, professores e pessoas que por conta de sua etnia ou condição social foram coagidas e humilhadas.

O doc pode ser assistido na íntegra: (mais…)

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No filme ‘Tarja Branca’, um corajoso elogio do brincar

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Documentário deixa latente a ideia de que a brincadeira está em perigo e de que é preciso recuperá-la, mas esquece-se talvez dos processos sociais por trás disso

Por Deni Rubbo, em Carta Capital

Ouça um bom conselho que vai de graça: hoje, amanhã, ou por esses dias, não se acanhe de selecionar a foto de que você mais gosta de quando era criança guardada na sala ou naquele armário empoeirado. Preferencialmente uma foto que vai rememorar aquela criança viva, ativa, sorridente, brincalhona, lúdica que você foi. Olhe para ela e faça as seguintes perguntas: Como ela está e por onde ela está? Caso não tiver coragem, não se preocupe, a foto perguntará para você. A possibilidade de nos assustarmos é altíssima. E de repensarmos algumas coisas também.

Esse sábio conselho aparece em um dos trechos do sensível e delicado documentário Tarja Branca – A Revolução que Faltava, dirigido por Cacau Rhoden. Produzido pela Maria Farinha Filmes, que possui em sua bagagem documentários sobre a infância como Muito Além do Peso(2012) e Criança, a Alma do Negócio (2008), ambos de Estela Rennel, Tarja Branca é um incrível manifesto pelo direito de brincar da criança. Isso mesmo. (mais…)

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MG – Suspeito de tentativa de homicídio em reserva indígena Xakriabá é procurado

Luto-300x225Fato ocorreu na aldeia Imbaúba em São João das Missões. Vítima foi atingida na barriga e nos braços

G1  Grande Minas

A Polícia Militar procura por um homem de 28 anos suspeito de tentativa de homicídio em uma reserva indígena xacriabá em São João das Missões, no Norte de Minas Gerais.

Segundo a esposa da vítima que foi alvo da tentativa, o fato aconteceu no último dia 17, na aldeia Imbaúba. Ela conta que eles ouviram um barulho no quintal de casa e quando o marido abriu a porta, levou um tiro de espingarda na região do abdômen e caiu ao solo. Ainda segundo a esposa da vítima, no momento do fato não foi possível ver quem seria o suspeito devido a escuridão do local.

A vítima foi socorrida por terceiros e levada consciente ao hospital da cidade de Manga, e depois transferido para Montes Claros onde foi submetida a cirurgia devido à gravidade da lesão. Foram constadas perfurações causadas na barriga e nos braços.

A polícia só tomou conhecimento do crime nesta sexta-feira (18) e iniciou os trabalhos de buscas ao suspeito. Testemunhas desconfiam que o suspeito seja o homem de 28 anos, uma vez que ele e outros dois sobrinhos já teriam ameaçado a vítima em outra ocasião.

 

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