Comissão da Verdade do Rio de Janeiro rejeita versão de militares

Desaparecidos políticos são exemplos citados pela Comissão (Foto: Tânia Rego/ABR)
Desaparecidos políticos são exemplos citados pela Comissão (Foto: Tânia Rego/ABR)

Grupo do Rio de Janeiro define como “afronta a inteligência e à história” negar que havia a prática de tortura dentro de instalações militares durante o período da ditadura no Brasil

Jornal de Hoje

A Comissão da Verdade do Rio de Janeiro considerou uma afronta à inteligência e à história do Brasil negar a existência de tortura e crimes dentro de instalações militares durante o regime militar. O protesto foi formalizado na última sexta-feira durante uma audiência da comissão regional, que apresentou um relatório parcial do primeiro ano de trabalho do grupo –que investiga os casos de violações aos direitos humanos durante o período da ditadura.

Criada em maio de 2013, a Comissão da Verdade do Rio criticou o documento divulgado pelas Forças Armadas no último dia 17 de junho. “O ministro da Defesa, Celso Amorim, comunicou que não há registros de tortura a presos políticos em instalações militares entre as décadas de 60 e 80 do século passado. O ministério levou três meses para responder à solicitação da CNV, aguardando investigações realizadas pelos comandantes do Exército, da Marina e da Força Aérea. A resposta de que não houve ‘desvio de finalidades’ no interior das instalações militares, constituiu uma afronta à inteligência e à história do país”.

Dois exemplos

Para demonstrar o que considera incoerência do documento do governo, a Comissão da Verdade do Rio mencionou, como exemplo, dois atestados de óbito que comprovariam a morte de militantes dentro de uma unidade do exército durante o regime militar.

Descobertos no Arquivo Público do Estado do Rio, os documentos trazem informações sobre as mortes dos estudantes Gerson Theodoro de Oliveira, 23, e Maurício Guilherme da Silveira, 21, que, no início da década de 70, faziam parte da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

Eles foram levados à Rua Barão de Mesquita, nº 425, no bairro da Tijuca, endereço que abrigou o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), divisão associada a uma série de denúncias de crimes e torturas.

A versão divulgada na época pelas autoridades relacionava a morte dos dois jovens a uma troca de tiros durante uma assalto na avenida Suburbana, zona norte do Rio. Segundo a Comissão do Rio, no entanto, os atestados de óbitos dos estudantes comprovariam que eles sequer foram levados ao hospital, como alegava o registro de ocorrência feito pelo Exército.

O presidente da Comissão da Verdade, Wadih Damous, informou que encaminhará toda a documentação disponível ao ministro da Defesa, Celso Amorim.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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