Coluna da Mara: “Os indígenas, outra vez”

Foto Histórica: o Abril Indígena toma o Plenário da Câmra contra a PEC 215. Foto: Gustavo Lima (Agência Câmara)
Foto Histórica: o Abril Indígena toma o Plenário da Câmara contra a PEC 215. Foto: Gustavo Lima (Agência Câmara)

Por Mara Paraguassu, em Tudo Rondônia

Depois do Abril Indígena, e agora com novas regras para a entrada na Câmara dos Deputados, que no início de setembro passou a limitar o número de pessoas que podem acessar plenários e galeria, indígenas de todo país de novo irão surpreender incrédulos deputados que saíram correndo ao ver os parentes seminus tomarem conta do plenário. De certo consideraram levar flechada ou ser atingido por algo mágico que, imaginaram, lhes tiraria o odioso – para nós, sociedade brasileira – foro privilegiado.

Foro privilegiado, aliás, que dá abrigo a 224 deputados e senadores, um recorde, segundo levantamento feito pelo Congresso em Foco, site especializado na cobertura do parlamento nacional e que produz o ranking desde 2004. Mas são os indígenas que motivam o rabiscado dessa semana, para a bancada ruralista privilegiados em porções de terra sem plantação, sem boi, sem exploração mineral, sem grandes madeireiras ou hidrelétricas. (mais…)

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Apoio de Carlos Frederico Marés à Mobilização Nacional Indígena

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Liana Amin Lima Guarani Kaiowá, com o seguinte comentário:

Prof. Dr. Carlos Marés manifesta seu apoio à Mobilização Nacional Indígena (30 de setembro a 05 de outubro) convocada pela APIB. Diante das investidas do Legislativo e do Executivo, com a PEC 215 e a Portaria 303 da AGU, afirma que “os índios têm toda razão para estarem preocupados e muita razão para grandes mobilizações” e que “a Constituição de 1988 garantiu os direitos, está bem garantido, não tem como dizer que os índios não têm direito às suas terras”.

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PA – Sacrificada em toras de madeira nobre, o capital leva a floresta rio abaixo no Arapiuns

balsa e desmatamento

Texto e fotos por Sílvia Teixeira*

Navegando pelo Rio Arapiuns em Santarém, após uma viagem de trabalho junto a uma comunidade de assentados na Gleba Nova Olinda I sobre Manejo Florestal Comunitário, vi estarrecida a realidade esmagadora das empresas madeireiras instaladas a margem desse rio.

Nosso barco pequenino foi quase esmagado pelas gigantescas balsas abarrotadas de nossas árvores. Algumas empresas como a Rondon Bel, Diniz e Mundo Verde já operam exterminando nossas florestas há pelo menos 12 anos; outras duas novas empresas já estão se instalando na mesma região, isso sem contar com as empresas mineradoras. (mais…)

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Carta da II Plenária da Articulação Popular São Francisco Vivo

Articulação São Francisco VivoA gente entende do São Francisco. Nós, 43 representantes dos Povos das Terras e das Águas do Velho Chico, passamos três dias reafirmando isso. Viemos das beiras dos rios dos cerrados, caatingas e veredas, das ilhas e barrancas, da roça e da cidade. Das Minas Gerais e da Bahia, de Pernambuco, de Sergipe e de Alagoas. Realizamos a II Plenária da Articulação Popular São Francisco Vivo, em Feira de Santana, na Bahia, de 27 a 29 de setembro de 2013.  A memória saudosa do fotógrafo João Zinclar e do líder quilombola Elson Ribeiro Borges nos animou ao compromisso fiel.

Nos locais onde vivemos, todos os dias, enxergamos o nosso povo a entranhar-se neste Vale como água. Correndo para o grande rio, como o São Francisco corre para o mar, com esperança de vida. Como árvore, vai em busca das raízes, a nutrir identidade e frutificar.

O que as ciências têm dito da situação do rio nos deixa alarmados. Dizem que ele está condenado e em 30 anos passará a ser intermitente. Nossos olhos comprovam, vemos menos água e mais areia. Hoje são as “croas” que traçam o desenho do rio assoreado. Ele está cada dia mais raso, coado, fraco, agrotóxicos e metais pesados no lugar de peixes. A cada dia exige mais esforço da gente pra dar conta do viver dependente de sua natureza degradada. A cada dia também nos cobra mais determinação na luta em sua defesa, a dar o grito por ele. (mais…)

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MT – Incêndio na Reserva Indígena dos Areões põe em risco [seus habitantes e] quem trafega pela BR 158

incendio areãoCircuito MT – “Um incêndio de grandes proporções se alastra pela Reserva Indígena Areões, no município de Nova Nazaré, na altura do quilômetro 600, próximo a agrovila do projeto de Assentamento Santa Maria em Água Boa (730 km de Cuiabá).

O fogo se alastra rapidamente em razão da forte seca que assola a região e a baixa intensidade do ar, consumindo uma grande área da reserva, estimada[-]se que já tenha queimado mais 1.000ha de cerrado na reserva, além de ter[-]se alastrado para as fazendas vizinhas. Não foi encontrado no local ou na região onde o fogo se alastra nenhuma equipe de combate a incêndios.

A fumaça cobre a visibilidade na rodovia BR 158, dificultando o tráfego e pondo em risco a vida das pessoas que trafegam pelo local.

Segundo informações repassadas ao site por índios xavantes encontrados ao longo da rodovia, colocar fogo na vegetação nativa [,] é uma tradição dos índios xavantes, pois [,] com o fogo os bichos ficam cercados facilitando a caça. No entanto, os índios negaram que tenham sido eles que atearam o fogo, [im]pondo a culpa a empresa que faz manutenção nas margens da rodovia, que, para limpar os matos na beirada da estrada, colocaram fogo e este escapou para o cerrado, tornando impossível controlar o incêndio”.

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“Retiros e tiros no Araguaia: conflito em Luciara”

Casa de retireiro foi queimada em Luciara em conflito por terras da União. Foto: Associação dos Retireiros do Araguaia
Casa  de retiro de Ruben Sales, queimada em Luciara em conflito por terras da União. Foto: Associação dos Retireiros do Araguaia

Por Antonio João Castrillon Fernández*

Ensina-se nas escolas, divulga-se na imprensa, diz-se nas conversas, que Mato Grosso é o produto bem ou mal sucedido de um longo processo de colonização. Ouvimos e lemos que, no período mais recente (segunda metade do século XX para aos dias atuais), empresas, famílias, bancos e tantas outras instituições subiram ao médio norte do estado, migraram do sul para o norte, para trazer o progresso, que é medido por tamanho de área cultivada, sacos colhidos, bois criados, potência de tratores e número de linhas das plantadeiras e colhedeiras.

Essa história, por um lapso de memória, creio eu, pois ela não é mentirosa, assim dizem, esqueceu de dizer, de fazer ouvir, de escrever, de fazer ler, que este mesmo estado foi construído por outros processos de ocupação, que não ouso dizer colonização, pois não queria negar a história de outros, apenas fazer a sua própria. Ao longo do século XX, trabalhadores, famílias, grupos de famílias, comunidades, povos indígenas, por um caminho inverso, agora do norte para o sul, também migraram para Mato Grosso. Não trouxeram consigo bancos, escolas, instituições de pesquisa, não porque não queriam apenas por que não os tinham. Vieram ao encontro de novos territórios, de novas possibilidades, em que pudessem se estabelecer, produzir e garantir a vida de suas famílias. Chegaram primeiro. Estabeleceram-se. Produziram. Ensinaram. Formaram territórios. Criaram tradição – São Retireiros! São Povos Indígenas! São Quilombolas! São Ribeirinhos! São Extrativistas! São Camponeses! São Posseiros! São Tantos Outros que os nossos olhos, nossos ouvidos ainda não aprenderam a ver e ouvir. (mais…)

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Nota da Equipe do Projeto Nova Cartografia Social – Núcleo MT: “Violência impede realização de Oficina de Mapas com os Retireiros do Araguaia”

Garrafa pet com vestígios do combustível usado para incendiar a casa
Garrafa pet com vestígios do combustível usado para incendiar a casa do retiro de Ruben Sales, Presidente da Associação dos Retireiros do Araguaia

“No dia 19 de setembro de 2013, equipe do projeto Nova Cartografia Social da Amazônia, núcleo Mato Grosso, deslocou para o município de Luciara (MT) com o objetivo de realizar Oficina de Cartografia Social com os Retireiros do Araguaia. Aproximadamente às 9:00 horas, a equipe deparou com o bloqueio da estrada (MT 100), impedindo o acesso à sede do município.

A equipe foi abordada por dois homens que estavam à frente do bloqueio. Após inquirirem sobre os motivos da viagem, afirmaram que a presença dos pesquisadores já estava sendo esperada e que não iriam permitir a entrada no município para a realização dos trabalhos. Recomendaram, sob ameaças, a volta da equipe, e que seria melhor para a preservação das nossas vidas não mais retornar ao município. O carro utilizado pela equipe foi seguido, a certa distância, por uma caminhonete, até a localidade denominada Alto da Boa Vista. (mais…)

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Na França, o cacique Afukaka, da tribo Kuikuro, consegue apoio da sociedade civil francesa e internacional

Cacique Afukaka Kuikiro, em foto de Sebastião Salgado
Cacique Afukaka Kuikiro, em foto de Sebastião Salgado

Ameaça sobre os povos indígenas e sobre a Amazônia: enquanto os movimentos indígenas se mobilizam em Brasilia, o cacique Afukaka, da tribo Kuikuro, está procurando apoio da sociedade civil francesa

Texto traduzido por Stéphan Bry

A maior manifestação indígena no Brasil, pela primeira vez num movimento unitário, ocorrerá do dia 30 de setembro até o dia 5 de outubro , em Brasilia, São Paulo, Belém e Rio Branco. Convocada pela APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), ela responde aos ataques generalizados sofridos pelos povos a respeito de seus direitos territoriais e articulados pelo lobby das grandes empresas e do latifúndio, a bancada ruralista.

Este movimento está sendo apoiado por organizações internacionais dos direitos humanos e de proteção ambiental, articuladas em Paris pelo cacique Afukaka Kuikiro. (mais…)

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Mobilização Nacional Indígena

“Em 1988 os Mebengokrê, também conhecidos como Kayapó, em parceria com lideranças indígenas de diversas etnias foram a Brasília lutar pela garantia de seu direitos na Constituição Federal. O artigo 225 garante que um meio ambiente equilibrado é direito de todo cidadão, indígena ou não indígena. De certa forma, se reconhece que o índio utiliza a sua terra de forma sustentável, sem destruir as matas os rios.

A civilização indígena brasileira tem preservado e continua a preservar o meio ambiente até hoje. A biodiversidade da floresta e seu potencial farmacológico está lá ainda hoje graças aos indígenas. O regime de chuvas, a qualidade e quantidade das águas tão importantes para consumo das populações urbanas e essencial para produção de energia hidroelétrica. O volume de água está diminuindo. Preservar o direito do índio sobre sua terra é também preservar e proteger a vegetação riparia, mananciais e as nascentes. (mais…)

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Antônio Canuto: “Relato de um companheiro histórico de Veva sobre o seu funeral”

veva

“Os Apyãwa fizeram questão de sepultá-la, segundo seus costumes, como se mais uma Apyãwa tivesse morrido. Os cantos fúnebres, ritmados com os passos se prolongaram por muito tempo… Segundo o ritual Apyãwa, Genoveva foi enterrada dentro da casa onde morava”. Antônio Canuto, secretário da coordenação nacional da CPT, membro e fundador da Pastoral, viveu muitos anos no Mato Grosso, próximo a Veva e a Dom Pedro Casaldáilga. Ele traz o relato emocionado do funeral de Veva, a Irmã Genoveva, que viveu 60 anos com os Tapirapé, ou melhor, com os Apyãwa, como eles se autodenominam. Confira:

 Por Antônio Canuto, em CPT

Cheguei hoje às 6h00 da manhã em Goiânia, vindo lá da aldeia Urubu Branco, onde estive para os funerais de Irmãzinha Genoveva. Queria partilhar um pouquinho com vocês do que vi e vivi. (mais…)

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