PA – Sacrificada em toras de madeira nobre, o capital leva a floresta rio abaixo no Arapiuns

balsa e desmatamento

Texto e fotos por Sílvia Teixeira*

Navegando pelo Rio Arapiuns em Santarém, após uma viagem de trabalho junto a uma comunidade de assentados na Gleba Nova Olinda I sobre Manejo Florestal Comunitário, vi estarrecida a realidade esmagadora das empresas madeireiras instaladas a margem desse rio.

Nosso barco pequenino foi quase esmagado pelas gigantescas balsas abarrotadas de nossas árvores. Algumas empresas como a Rondon Bel, Diniz e Mundo Verde já operam exterminando nossas florestas há pelo menos 12 anos; outras duas novas empresas já estão se instalando na mesma região, isso sem contar com as empresas mineradoras.

Uma das fotos mostra uma grande quantidade de toras que antes estavam escondidas, agora atrás da rala vegetação; outra mostra claramente que muitas das toras que estavam na balsa têm diâmetro menor do que o estipulado para corte pela legislação ambiental; em outra foto você vê o desembarque de maquinário pesado para a extração da madeira, já que as empresas precisam correr contra o tempo, pois quando baixa o nível do rio fica inviável a navegação das balsas por ele, então eles precisam tirar o máximo que for possível.

Percebi ali um grande numero de Jatobá, Guaruba, Ipê e ouvi inclusive dos moradores que muitas Castanheiras que dizem “ser protegida pela lei ambiental” também estão sendo extraídas de lá.

balsa e caminhões e tratores

À noite o rio mas parece uma rodovia, com o trafego intenso das balsas, já que a fiscalização precária não existe e, se existe, por que ainda presenciamos esse quadro desolador? A resposta não é difícil de se imaginar…

O destino das cargas? Belém do Pará. Cada imagem me dava um nó no peito uma dor insuportável pela incapacidade de se ter uma luta justa contra o sistema ambicioso das madeireiras e o vergonhoso consentimento do poder público.

Pensei naquela comunidade em que realizei o trabalho de MFC com suas menas de 80 famílias esquecidas do interesse público e que estão no arco de expansão dessas madeireiras e mineradoras; pensei que para eles a lei limita o uso de 10³ de madeira para um ciclo de corte de 10 anos, enquanto que para as madeireiras o privilégio é que em cada balsa leva entre 800 e 900³ de toras, isso em cada viagem! O frete de cada balsa sai a um custo de 18.000 reais, e por ai você pode imaginar que isso para eles não é nada, ante o que eles lucram com nossas pobres madeiras.

balsas sendo carregadas

Olhei do barco as APPs tristemente desnudas de sua vegetação para darem lugar aos ramais de escoamento e estocagem das madeireiras… É sentir uma tristeza imensa ver tanta árvore mutilada, transformada, agora sem vida, e muitos não percebem que estamos morrendo com elas.

Senti vergonha dessa país que cria programas ineficientes e de fachada para a “manutenção da floresta” que deveria ser de pé, mas só a vi deitada…

Assassinos vestidos da roupa da troca de interesses!

Assassinos das comunidades tradicionais, quilombolas, assentados que não têm direito nem mesmo a terra!

Assassinos de nossas próprias vidas!

Assassinos que violam o direito a existência das florestas!

Deixem nossas Marias madeiras em paz!

balsa carregada navegando

*Silvia Teixeira é Técnica da Fase.

A denúncia foi enviada para Combate Racismo Ambiental por Vânia Carvalho.

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