Elaíze Farias: Índios do sul do AM dizem que profissionais de saúde não querem ir nas aldeias e denunciam avanço de mortalidade infantil

Indígenas participam de reunião sobre saúde indígena em Lábrea. Foto: Focimp
Indígenas participam de reunião sobre saúde indígena em Lábrea. Foto: Focimp

Apesar da existência de uma boa equipe de profissionais de saúde (enfermeiros, dentistas e médicos), indígenas da região do médio rio Purus, no Amazonas, não estão recebendo atendimento em suas aldeias.

Segundo o cacique José Raimundo Lima, mais conhecido como Zé Bajaga, os índios são obrigados a se deslocar até as sedes dos municípios, pois os profissionais de saúde não querem ir nas aldeias. Bajaga é presidente da Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (Focimp).

Em entrevista dada nesta quarta-feira (26), ele contou que a coordenação do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do Médio Purus também não atua para que os médicos e dentistas façam seus trabalhos junto aos índios nas áreas.

O Dsei do Médio Purus é responsável por polos base de 96 comunidades de 15 povos indígenas, entre eles os apurinã, os paumari, os deni, os jamamadi, os mamuri e os karipuna nos municípios de Lábrea, Tapauá e Canutama, no sul do Estado do Amazonas.

A falta de atenção médica também provocou aumento de mortalidade infantil nas aldeias indígenas desde o início de 2013, segundo Bajaga. As crianças estão morrendo de febre, vômito, diarreia e malária.

“Só em Tapauá morreram quatro crianças de uma vez. Uma morreu na beira d´água enquanto esperava atendimento que chegou atrasado”, disse Bajaga.

Nesta terça-feira (25), Zé Bajaga “invadiu” a sede do Dsei do Médio Purus, “com raiva” (palavras dele) e revoltado com o que considera descaso e falta de diálogo por parte da chefe do órgão, identificada apenas como Fátima.

“Ela não recebe as pessoas, diz que não quer se expor e nem participa das nossas reuniões. Na verdade, ela não faz nada. Deveria dar assistência para as aldeias. O Dsei até que tem bastante enfermeiros. Há cinco dentistas e médicos, mas ninguém quer ir até as comunidades. Ela não coloca os profissionais para viajar. Os índios têm que sair de suas aldeias para receber atendimento médico e isto nem sempre é possível tendo em vista o tempo que se leva pra isso”, disse.

Sobre a atitude radical tomada nesta terça-feira, Zé Bajaga explicou que não foi exatamente uma invasão. “Eu entrei lá e fui recebido por uma testa de ferro. Bati na mesa, mas não quebrei nada. Hoje (26) recebi uma intimação para ir até a delegacia. Fui acusado de quebrar computador e uma mesa, mas não é verdade isso. O delegado ameaçou me prender caso eu faça mais manifestação ou protesto”, disse.

Apesar da ameaça de prisão, Zé Bajaga disse que não vai desistir de denunciar. Ele já pensa até em mobilizar os indígenas para novos protestos.

Elaíze Farias – Povos Indígenas, Comunidades Tradicionais e Questões Amazônicas.

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