Safatle: juventude perdeu o medo do capitalismo

Imagem: Racalavaca (flickr)
Imagem: Racalavaca (flickr)

Por Vladimir Safatle, em entrevista a Beatriz Macruz, Guilherme Zocchio e Rute Pina*

Que caracteriza o comportamento da geração que, ao chegar à faixa dos vinte anos, começa a sondar seus papéis políticos? Por que ela não adere a hábitos valorizados no passado, como o engajamento num partido ou a leitura de um jornal diário? Como expressa seus desejos de transformação, que parecem desdobrar-se em múltiplas causas e campanhas, às vezes fragmentadas? Que atitudes assumirá, no futuro próximo?

O filósofo Vladimir Safatle é um dos que têm dedicado parte de seu tempo a refletir sobre estas questões. Conhecido de muitos pelas colunas que publica em “Carta Capital” e “Folha de S.Paulo”, ele é, muito mais que isso, um estudioso profundo da herança (e presença…) da ditadura brasileira; e um pensador que, à maneira de Slavoj Zizek, procura articular marxismo renovado com teoria psicanalítica. (mais…)

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“Fala anti-indígena de ministro é licença para matar”

Documentário "As Hiper Mulheres" estréia nesse sábado em São Paulo
Documentário “As Hiper Mulheres” estréia nesse sábado em São Paulo

É o que diz o antropólogo Carlos Fausto, diretor do filme As Hiper Mulheres, que estreia neste sábado, em São Paulo

Por Felipe Milanez, em Carta Capital

A política é feita de atos, gestos, retóricas, falas. Por isso que, na situação atual da crise indígena, a política anti-indígena não é feita apenas pela não demarcação das suas terras tradicionais, ou pela construção de grandes obras dentro de seus territórios sem que sejam, ao menos, consultados. Tem sido feita também de falas agressivas contra os índios até pelo primeiro escalão do governo. E palavras ganham dimensão no espaço. Como diz o antropólogo Carlos Fausto, na entrevista que segue: “Uma palavra anti-indígena de um ministro é entendida nos locais de conflito como uma licença para matar.”

Fausto dirigiu com Leonardo Sette e com Takumã Kuikuro o filme “As Hiper Mulheres”, um documentário extraordinário sobre um dos mais belos, e complexos, rituais dos povos indígenas do Xingu, o Jamurikumalu. Mas o filme é muito mais do que um documentário etnográfico. Trata-se de um musical, sensorial e envolvente. Ganhador de diversos prêmios nacionais e internacionais, entre eles o Prêmio Especial do Juri e Melhor Montagem no Festival de Cinema de Gramado, Melhor som no Festival de Brasília, Troféu Imprensa e Prêmio do Público no FICA – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental – e o Prêmio Al Jazeera para Documentário Vancouver Latin American Film Festival 2012, As Hiper Mulheres já está em cartaz no Rio e em Belo Horizonte. (mais…)

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“Sobre os Protestos”

foto tsunami A Época Folhetinesca, via Viomundo

O tempo de explicações passou. Não há mais espaço para responder sobre os motivos dos protestos que se espalham pelo país. Não há mais tempo para tentar esclarecer que alguns centavos não são apenas alguns centavos, que o aumento de passagens é mais que o aumento de passagens, que árvores não são apenas árvores e que um tatu de plástico, embora seja apenas um tatu de plástico, é bem mais do que um tatu de plástico.

Passou a época em que fazia sentido dizer que um vidro quebrado não é obra de milhares ao mesmo tempo, e não cabe mais argumentar para explicar que a violência da Brigada, por vir diretamente do Estado, é sempre mais grave, mais preocupante e terrível do que milhares eventuais atos de vandalismo, baderna, desordem e outros chavões do tipo. Não é mais tempo dessas coisas. Simplesmente porque o tempo acabou.

Acredito que, a partir de agora, quem ainda não tinha entendido vai ter que dar um jeito de entender. Vai ter que olhar as fotos de jornalistas com olhos estourados por bala de borracha ou levando spray de pimenta no rosto em pleno exercício profissional e formar uma opinião sobre isso. Vai ter que olhar imagens de pessoas de joelhos, mãos para cima, levando bala de borracha e bomba de gás e pensar um pouco a respeito. (mais…)

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Por gentileza: tirem Geraldo Alckmin do poder

Tropa de Choque na Augusta, pouco antes de atirar balas e bombas sobre passantes
Tropa de Choque na Augusta, pouco antes de atirar balas e bombas sobre passantes

Por Ronaldo Bressane, em Impostor*

— Por gentileza, meu querido, o senhor poderia atravessar a via? Obrigado.

Na hora acusei o baque. Aquele policial militar me chamava de “meu querido”, pedia “por gentileza” e ainda agradecia. Parei no meio da travessia da Haddock Lobo esquina com Paulista e olhei para o policial militar. Usava colete verde-limão, portava um fuzil de balas de borracha, estava armado com cassetete, revólver e talvez uma bomba de gás lacrimogêneo. Era alto, magro, muito negro e muito jovem. Parecia cansado; tinha os olhos vermelhos fixos em mim. Eram 23h15 de quinta-feira 13 de junho, e os protestos contra o aumento das passagens de ônibus haviam começado às 17h. Talvez ele estivesse trabalhando desde então. Talvez estivesse trabalhando desde manhã. Talvez, se fizesse bicos como a maioria dos policiais militares fazem, poderia ter trabalhado de madrugada como segurança, leão-de-chácara, capanga ou assassino de uma milícia. Ou talvez tivesse acabado de chegar e fizesse parte do destacamento dos policiais gentis. Aqueles que chegam depois da guerra, limpam as feridas, carregam os mortos. Aqueles que surgem com flores depois da pólvora apenas para nos deixar com uma boa impressão, com a impressão de que não foi bem assim. (mais…)

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Copa pode provocar despejo de 250 mil pessoas, afirmam ONGs

Um mapeamento divulgado na Suíça pela Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop) em parceria com a ONG Conectas no final de maio calcula que 250 mil pessoas correm o risco de serem despejadas de suas casas por causa de obras para os preparativos da Copa em todo o Brasil

BBC Brasil

A articulação reúne comitês nas 12 cidades-sede da Copa, que por sua vez agregam movimentos sociais, universidades e entidades de sociedade civil que lutam contra as violação de direitos humanos decorrentes da realização da Copa e da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016.

Não existe uma estimativa oficial sobre o número de despejados por causa do mundial. Uma estimativa anterior contabilizava 170 mil pessoas que corriam o risco de ter de deixar suas casas.

Segundo a representante da Ancop Larissa Araújo, foram somadas as famílias atingidas por obras, outras ameaçadas de remoção e as que residem em áreas em disputa. Os números foram compilados a partir de dados recolhidos por ativistas nas 12 cidades-sede. (mais…)

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Nota de protesto contra o racismo praticado contra Quilombolas e Indígenas no sul do país

CIMI – O Rio Grande do Sul amanheceu (no dia 13 de junho) com as informações de que 23 jovens foram presos durante as manifestações em defesa do Transporte Público em Porto Alegre e de que “pequenos agricultores” bloqueariam rodovias no sul do país para protestar contra demarcações de terras quilombolas e indígenas. Os bloqueios efetivamente ocorreram no Litoral Norte, BR-101, município de Maquine, na região Norte do estado, BR-285, município de Getúlio Vargas e em outras quatro rodovias federais e estaduais.

As manifestações desencadeadas em sete capitais por transporte público eficiente e de qualidade foram apresentadas como ações de vandalismo pela grande mídia. No entanto, as cenas de truculência e vandalismos demonstram de forma explícita que a Polícia Militar as praticou para defender e garantir a sanha de lucros dos empresários dos transportes públicos. Centenas de pessoas que protestavam foram agredidas e presas. O transporte público, em todo o país, é caro e de baixa qualidade, em função disso os protestos se avolumam pelo Brasil.

As manifestações dos agricultores, patrocinadas pelos setores do agronegócio, têm como objetivo pressionar as autoridades para que estas não demarquem terras quilombolas e indígenas, desrespeitando com isso, preceitos constitucionais. Seus protestos têm as mesmas características dos demais setores da sociedade, no entanto contam com o aval e complacência dos poderes públicos. (mais…)

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Nota de apoio e solidariedade do MAB ao CIMI

Coordenação Nacional do MAB

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) manifesta solidariedade à luta e causa indígena, ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e suas lideranças, em especial neste momento em que vem sendo acusado de insuflar a luta justa e legítima dos povos indígenas pela demarcação de suas terras e defesa de seus territórios.

Sabemos que os ataques partem de deputados ligados à bancada ruralista, de setores conservadores do governo federal e de latifundiários do agronegócio com o único objetivo de difamar a seriedade desta entidade, desestimular e intimidar a luta indígena.

Os grupos que atacam o CIMI e a luta e resistência dos indígenas são os mesmos que se apropriam de nossos territórios através de empresas do setor elétrico, mineradoras e grandes corporações ligadas ao agronegócio. São estes os que buscam retirar direitos indígenas incorporados na Constituição de 1988 e conquistados através de muitas lutas, pela atuação de organizações populares como o CIMI e tantas outras. (mais…)

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