Sabedoria e pés no chão: “Índios vão precisar mais do que novas reservas para viver com dignidade, dizem líderes”

Por mais que comemoremos como uma vitória (e ela o é) a criação, ontem,  da TI Iguatemipegua I, todos sabemos que os Guarani Kaiowá receberão uma terra arrasada, usada por décadas como pasto ou como monocultura, contaminada por agrotóxicos. Como está muito bem descrito no Resumo que hoje publicamos na íntegra, a floresta, os rios, os animais, os peixes, tudo foi destruído. Trazer de volta a riqueza da mata com suas plantas medicinais, seus frutos, córregos e animais não será trabalho para sequer uma geração. E isso sem falar na desintrusão. E os governos que permitiram que o território indígena fosse tomado e violentado têm obrigação, agora, de viabilizar a reversão desse processo. Tania Pacheco.

Alex Rodrigues, Enviado Especial

Dourados (MS) – A identificação e demarcação de novas reservas não bastam para garantir que os índios possam viver com dignidade, produzindo seus próprios alimentos e preservando seus hábitos e costumes. A opinião é dos líderes indígenas Ládio Veron e Otoniel Ricardo, ambos de Mato Grosso do Sul.

Para Ládio Veron, filho do cacique guarani kaiowá Marcos Veron, assassinado em janeiro de 2003, em Juti (MS), a União também tem que dar apoio técnico, financeiro e assistencial às comunidades indígenas pelo tempo que for necessário, até que suas terras recuperem a produtividade e os índios possam se manter por conta própria.

“Pelo grau de devastação, nós vamos receber uma terra nua [sem floresta] em que vamos ter que trabalhar muito para reflorestar. Então, também é preciso projetos de reflorestamento, projetos para que essas áreas se tornem sustentáveis. Para isso, os índios precisam de dinheiro”, afirmou Veron à Agência Brasil e à TV Brasil. De acordo com Veron, a demora da União para demarcar as terras indígenas tem alimentado o conflito com produtores rurais, causando a morte de vários índios.

“A gente está cansado. Chega de falar. A solução é as autoridades demarcarem nossas terras e oficializarem toda a documentação. A gente já sofreu muito. Perdemos várias lideranças, inclusive o nosso cacique, meu pai, Marcos Veron, que foi morto na minha frente, enquanto eu era ameaçado de ser queimado vivo”, acrescentou Veron.

Outro a fazer semelhante alerta é o ex-vereador de Caarapó (MS), Otoniel Ricardo, da aldeia guarani kaiowá Te’yikue. Para ele, o nível de comprometimento dos recursos naturais antes existentes nos chamados territórios tradicionais indígenas é tão drástico que, além da terra, os índios precisam de apoio governamental para conseguir, por exemplo, reflorestar a maioria das áreas reconhecidas.

“Não basta demarcar. Precisa de um projeto político para fortalecer nossa autonomia e sustentabilidade. Sempre fomos produtores, artesãos, mas hoje não temos nada e, nessas terras do jeito como estão, não há como caçarmos ou plantarmos”, diz Ricardo, se referindo à maior parte das terras que os índios reivindicam no Mato Grosso do Sul, hoje ocupadas por grandes plantações de soja, cana-de-açúcar ou pelo gado.

Ricardo acredita que a proposta, em estudo, de que os fazendeiros que compraram terras legalmente no estado e que estão devidamente regularizados sejam integralmente indenizados – ou seja, recebam não só pelas benfeitorias, conforme prevê a Constituição Federal, mas também pela terra nua – é uma forma de tentar resolver o conflito entre índios e produtores rurais.

“A violência [no estado] é muito grande devido à [luta pela] demarcação de terras [indígenas]. Nós, indígenas, queremos nosso tekoha [território sagrado], não queremos mais sofrer ameaças, ver nossas crianças desnutridas, sem acesso a educação adequada. Enquanto isso, o outro lado, os produtores, também querem uma solução. A partir do momento em que demarcarem as terras, o progresso vai ser maior para todos, porque tanto nosso povo como o outro lado vão estar [juridicamente] seguros”, concluiu Ricardo.

Edição: Tereza Barbosa

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-01-08/indios-vao-precisar-mais-do-que-novas-reservas-para-viver-com-dignidade-dizem-lideres

Comments (1)

  1. VITÓRIA! Vou espalha essa notícia com muita alegria, os índios da Aldeia Maracanã irão ficar muito contente, é preciso ainda muito trabalho para a terra ser como era antes.

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