Casos de racismo no futebol são discutidos em audiência pública da Câmara dos Deputados

"Com as mesmas ferramentas que usam para divulgar as deliberações do time aos seus associados, os clubes podem dar grande repercussão a uma campanha contra o racismo", declarou o assessor da SEPPIR
“Com as mesmas ferramentas que usam para divulgar as deliberações do time aos seus associados, os clubes podem dar grande repercussão a uma campanha contra o racismo”, declarou o assessor da SEPPIR

O evento ocorreu na última quarta-feira (19), na Comissão do Esporte, com o objetivo de debater episódios que tuiveram grande repercussão na mídia nacional e internacional nos primeiros dias do ano

SEPPIR – Com a finalidade de debater os recentes casos de racismo no futebol brasileiro, foi realizada audiência pública na última quarta-feira (19), na Câmara dos Deputados, em Brasília-DF. Promovida pela Comissão do Esporte, a atividade teve a participação do assessor Especial da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República – SEPPIR/PR, Edson Cardoso.

“Para jogar bola, a população negra teve que lutar muito, mas conseguimos vitórias e um patrimônio extraordinário”, ressaltou Cardoso durante sua apresentação. Ao falar sobre o contexto histórico brasileiro, o assessor citou nomes de destaque como Leônidas da Silva, atleta afro-brasileiro que integrou a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1938, e que exemplifica as conquistas no âmbito dos esportes. “Estamos falando de uma época na qual imperava os ideais de superioridade ariana”, acrescentou.

Na ocasião, o assessor afirmou que no futebol foram alcançados princípios de igualdade e respeito que precisam ser ensinados ao país. “Em outras áreas, continuamos encontrando dificuldades de romper com a hierarquização da diversidade, em que por associar a aparência a valores, a gente tem dificuldade de incorporar talentos e vocações para realizar o que precisa ser realizado”, disse.

Além do gestor da SEPPIR, compuseram a mesa o presidente e o vice-presidente da Comissão, deputados Damião Feliciano (PDT-PB) e Afonso Hamm (PP-RS), respectivamente; a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – SDH/PR, Maria do Rosário; o integrante da Comissão de Direito Desportivo da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, Ronaldo Tolentino; e o presidente da Comissão Estadual de Arbitragem de Futebol da Federação Paulista de Futebol (Ceaf/FPF), Marcos Cabral.

Racismo na atualidade
Com relação aos episódios recentes de racismo repercutidos pela mídia nacional e internacional, entre eles as ofensas racistas contra os jogadores Tinga, do Cruzeiro, Arouca, do Santos, e o árbitro Márcio Chagas da Silva, da Federação Gaúcha de Futebol, o assesor afirmou: “Tem racismo no futebol, mas não é na mesma intensidade que em outras áreas. Não quero dizer que não há racismo no futebol. Quero dizer que rompemos com a segregação e com as barreiras, quando comparamos com outros setores da sociedade. Porém, devemos aproveitar esses fatos de discriminação para realizar uma campanha contra o racismo”, sugere.

Nesse contexto, Cardoso cita a proximidade da Copa do Mundo como um fator relevante, a partir da possibilidade de estabelecer cooperações. “Nesse período, os anúncios publicitários tem como referência o futebol. Podemos aproveitar isso e mobilizar agentes parceiros, seja a indústria, comércio, órgãos governamentais”. O assessor ressaltou, ainda, que o âmbito das parcerias pode estender-se às redes sociais, torpedos enviados pelas organizações e demais meios de comunicação.

Copa sem Racismo
Em continuidade aos diálogos, a ministra Maria do Rosário deu destaque ao lema “Copa sem Racismo”, conforme orientação da presidenta Dilma Rousseff. “Se queremos enfrentar as práticas racistas no esporte, devemos combatê-las também em toda a sociedade brasileira”, afirmou a titular da SDH.

Para Rosário, as manifestações racistas nos estádios são consequência dos conceitos discriminatórios inseridos nas instituições e indivíduos. Dessa forma, ela ressaltou a importância de desconstruir as bases do racismo, que são “culturais, econômicas, sociais”.

Durante a audiência pública, a ministra anunciou que o governo federal vai promover campanhas antirracistas, com ênfase na internet. Segundo ela, este vem sendo o “campo do vale-tudo”, no qual são presenciadas incitações ao racismo e demais formas de preconceito.

Lei Geral da Copa
Citada pelos deputados Damião Feliciano (PDT-PB) e Afonso Hamm (PP-RS), a Lei Geral da Copa define as regras do Mundial e prevê acordos do poder público com a Federação Internacional de Futebol (Fifa), no que se refere à divulgação de campanhas de temas sociais, dentre os quais o combate ao racismo.

Aplicabilidade da lei
Com referência à legislação, Ricardo Tolentino, destacou que o país possui leis suficientes, porém “falta dar efetividade a elas”. O representante da OAB chamou a atenção para as normas mais importantes, como a chamada Lei Caó (7.437/85), o Estatuto do Torcedor (Lei 10.671/03) e o Código Brasileiro de Justiça Desportiva.

Na ocasião, Tolentino destacou a importância de identificar os torcedores que cometem atos racistas, com consequente responsabilização. Para o representante do Judiciário, as penas aplicadas devem ser rigorosas.

“Com o uso de imagens, teremos a condição de fazer a identificação e responsabilização dos autores”, concluiu, ao defender a necessidade de inserir câmeras em todos os estádios de futebol.

Campanhas estaduais

O representante da Federação Paulista de Futebol, Marcos Cabral, informou as ações realizadas pela entidade no combate ao racismo. Entre elas, a campanha “Racismo, aqui não!”, realizada desde 2006, que tem por objetivo “conscientizar atletas e torcedores de que a  discriminação racial manifestada por atos ou palavras deve contar com o repúdio de todos que lutam por um país melhor”.

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