Em presídio maranhense, não é garantia o apenado se abrigar no Primeiro Comando, ‘40 Ladrão’ ou Anjos da Morte: basta um zum-zum para ele se ver sob os chuços da facção inimiga
Por Mônica Manir, no Estadão
SÃO LUÍS, MA – Lohanny, de 1 ano e meio, arrancava pela segunda vez a atadura que envolvia a mãozinha queimada; sua mãe passava por uma cirurgia de enxerto de pele em outro hospital; seu pai, Jadson, buscava informações sobre a esposa; sua irmã por parte de mãe, Ana Clara, chegava ao velório num caixão branco; e não muito longe dali o pai de Ana Clara, Wenderson, enterrava o próprio avô, vítima de enfarte ao saber da tragédia que atingira as duas famílias. Os Santos e os Sousas estavam aturdidos. Tomavam o velório e o cemitério pedindo bênção aos mais velhos e se abraçando em desalento, perguntando para onde vai o mundo quando jovens atiram gasolina em crianças e ateiam fogo em seguida, saindo pela porta da frente de um ônibus em chamas.
Era a tarde de segunda-feira, três dias depois da “queimação” em São Luís. O advogado Luis Antonio Pedrosa caminhava com o ouvido grudado ao celular. Do outro lado da linha a irmã de um apenado rogava pela transferência do parente para a Cadet, a Casa de Detenção. Ali 9 foram mortos e 20 ficaram feridos numa rebelião em outubro. Mas a irmã insistia que o irmão estaria mais protegido em uma cadeia dominada pelo Primeiro Comando do Maranhão e não pelo Bonde dos 40. Pedrosa tentava explicar que não era simples assim: “Um agente penitenciário, um monitor ou outro preso pode espalhar o boato de que o moço é, sim, do Bonde”, me diz. “Num dia em que vai pegar sol no pátio, matam ele. Não tem segurança nenhuma, não tem como se agarrar a nada.” (mais…)