MG – Militante do movimento denuncia que está sendo vigiada pela polícia

Nesta quarta-feira (19), mais de 10 mil pessoas saíram às ruas de Belo Horizonte
Nesta quarta-feira (19), mais de 10 mil pessoas saíram às ruas de Belo Horizonte

Thaís Mota – Hoje em Dia

Uma militante do movimento que ocupou as ruas de Belo Horizonte nos últimos dias denunciou com exclusividade ao Hoje em Dia que está sendo monitorada e perseguida pela polícia. Segundo Gabi Santos, de 27 anos, após o ato realizado na última terça-feira (18), ela e outros integrantes do movimento foram seguidos por quatro homens quando voltavam pra casa. “Um deles conseguimos identificar, que estava presente na assembleia organizada debaixo do Viaduto Santa Tereza e, por isso, desconfiamos que há pessoas infiltradas no movimento”. 

Além disso, Gabi fez uma denúncia ainda mais grave. Conforme a militante, sua casa está sendo vigiada pela Polícia Civil e há informações de que os manifestantes apontados como líderes do movimento tiveram os telefones grampeados e as redes sociais monitoradas. “Eu não volto mais para a minha casa. Tenho muitos amigos e desde que essa perseguição começou eu passei a ter mais casas ainda”, disse se referindo à solidariedade das pessoas.

Gabi Santos contou que não retornou para casa na noite de terça-feira e, quando chegou nesta quarta, se deparou com um homem utilizando uma camisa da PC parado em frente ao prédio onde mora e observando. “Eu voltei, não entrei em casa e fui até uma padaria. Neste momento, ele tirou o celular e falou com alguém. Quando saí da padaria havia um outro homem com colete preto na esquina e apontou para a minha janela”, afirmou.

Assustada com a situação, a militante foi para a residência de duas amigas e só retornou à sua casa no início da tarde para buscar algumas roupas. “Quando eu saia para a reunião no Ministério Público cumprimentei algumas pessoas que conheço em um estabelecimento comercial que fica embaixo do meu prédio e um deles disse: “Ali, é ela ali” e apontava o dedo para mim. Então, eu fui até lá e perguntei ao homem se ele estava me procurando e ele respondeu que não”, relatou.

Estudante de licenciatura em Educação do Campo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e funcionária da Associação Mineira das Escolas Famílias Agrícolas (Amefa), Gabi Santos disse ainda que não está indo trabalhar, nem frequentando as aulas. “Estou com medo de trabalhar. Hoje não fui e amanhã também não vou. Não posso andar sozinha. Inclusive, esta é uma recomendação de segurança que a gente faz, que ninguém ande sozinho nos protestos”.

Ainda segundo a manifestante, outro integrante do movimento também relatou na noite desta quarta-feira que uma viatura da Polícia Militar (PM) ficou por mais de 20 minutos parada em frente à sua residência. Coincidência ou não, a situação está deixando os organizadores do movimento com medo. “É claro que a gente fica assustado, mas isso não vai me tirar da luta nem da rua. Aliás, acho que não tem quase ninguém disposto a desistir por coerção ou ameaça”, completou.

Reunião no MP

Em uma reunião realizada nesta quarta-feira no Ministério Público Estadual (MPE), Gabi Santos aproveitou para denunciar a perseguição policial aos integrantes do movimento e, segundo ela, a promotoria se comprometeu a investigar as denúncias dos organizadores das manifestações e também sobre as acusações de repressão policial.

No encontro estavam presentes representantes da Polícia Militar (PM), Polícia Civil (PC), Defensoria Pública do Estado, além de representantes dos movimentos sociais. A partir dessa reunião, uma comissão foi formada com integrantes de todos os órgãos para acompanhar as manifestações e as denúncias de abusos policiais.

Lideranças

Envolvida em vários movimentos sociais da cidade e do campo, Gabi Santos reafirmou que não há liderança no movimento e que a Polícia Civil “elegeu” algumas pessoas para apontar como organizadores. “Não tenho envolvimento com nenhum partido político ou movimento sindical, atuo em movimentos de maneira independente e participo do Fora Lacerda e do Comitê Popular dos Atingidos pela Copa”.

Ainda segundo a manifestante, sua atuação no movimento é apenas como militante. “Estamos apenas tentando ajudar no processo porque temos mais experiência na militância. Nosso objetivo é contribuir na tentativa de conduzir o ato da melhor forma possível”.

Resposta 

No último domingo (16), o delegado e superintendente de Investigações e Polícia Judiciária do Estado, Jeferson Botelho, afirmou em entrevista à rádio CBN que a Polícia Civil iria “identificar e monitorar” os líderes das manifestações em Belo Horizonte.

A reportagem do  Hoje em Dia entrou em contato com a assessoria de comunicação do órgão para verificar a veracidade das denúncias, mas, em função do horário, ninguém foi encontrado para falar sobre o assunto. Além disso, o jornalista de plantão também não atendeu às ligações.

Enviada por José Carlos para Combate Racismo Ambiental.

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