Violência, ameaças e omissão policial: novas informações sobre os Pataxó Hã-hã-hãe

Esta manhã os pistoleiros estão gritando para os indígenas que irão estuprar (utilizam a palavra “comer”) as mulheres que estão nas retomadas. Já enviaram aviso nas retomadas para que nenhuma outra mulher vá para a área. Estão utilizando táticas de terror de guerra contra os indígenas, e o Estado não está tomando as medidas cautelares necessárias.

Ontem à noite os pistoleiros reiniciaram os tiros contra os indígenas, com muitas provocações e xingamentos, incitando os indígenas a saírem de suas posições para reagir. Foram muitas horas seguidas, e até para conseguir manter contato telefônico estava difícil, pois havia o risco de denunciar acidentalmente a posição que os indígenas estavam ocupando. Chegaram também muito próximo a pé, com lanternas e veículos diversos.

“Chegaram bem perto aqui da casa, nos ofendendo e dizendo ‘Vem, sua cambada de corno!’, dando tiro de 12 e de outras armas”, disse um dos indígenas ao telefone. Hoje pela manhã, em torno das 5h, voltaram a atirar e a soltar fogos de artifício, como haviam feito durante quase toda a noite. 

O pessoal está passando dificuldades sérias de acesso a alimentação e água. Ontem encontraram uma égua morta no riacho de onde bebem água. Solicitei o envio de três garrafas de Qboa, a fim de tratar pelo menos a água de beber, e levaram 4 horas atravessando a serra até conseguir chegar ao pessoal.

A situação precisa ser resolvida imediatamente. Os indígenas correm risco de vida, e os pistoleiros têm acesso livre pelas estradas.

A policia está na área, parando diversos indígenas em motos alegando denúncia de moto furtada. Circulando entre os indígenas, dão “baculejo” nos índios, enquanto pistoleiros andam pelas estradas “numa boa”, sendo ignorados. A prova é a chegada de pessoal deles (pistoleiros) armado e com muita munição, mas muita mesmo, às areas que eles utilizam como base para fazer as investidas.

Estas são as ultimas informações que tive dos indígenas que se encontram sob ataque e dos que estão fora das áreas retomadas, vendo as ações das polícias nas estradas.

Essa polícia precisa ser substituída urgentemente. Estão agravando a situação para os indígenas. Não pode ficar sem polícia na região, mas a que está lá neste momento criou situação de mais violência e falta de punição debaixo do nariz do Estado, isso para não falar que as pessoas estão suspeitando de conivência. Uma das conversas que ouvi dizia respeito à suspeita de presença de policiais entre os pistoleiros. Tudo isto precisa ser investigado urgentemente.

Cadê o governador Jaques Wagner, que se dizia tão preocupado com a segurança na região que solicitou suspensão do julgamento no ano passado? Preocupante está é agora, Senhor Governador! Esperamos que esta situação não “degringole” em morte de mais indígenas durante o período de seu governo “democrático”.

Samuel Wanderley e Olinda Muniz Wanderley, Correspondentes dos Pataxó Hãhãhãe.

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