Dilma Rousseff, uma freira africana do Congo e as crianças quilombolas de São Pedro

Semana passada publicamos neste Blog uma carta escrita por crianças quilombolas da Comunidade São Pedro, pedindo ajuda a Dilma Rousseff. A ideia de enviar o documento à Presidenta partiu de uma freira africana, do Congo, que, em visita à comunidade, sentiu-se chocada com a realidade com que se deparou. Seu nome é  Irmã Maria Stella Basinsa, e o documento abaixo foi escrito por ela encaminhando a carta das crianças, que republico em seguida. TP.

Relato de uma experiência na Comunidade Quilombola São Pedro, estado do Maranhão:

Segundo o Estatuto da Igualdade Racial “os remanescentes de quilombos, segundo dispositivos de lei, terão direito à propriedade definitiva das terras que ocupavam”. Porém, em muitos lugares do país a lei não vem sendo cumprida, e inúmeras Comunidades Quilombolas têm esse direito violado. Dessa forma, trazemos ao conhecimento de todos a situação precária e crítica da Comunidade São Pedro, no município de S. Luiz Gonzaga, próximo de Bacabal (MA).

Neste local moram cerca de 29 famílias quilombolas que passam por inúmeras dificuldades, como falta de moradia digna, escola para os jovens e crianças, falta de energia elétrica, água potável, local para o cultivo de sua lavoura. Tudo isso pelo fato de esta terra tradicional estar ocupada por um fazendeiro da região, que afirma ter comprado a terra há muito tempo atrás.

O único acesso à Comunidade São Pedro é pela fazenda Caxuxa, de propriedade deste senhor, e isso dificulta, além do acesso ao local, a chegada dos benefícios para a comunidade, pois o mesmo já proibiu até  a implantação do Programa Federal “Luz para Todos”.

Os moradores mais antigos, como D. Maria Raimunda, que tem 90 anos, afirmam que têm suas origens neste local e são descendentes dos escravos, e isso se materializa em uma enorme panela de ferro presa a correntes onde se cozinhava na época da escravidão. A mesma faz parte do patrimônio da comunidade, além de outros materiais desta mesma época, como correntes, panelas de ferro (menores), chaves e outros utensílios domésticos.

Essa luta pela garantia da terra tradicional já vem causando ameaças às lideranças da comunidade, precisando assim de medidas proteção à sua vida. Diante disso, essa comunidade pede ajuda de todo o Brasil para garantia de seus direitos como cidadãos e de acordo com os direitos humanos.

Assim, segue em anexo a cartinha escrita pelas crianças dessa comunidade, que caminham uma imensa distância para chegar à escola (a maioria dos adultos são analfabetos), com o intuito de tornar conhecida sua realidade e que seja tomada alguma providência por parte dos órgãos competentes.

Para mais informações podem entrar em contato com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de S. Luiz Gonzaga, Maranhão, pelo e-mail [email protected].

MA – Carta das crianças do Quilombo São Pedro para Dilma Rousseff

São Pedro 3 do 2 de 2012

“Senhora Presidenta Dilma enviaremos esa carta somenti para li pedir a sua ajuda. Senhora presidenta na nossa comunidade Quilombola di São Pedro município de São Luiz Gonzaga do Maranhão senhora presidenta somos crianças umildi e muito sofrida não temos escola, não temos energia elétrica por que o fazendeiro que si dis dono das terra de Quilombo impede todos os programa do governo federal xegar até a comunidade. Senhora Presidenta nois somos crianças i presisamos di escola estamos sofrendo através desse fazendeiro Jozé de Souza de Oliveira proprietário da fazenda Caxuxanese mesmo município, gostaremos que a senhora mandasi alguém da sua confiança para nos visitar para ver o nosso sofrimento de perto, poderemos contar a sua ajuda?”

Assina:
Isnoyane Silva Santos, Luzia silva Ferreira, Maria Raimunda Silva dos Santos, Clemilda Silva Sousa, Ricardo Silva dos Santos, Rogério Silva dos Santos, Guilherme da Silva Barros, Maria Aparecida da Silva Souza, Joao Vitor Alves da Silva, Gustavo Alves da Silva, Josiane da Silva Sousa, Thiago Alves de Oliveira, Larisa Alves da Silva, Leticia Alves da Silva, Mayara Silva Santos, Francilene Rejane Rabelo da Silva, Francisca Samara da Silva Santos, Francisco Ronylson Ribeiro, Caludioroberto Sousa Silva Filho, Raissa Viana, Antonio Viana.

“(…) a prefeitura deu a professora mais não temos escola então é poiso que estamos le escrevendo esta carta. Enfim da Senhora da uma força pra nois. Somo criança umildi e muito pobre não temos condição de estuda na cidade. Contaremos com a sua ajuda Senhora Presidenta”.

Informações enviadas por Mayron Régis.

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