O escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez comemorou o seu aniversário de 85 anos bem vividos nesta terça-feira (6), mas são os seus leitores que ganharão o “maior presente”. A obra “Cem Anos de Solidão” (Cien Años de Soledad), considerada uma das mais importantes da literatura latino-americana, ganhou sua versão digital
A novidade foi anunciada pela agente literária do escritor, Carmen Balcells. Ela também lembrou que este é um ano representativo para “Gabo”, já que, além de completar 85 anos, comemorará 60 anos da publicação de seu primeiro conto “A terceira resignação”; 30 anos da entrega do Prêmio Nobel, concedido a ele em 1982; e dez anos do lançamento de seu livro de memórias “Viver para contá-las”.
O romance “Cem Anos de Solidão” já pode ser lido em diferentes plataformas e livrarias digitais da América Latina, Estados Unidos e Europa, incluindo versão para dispositivos móveis. Inicialmente, a publicação digital só está disponível em espanhol.
A primeira edição de “Cem Anos de Solidão” saiu em maio de 1967 e, desde então, o livro foi traduzido para 35 idiomas e já vendeu milhões de exemplares em todo o mundo. Misturando fantasia e realidade, a obra conta a história de sete gerações da família Buendía no povoado fictício de Macondo, situado em algum lugar da costa colombiana entre os séculos 19 e o 20. “Cem Anos de Solidão” é o quarto trabalho de Garcia Márquez em publicação eletrônica. Já ganharam versão digital “Relato de Náufrago”, “Todas os Contos” e “Viver para Contar”.
A agente do escritor afirmou que “faz muito tempo que tenho o contrato assinado por Gabo [apelido do escritor] para que ‘Cem anos de solidão’ seja publicado em formato digital, mas eu disse que esse momento, com a confluência de datas, veio de bandeja, ou seja, agora é o momento exato”. Ela acrescentou que García Márquez está “um pouco abatido” e que seu olhar tem sido de “nostalgia”.
Homenagem
Além do lançamento da publicação digital, o aniversário do escritor, que nasceu no dia 6 de março de 1927 na cidade colombiana de Aracataca, será comemorado nas redes sociais. Membros da Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano (FNPI), que foi fundada pelo escritor, criaram a página no Facebook “Celebrando o 85º aniversário de Gabriel Garcia Marquez – um espaço para compartilhar as lições de uma vida comprometida com a excelência em jornalismo”. Quem desejar parabenizar o escritor, basta acessar a página e deixar o seu recado.
Histórico
García Márquez nasceu em Aracataca (Colômbia), e foi criado na casa de seus avós maternos, que iriam influenciar o futuro literato com as histórias que contavam. O avô, coronel Nicolas Márquez, veterano da guerra civil colombiana (que se estendeu de 1899-1902), narrava-lhe suas aventuras militares, e a avó, Tranquilina Iguarán, relatava fábulas e lendas que transmitiam sua visão mágica e supersticiosa da realidade.
García Márquez, ou simplesmente Gabo, completou os primeiros estudos em Barranquilla e Zipaquirá, onde teve um professor de literatura, Carlos Julia Calderón Hermida, que desempenhou papel marcante em sua decisão de se tornar um escritor e a quem dedicaria seu romance “O Enterro do Diabo” (1955). Por insistência dos pais, Márquez chegou a iniciar o curso de direito na Universidade Nacional, em Bogotá, mas logo enveredou para o jornalismo, assumindo uma coluna diária no recém-fundado jornal “El Universal”. Nunca se graduou.
Nessa época, final da década de 1940, publicou seus primeiros contos, “La Tercera Resignación” e “Eva Está Dentro de su Gato”. Consagrou-se na carreira jornalística ao ingressar na redação de “El Espectador”, onde se tornou o primeiro crítico de cinema do jornalismo colombiano e depois um brilhante cronista e repórter, que exerceu influência na vida cultural do país. Em 1955, viajou para a Europa como correspondente do jornal, após a publicação de uma extensa reportagem, “Relato de um Náufrago”, que desagradou ao governo do general Roja Pinillas.
No final dos anos 50, de volta às Américas, trabalhou em Caracas (Venezuela), em Cuba, onde passou seis meses, e em Nova York, dirigindo a agência de notícias cubana Prensa Latina. Em 1960, García Márquez mudou-se para a Cidade do México e começou a escrever roteiros para cinema. No ano seguinte, publicou “Ninguém Escreve ao Coronel” e, em 1962, “O Veneno da Madrugada”, que ganhou o Prêmio Esso de Romance, na Colômbia.
Em 1966, segundo depoimento do escritor mexicano Carlos Fuentes, quando voltava do balneário de Acapulco para a Cidade do México, García Márquez teve o momento de inspiração para escrever o romance que ruminava há mais de uma década. Largou o emprego, deixando o sustento da casa e dos dois filhos a cargo da mulher, Mercedes Barcha. Isolou-se pelos próximos 18 meses, trabalhando diariamente por mais de oito horas. No ano seguinte, publicou aquele que seria sua obra mais conhecida, “Cem Anos de Solidão” (1967) – unanimemente uma obra-prima da literatura em língua espanhola.
Com o sucesso, mudou-se para Barcelona, Espanha, onde permaneceu até 1975, passando temporadas em Bogotá, México, Cartagena (Colômbia) e Havana. Em 1981, voltou para a Colômbia. Acusado pelo governo de colaborar com a guerrilha, exilou-se no México. Nesse período, publicou novos romances, livros de contos e antologias de sua produção jornalística e de ficção.
Em 1982, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Segundo se soube posteriormente, a premiação foi disputada com o escritor inglês Graham Greene e o alemão Günther Grass. Diante da Academia Sueca e de 400 convidados, pronunciou o discurso “A Solidão da América Latina”, questionando os estereótipos com que os latino-americanos eram vistos na Europa e a falta de atenção dos países ricos ao continente.
O escritor retornou ao jornalismo em 1999, quando passou a dirigir a revista “Cambio”. Em 2002, publicou “Viver Para Contá-la”, primeiro volume de sua autobiografia. Entre outras obras de destaque, García Márquez é o autor de “Crônica de uma Morte Anunciada” (1981), “O Amor nos Tempos do Cólera” (1985), “O General em Seu Labirinto” (1989) e “Notícias de um Seqüestro” (1996). O último romance que publicou, em 2004, intitula-se “Memórias de Minhas Putas Tristes”.
Alguns de seus textos foram adaptados para o cinema, como “Eréndira”, de 1983, estrelado por Cláudia Ohana e dirigido por Ruy Guerra, e “O Amor nos Tempos do Cólera”, de 2007, dirigido pelo inglês Mike Newell, e com a participação de Fernanda Montenegro.
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