ONU – Há exatos 10 anos, a lavadeira Maria do Carmo Santos, que mora em Recife, foi diagnosticada com câncer de mama e precisou se submeter à cirurgia, além de 34 sessões de radioterapia. Fez todo o tratamento em hospital público e contou com a ajuda dos vizinhos para se cuidar e se sustentar, pois precisou parar de trabalhar.
A luta de Maria do Carmo contra o câncer revela uma série de facetas desse mal, principalmente em países em desenvolvimento. Segundo o Banco Mundial, até 2030, a incidência de câncer aumentará em 70% nos países de renda média, incluindo o Brasil, e em 82% nos mais pobres caso não sejam tomadas providências globais para enfrentar a doença.
De acordo com números mais recentes da Agência Internacional para a Pesquisa em Câncer (Iarc) da Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença já matou 8,2 milhões de pessoas em 2012, um acréscimo de 8% com relação ao levantamento feito anteriormente, em 2008. A pesquisa também destacou um aumento de 20% de incidência e de 14% na mortalidade por câncer de mama no período entre as duas pesquisas. Só em 2012, em todo o mundo, 522 mil mulheres morreram, entre as quais 16.412 eram brasileiras.
Momento de transição explica aumento da doença
Segundo os especialistas, países em desenvolvimento atualmente vivem um momento chamado de transição epidemiológica. Antes no Brasil predominavam as doenças infecciosas, hoje o estilo de vida das pessoas também determina que elas tenham câncer, como a obesidade e o tabagismo.
Outra diferença entre os brasileiros ricos e pobres está no acesso à prevenção, ao diagnóstico e aos tratamentos adequados, em tempo oportuno. Entre as brasileiras com um ano de escolaridade, por exemplo, apenas 38% já haviam feito mamografia pelo menos uma vez na vida. Também pesa sobre os pacientes o fato da doença perpetuar um ciclo de pobreza. Muitos param de trabalhar, inclusive alguns parentes, diminuindo a renda e piorando as condições de vida dessas famílias.
“Só 60% da população tem acesso integral à radioterapia”, destaca o diretor do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Luiz Antônio Santini. “O país está trabalhando para ampliar esse atendimento e incorporar à rede pública medicamentos modernos ao tratamento do câncer de mama, mas ainda precisamos de mais investimentos”, acrescentou. O orçamento público para atendimento quadruplicou desde 2003, chegando a 2,1 bilhões de reais em 2012.
O Banco Mundial recentemente passou a financiar projetos no Brasil e pesquisas sobre câncer. A ideia é entender melhor as dificuldades enfrentadas pelos pacientes mais pobres e ampliar a rede de prevenção, diagnóstico e tratamento.