Depois da Copa, moradores de bairro que recebeu evento reclamam de falta de manutenção

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Marcela Belchior – Adital

Finalizada a Copa do Mundo Fifa 2014 no Brasil, que teve sua partida final no domingo, 13 de junho, a Adital percorreu o entorno da Arena Castelão, um dos estádios brasileiros, na cidade de Fortaleza, Estado do Ceará, cujo bairro passou por mudanças estruturais para receber os jogos da competição. O que se observa é uma mescla de satisfação dos moradores pela ampliação da avenida principal da região, somada à frustração por essa mesma obra vir desacompanhada de uma série de necessidades básicas da população do local, como via para pedestres, regular recolhimento de lixo e medidas de saneamento.

O autônomo Carlos Cruz, 67 anos, comemora que a obra tenha melhorado a via para automóveis e ampliado a calçada para os moradores da região, demanda do bairro havia anos. “A melhoria foi grande para nós. Pistas bem feitas, calçada excelente… Algumas coisas ficaram para trás, mas a gente acha bom o que veio”, afirma Cruz, que vive no bairro há 33 anos.

O corretor de material de construção Wilson dos Santos, 59, que mora há 15 anos no bairro Castelão (o nome original do bairro é Boa Vista), destaca os transtornos pelos quais a população do local passou enquanto a obra era executada, com dificuldades de acesso e prejuízo para o comércio. Ele comenta que não conhece ninguém do bairro que tenha ido assistir aos jogos da Copa no estádio Castelão, bem ao lado de suas casa. “O evento foi mais caro, né, da classe média para alta”, justifica.

Mantendo um bar na via principal do entorno do Castelão, o comerciante Francisco das Chagas, 68, multiplicou as vendas durante as quatro partidas realizadas no estádio, porém diz estar consciente de que foi um contexto pontual. “Vai voltar tudo ao normal, agora”, afirma.

Segundo os moradores, em dias de jogos na Arena Castelão, o bairro recebia serviços públicos como segurança pública e limpeza urbana. O canteiro central da avenida era mantido bem conservado, sustentando a decoração em verde e amarelo. No entanto, desde o último dia de partida no local, em 04 de julho, jogo entre Brasil e Colômbia, o local voltou a ter problemas. Além disso, a nova avenida não dispõe de faixas de pedestres, passarelas e semáforos para facilitar a circulação dos moradores. Durante a apuração desta matéria, a reportagem observou um jovem cadeirante que atravessava a via às pressas, em meio aos carros.

A autônoma Gilvana Bezerra, 24, que se mudou para a região há cinco anos, critica as medidas para a organização do megaevento. “A única melhoria foi a avenida mesmo. Mas semáforo para pedestres está quebrado; ninguém pode atravessar a avenida direito. É só para os carros”, diz. “De limpeza, colocaram caçambas para reunir o lixo, mas só foi passar a Copa que retiraram. No comércio, teve local que só teve prejuízos. A segurança também só tinha durante os jogos. Nas obras, não incluíram área de lazer, não tem praça”, destaca.

Mudanças provisórias

Eliezer Paiva, 72, e Fátima da Silva, 61, mantêm um restaurante há 34 anos no local e relatam que sofreram prejuízos no faturamento da empresa durante todo o período de obras para a Copa do Mundo. A expectativa, agora, é que o contexto do bairro volte à regularidade e, com isso, também os lucros do comércio. No entanto, não acreditam que as mudanças estruturais do bairro devam permanecer.

“Criaram uma expectativa grande na gente e mostraram um projeto lindo, mas não fizeram como prometido. A avenida priorizou os carros. As calçadas que construíram são inclinadas, ruins de caminhar. Ajeitaram o canteiro, mas não deve durar muito, porque deverá faltar manutenção”, critica Eliezer.

A aposentada Expedita Viana, 72, teve o muro externo de sua casa, na avenida Deputado Paulino Rocha, pintada em verde e azul para a Copa do Mundo. Ela conta que funcionários do Estado pediram autorização de vários moradores da via para realizar a pintura. Porém, ela reclama que, diante de todas essas casas, continua faltando escoamento, acumulando água de esgoto em vários trechos. “Foi uma reforma mal feita. Durante a Copa, eles faziam manutenção, mas agora não fazem mais. E na avenida, os carros andam mais rápido, mas sem semáforo, eles não nos dão passagem”, observa.

Indagados pela reportagem, nenhum dos entrevistados conhecia vizinhos que haviam assistido às partidas na Arena Castelão, com exceção da comerciante Diana Cavalcante, 29. Ela viu de perto ao jogo entre Grécia e Costa do Marfim, realizado no último dia 24 de junho. “Eu fui, mas ninguém mais do bairro foi. Era muito caro”, explica. Ela conta que o local sofreu prejuízos durante todo o período de obras, mas que os quatro dias de jogos lucraram a ponto de recuperar a baixa temporada anterior.

Vendendo as mercadorias por trás das grades, Diana diz que somente em dias de partida no Castelão pôde finalmente abrir as portas do mercado. Agora, com o encerramento da Copa, sem garantia de policiamento, ela e os familiares voltaram a fazer as transações de compra e venda atrás do portão.

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