Há 50 anos, um dos períodos políticos mais conturbados da história do Brasil começava a ser desenhado. Com o golpe militar de 1964, muitos foram os relatos de perseguição política, repressão e violência. Para retratar essa época, tendo o estado do Rio de Janeiro como cenário, a exposição Ressonâncias – Rio de Janeiro, 1964, leva ao Museu do Ingá, em Niterói, a partir de hoje (2), registros documentais e iconográficos inéditos e depoimentos de quem sofreu perseguição.
Reunindo registros que passam desde cartazes de filmes carimbados pelo controle de censura até cadernos apreendidos de estudantes para verificar se professores faziam apologia ao comunismo, os 150 documentos que integram a mostra, entre jornais, fotografias, livros e folhetos censurados, procuram retratar como o Rio de Janeiro viveu a ditadura militar.
A exposição lembra como cada margem da Baía de Guanabara caminhou em sentidos diferentes naquele período. O atual estado do Rio na época eram dois. De um lado, o antigo estado do Rio, com capital em Niterói e governado por Badger da Silveira, que apoiava o presidente João Goulart. Do outro lado da baía, a hoje capital fluminense era o estado da Guanabara, onde o governador Carlos Lacerda apoiou o golpe. Um dos curadores da mostra, Paulo Knauss, diretor-geral do Arquivo Público do estado do Rio de Janeiro, contou que a ideia é tratar os 50 anos de um ponto de vista diferente.
“Vamos apresentar a história política do Rio de Janeiro com um panorama dessa repressão e dos movimentos de resistência na região, enfatizando os presídios políticos, com depoimentos de época, pessoas contando como as coisas aconteciam. Os 147 nomes dos mortos e desaparecidos do estado que a Comissão Estadual da Verdade tem investigado também estarão presentes, além do mapa dos centros de repressão. O Rio foi um dos estados que mais teve mortos e desaparecidos, além de ter o maior número de centros de repressão”, disse o diretor.
Ao longo da exposição, os visitantes vão conhecer com detalhes como a ditadura ocorreu no Rio, passando por salas que mostram manchetes de jornais anunciando o golpe, além da sala que mostra como a imprensa se dividiu para apoiar ou não o regime autoritarista. “A sessão dedicada ao movimento estudantil é muito bacana, porque traz cartazes manuscritos que contestam as eleições e a militarização das escolas. Outra sessão muito interessante é a dedicada à censura cultural, que mostra os critérios estranhos do regime, que liberava filmes sensuais, por exemplo, e outras coisas de importância cultural eles reprovavam”, segundo Knauss.
Para o curador, a mostra contribui para que a sociedade lembre do período e valorize cada vez mais a democracia. “A exposição mostra que a democracia é uma conquista, não cai do céu pronta. Isso vale para a década de 80, assim como vale para os nossos dias. Mais do que a gente julgar o autoritarismo, eu acho, lembrar aquele período é um bom motivo para a gente celebrar o presente. Se a democracia tem muitos defeitos, ela certamente ainda é o melhor regime político que a gente conhece. É o regime da liberdade de expressão, das liberdades individuais, do respeito dos direitos civis”, opinou.
A exposição Ressonâncias – Rio de Janeiro, 1964 tem entrada franca, e vai até o dia 31 de agosto. As visitas podem ser feitas de terça a sexta-feira, das 12h às 17h, e aos sábados, domingos e feriados das 13h às 17h.