Ex-coordenador da Funai vai falar sobre índios mortos na ditadura

José Porfírio Carvalho, que vai falar à Comissão da Verdade. Foto: Alberto César Araújo/Folhapress

Ex-coordenador da Funai (Fundação Nacional do Índio) na Amazônia, o indigenista José Porfírio Fontenele de Carvalho, 65, vai falar à Comissão da Verdade sobre as mortes de índios no período da ditadura militar. Ele foi testemunha do desaparecimento dos índios waimiri-atroari durante a construção da BR-174. 

Veja seu depoimento a Rogério Pagnan, da Folha de São Paulo:

“Nasci em Granja, no Ceará. Aos 19 anos, durante a ditadura, fui para Brasília estudar contabilidade na UnB.

Tive vários conflitos com os militares. Aquilo foi me chateando. Surgiu um concurso de auditor contábil no Serviço de Proteção do Índio, antes de a Funai ser fundada, em 1967. Fui o primeiro colocado. (mais…)

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“Oito sinais dos tempos e dos lugares”, por Gilvander Luís Moreira*

*Artigo semanal de Frei Gilvander para Combate ao Racismo Ambiental

1. No dia do Natal de 2012, em Porto Alegre, RS, a temperatura chegou a 43º C. Dia seguinte, no Rio de Janeiro, RJ, 43º C. Em Arinos, noroeste de Minas Gerais, o sol está estorricando. Se deixar milho pipoca no sol, dentro de poucos minutos, a pipoca estará pronta. Se deixar ovos sob o sol, serão assados. “Os peixes estão sendo assados nos poucos rios que ainda existem”, diz em tom irônico um pescador. Os camponeses estão dizendo: “A situação está feia. Quase final de ano e quase nada de chuva. As águas estão acabando. Depois que acabaram com o cerrado e agora com a plantação de eucalipto, esse vampiro das águas, os córregos estão quase todos secos. Aqui na região havia lagoas por todos os lados. Agora está tudo seco.” O povo está ficando mais debaixo das poucas árvores que ainda existem. Ficar dentro de casa é o mesmo que estar em uma sauna. Há pessoas que estão dormindo dentro de automóveis com motor funcionando e ar condicionado. Quem pode, compra ventilador. Quem é mais jovem corre para os poucos rios da região e passa o dia dentro d’água. Outro dia, por exemplo, almoçamos dentro do Rio Claro – afluente do Rio Urucuia, que é um dos 36 afluentes do rio São Francisco -, com as panelas de alimento colocadas encima das pedras. Só a Sidersa – Siderúrgica Santo Antônio -, Companhia de um dono de Siderúrgica de Itaúna, MG, que tinha o ex-governador Newton Cardoso como sócio, já plantou mais de 30 mil hectares de eucalipto, inclusive ao lado das nascentes do Rio Claro, citado acima.

2. Os pescadores da beira do Rio São Francisco já estão prevendo que vão passar meses de escassez  porque as chuvas foram pouquíssimas até o final de 2012 e, por isso, a barragem de Três Marias e as outras seis grandes barragens do Velho Chico estão com pouca água. Vai faltar água para gerar energia, mas antes os ribeirinhos sofrerão pela falta de peixe, pois “sem as cheias não acontecem desovas; e sem desova não se cria novos peixes”, diz Sr. Norberto, pescador há 70 anos no Velho Chico, na região de Três Marias. “Sr. Norberto, a Votorantim continua jogando metais pesados no Rio São Francisco aqui em Três Marias, poluindo o Rio?”, perguntei. “Com nossa luta, o Ministério Público exigiu que a Votorantim fizesse uma nova barragem para recepção de rejeitos minerários. O preocupante agora aqui é que estão planejando para construir nove barragens/hidrelétricas no Rio Abaeté. Isso não pode acontecer, pois se as águas forem represadas, não haverá mais piracema e os peixes serão dizimados, inclusive, aqui no Rio São Francisco”.

3. 334 pessoas em situação de rua assassinadas – crucificadas – no Brasil em 2012! Em 10 anos serão acima de 3.340, caso as forças vivas da sociedade não lutem para transfigurar essa realidade dramática. Maior algoz: o Estado, através de policiais e guardas municipais. A presidenta Dilma assistiu ao vídeo sobre a violência contra a população de rua(1). Não poderá alegar que não tem conhecimento dessa violência que clama aos céus: a violência contra as pessoas em situação de rua. Por que não mudar a política econômica e investir prioritariamente em reformas agrária e urbana, em educação e saúde públicas, em Minha Casa Minha Vida através de entidades e em Direitos Humanos? Será que teremos que arregimentar milhares de voluntários para vigiar as pessoas que estão em situação de rua enquanto elas tentam dormir sob as marquises, nas praças ou debaixo dos viadutos, para não serem despertados com jatos d’água ou com gás de pimenta? (mais…)

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Kabengele Munanga: “A educação colabora para a perpetuação do racismo”

Entrevista a Adriana Marcolini – Carta Capital

Nascido no antigo Zaire, atual República Democrática do Congo, em 1942, o professor de Antropologia da Universidade de São Paulo Kabengele Munanga aposentou-se em julho deste ano, após 32 anos dedicados à vida acadêmica. Defensor do sistema de cotas para negros nas universidades, Munanga é frequentemente convidado a debater o tema e a assessorar as instituições que planejam adotar o sistema. Nesta entrevista, o acadêmico aponta os avanços e erros cometidos pelo Brasil na tentativa de se tornar um país mais igualitário e democrático do ponto de vista racial.

CartaCapital: O senhor afirma que é difícil definir quem é negro no Brasil. Por quê?

Kabengele Munanga: Por causa do modelo racista brasileiro, muitos afrodescendentes têm dificuldade em se aceitar como negros. Muitas vezes, você encontra uma pessoa com todo o fenótipo africano, mas que se identifica como morena-escura. Os policiais sabem, no entanto, quem é negro. Os zeladores de prédios também. (mais…)

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“Hollywood: Instrumento para a desumanização de um povo (Reel Bad Arabs)”

Traduzido, legendado, postado no Youtube e enviado por Jair de Souza

Por Jair de Souza

Neste documentário (Reel Bad Arabs: How Hollywood vilifies a people) podemos constatar muitos exemplos cinematográficos da divulgação dos preconceitos raciais eurocêntricos muito bem estudados pelo saudoso e brilhante intelectual Edward Said em seu consagrado livro Orientalismo (Orientalism).

Podemos ver como, através de inúmeras cenas e situações premeditadas por cineastas de Hollywood, os árabes de maneira geral, e os palestinos em particular, são retratados como um povo perverso, ganancioso, inescrupuloso e, ainda por cima, idiota.

Este intenso trabalho ideológico de demonização racial está presente em todos os tipos de filmes produzidos em Hollywood, dos dramas de guerra às comédias, e até mesmo nos supostamente “inocentes” desenhos animados de Walt Disney. (mais…)

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Obra do PAC causa conflito na Amazônia

Aguirre Talento, enviado especial da Folha a Tucuruí (PA)

A construção de uma linha de transmissão de energia de 1.800 km, ligando o sudeste do Pará a Macapá e a Manaus, se tornou um foco de conflito com moradores. Obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o linhão do governo federal passa por unidades de conservação e, segundo moradores, tem provocado desmatamento e poluição. Também atravessa terras de agricultores, que reivindicam indenização justa.

A objetivo da linha de transmissão de R$ 3,4 bilhões é baratear o custo da energia e integrar Amazonas, Amapá e oeste do Pará ao Sistema Interligado Nacional, que coordena a geração pelo país. (mais…)

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“Resposta de Carlos Latuff ao relatório do Centro Simon Wiesenthal que me acusa de ser o ‘3° maior antissemita do mundo'”

“Recebo com tranquilidade a citação de meu nome numa lista dos “10 mais antissemitas” pelo Centro Simon Wiesenthal. A organização, que leva o nome de um célebre caçador de nazistas, sob o argumento da proteção aos direitos humanos e combate ao antissemitismo, promove a agenda da política israelense.

A minha charge que acompanha o relatório mostra o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu tirando proveito eleitoral dos recentes bombardeios a faixa de Gaza (o ataque foi realizado a 2 meses das eleições em Israel). Em novembro desse ano, o rabino Marvin Hiers, fundador do Centro Simon Wiesenthal, me acusou publicamente na Internet de ser “pior que antissemita” por fazer tal crítica através do desenho. (mais…)

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Demarcação de terras indígenas é tema de entrevista no canal do STF no YouTube

O canal oficial do Supremo Tribunal Federal (STF) no YouTube divulga entrevista com o procurador-chefe nacional da Funai (Fundação Nacional do Índio), Flávio Chiarelli, sobre demarcação de terras indígenas.

Conheça os marcos legais e os critérios levados em conta pela Funai nas demarcações dos territórios indígenas. Na entrevista, Chiarelli explica que a Funai objetiva demarcar cerca de 680 áreas distribuídas entre as 220 etnias indígenas existentes no Brasil. Desse total, quase 400 reservas estão com o procedimento de demarcação finalizado.

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“Ao Senhor Ministro Aldo Rebelo: sobre Maraiwatsede”

“Mas por trás da outra corrente parece movimentar-se um ressentimento retroativo que pretende compensar crimes cometidos contra os índios no passado com injustiças contra não índios no presente. Sua última intenção seria negociar um acordo bom para todos. Deixam de ver que nesse tipo de conflito fraticida [sic] que opõe interesses dos brasileiros não pode haver vencedor.” (A. Rebelo)

por Inês Rosa Bueno

Senhor Ministro, acima cito três frases suas de artigo publicado no jornal Correio do Brasil, sobre o processo de desintrusão de Maraiwatsede, no qual atuei como perita do juiz, embora aqueles que o senhor defende nesse artigo, onde demonstra irresponsável desconhecimento dos fatos, me mencionem, entre adjetivos tais como “antapóloga” (ou será substantivo???), como “antropóloga da FUNAI”, entidade de seu governo para a qual jamais trabalhei, fundada em 1967, um ano depois da retirada dos Xavante de Maraiwatsede, pelas Forças Aéreas Brasileiras, a pedido do latifundiário paulista que havia comprado as terras dos índios de um entre tantos governadores corruptos que fundaram o Estado no Mato Grosso. Meu pai foi Secretário da Agricultura de Pedro Pedrossian, nesse ano de 1966, mas em poucos meses, em 1967 retornou para São Paulo com a família, pois ali, naquele momento, não havia nada a fazer, por índios e posseiros destruídos pela ganância selvagem que até hoje domina a política, a economia, e a apropriação de recursos naturais e humanos aquele estado.

E são, sem a menor sombra de dúvida, esses políticos, aliados ao capital internacional, que usurparam as terras dos índios, com argumentos racistas com os quais reuniram poucas dezenas de capangas, para invadir as terras, em 1992, ao saber da conclusão do estudo de identificação e da disposição do presidente da empresa, muito pressionado, em ceder as terras, que jamais poderiam ter adquirido e da qual jamais fizeram outro uso além de desvio de caixa 2. Esses políticos, arquitetados como disse com o governador de estado, reservaram para si, as melhores terras, bem como a sede da Suiá Missu. Ali, segundo dados atualizados do INCRA e IBGE, tudo foi desmatado e destruído ilegalmente em nome do direito de quatrocentos e cinquenta e cinco indivíduos (os quais talvez tenham um décimo do número de filhos que o senhor diz estarem sendo obrigados a deixar a escola), alguns dos quais mantinham até escravos nas novas terras de latifúndio que adicionaram a anteriores pela região, entre eles, um desembargador. Os laudos de perícia fundiária e antropológica sempre afirmaram claramente que ali havia 798 indivíduos. O resto, foram mentiras difundidas com apoio da imprensa e juízes e algumas entidades indigenistas onde também prevalece a corrupção. (mais…)

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“Feliz Natal, Dom Pedro Casaldáliga”

Por Fernando Alves

Lembras-te da Missa dos Quilombos, composta por Milton Nascimento? Lembras-te dos textos de dom Pedro Casaldáliga?

Lembras-te de dom Helder Câmara, faz agora 30 anos, no Recife, celebrando Mariama ( “Mariama, mãe dos homens de todas as raças, de todas as cores, de todos os cantos da terra”…)?

Pedro Casaldáliga, aquele que Paulo Evaristo Arns defendeu contra a ditadura, aquele a quem Paulo VI nomeou bispo de São Felix do Araguaia, no Mato Grosso, tem hoje 84 anos e sofre de Parkinson. Lá em São Felix, continua fiel ao lema que adoptou: “Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar”.

Há dias foi obrigado a sair de casa para lugar incerto. Está algures, protegido pela Polícia Federal, porque nos últimos dias subiram de tom as ameaças de morte contra ele. Pensa-se que isso se deva à proximidade da decisão judicial sobre o direito dos índios Xavante às terras de onde querem expulsá-los. (mais…)

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