“Quantos passarão fome nesta ceia de Natal? (Sim, culpa é um sentimento cristão)”, por Leonardo Sakamoto

Maria deu à luz sob o olhar insuspeito de uma vaca e um jegue – figurante sempre presente nessas ocasiões há quase dois mil anos. José acompanhava a cena de perto, amparado pelas paredes de barro e um cigarro de palha. A fumaça esbranquiçada fugia pela porta e fundia-se à paisagem queimada de sol. E a pele do bebê à lavoura, que morreu ainda no pé por carência d`água. Mal presságio… Ao contrário da outra criança – do outro José com a outra Maria – não recebeu reis, muito menos presentes. Compartilhavam o fato de seu destino já estar escrito.

Os anos se passaram e ela cismou em ficar do mesmo tamanho. Talvez por causa da água e da comida. Ou da falta de ambos. Certo mesmo é que adoeceu. O pai, desesperado, correu de um lado para o outro e levou-a para se tratar. Diarréia, olhar longo, profundo, perdido. Os doutores fizeram o que podiam e mandaram-na de volta para casa. Naquela tarde, rastejou pelo chão da sala, agonizando. Maria avisou ao marido que a criança estava indo embora. Mas sabiam que de nada adiantaria, pois há tempos a fome vinha comendo-a por dentro. Então, José, resignado, foi à cidade fazer a única coisa que estava ao seu alcance: pedir uma caixão emprestado, prática comum por aquelas bandas.

Já trouxe esta história antes, em outro Natal. Mas a pedido de leitores, posto novamente, atualizando as informações. Particulamente, não gosto de recontá-la, mas parece que a vida não se importa de repeti-la. Tanto que a cena se reproduziria mais cinco vezes na família Bezerra (que tive a oportunidade de conhecer durante uma reportagem anos atrás). Outros personagens, mesmo roteiro. (mais…)

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“Ternos e Folias de Reis – Festas do Natal e Ano Novo”, por Bahia Singular e Plural

Através da experiência com o sagrado, populações negras reestruturaram-se no Novo Mundo e superaram as tremendas fragmentações de toda ordem a que foram submetidas. Com os elementos do sagrado realimentavam-se de forças primordiais e obtinham a vitalidade simbólica para resistir à pobreza material.

Tal estratégia de sobrevivência lançava mão de práticas rituais sincréticas, na medida em que reelaborava contribuições de diferentes etnias africanas; e também ressignificava festas e rituais religiosos dos colonizadores para neles introduzir sentidos e elementos que representassem afirmações das suas próprias identidades. (mais…)

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Informativo nº 01 – Acampamento Internacional de Observadores dos Guarani-Kaiowá em Mato Grosso do Sul

“Informamos que o primeiro grupo do Acampamento Internacional de Observadores dos Guarani-Kaiowá em Mato Grosso do Sul chegou à Aldeia Taquara anteontem, dia 22 de janeiro à tarde. Do grupo participam estudantes, professores, militantes de movimentos sociais e sindicais e estrangeiros solidários à causa.

A convocatória para esta ação de solidariedade que partiu da aliança estabelecida entre o Comitê Internacional de Solidariedade aos Guarani-Kaiowá e a Aty Guasu (grande conselho dos povos Guarani-Kaiowá) surgiu para procurar potencializar todo o apoio que vem se manifestando por diversos setores da sociedade à luta deste povo indígena, de forma a fazer com que essa disposição se transforme em contribuição efetiva para a luta pelo direito às suas terras originárias, à garantia da reprodução de seu modo de vida e ao fim do etnocídio ao qual estão submetidos! (mais…)

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BA – Bárbara Maré, liderança da Comunidade Quilombola Alto do Tororó, em Salvador, foi covardemente agredidas por policiais militares

João Paulo Diogo, via Instituto Búzios

“Nesta manhã fui informado que nossa parceira de luta, militante quilombola e de juventude negra, Bárbara Maré, foi covardemente agredidas por policiais militares, quando os mesmo em um ato ilegal invadiram a comunidade, com o argumento de que haviam recebido uma denúncia de que estavam na comunidade homens armados. A comunidade em questão é quilombo do Alto do Tororó, Comunidade Tradicional Quilombola, auto-reconhecida desde 2010, na qual a companheira Bárbara é uma das lideranças.

Segundo informações dos quilombolas, os policiais entraram na comunidade de forma muito truculenta, agredindo várias pessoas, levando lideranças da comunidade juntamente com Bárbara a questionarem que eles estavam sendo muito violentos, que a comunidade é formados por trabalhadores e trabalharas, pescadores e marisqueira quilombolas, e que as pessoas precisam ser respeitada.

Contudo mesmo com este argumentos os policiais militares continuaram sua incursão violenta, sendo que a companheira, acredito que os mesmo não entendo que aquela era uma comunidade quilombola, se apresentou enquanto técnica da Fundação Palmares, órgão do governo federal que trata dos questões quilombolas, e enfatizou para os policiais que era para ir com calma, pois se tratava de uma comunidade tradicional. Foi quando segundo informações relatadas uma PM a pegou pelos cabelos, puxando-a ao chão e depois arrastando até o carro da polícia, na qual recebeu alguns tapas na face e um soco efetuados pela policial, que partiu seu nariz e sua boca. (mais…)

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ONU quer combater o racismo no mundo virtual

Combate ao racismo na internet

Relatório do Escritório para os Direitos Humanos afirma que apesar de a internet ser uma ferramenta positiva ela pode ser usada por grupos radicais para espalhar mensagens de ódio e discriminação racial.

Edgard Júnior, da Rádio ONU em Nova York

As Nações Unidas querem combater o racismo no mundo virtual. De acordo com um relatório da União Internacional das Telecomunicações, UIT, dos 7 bilhões de habitantes do planeta, 2,4 bilhões usam a internet.

Segundo estudo preparado pelo relator especial do Escritório para os Direitos Humanos da ONU, Matuma Ruteere, a internet pode ser usada por grupos radicais para divulgar mensagens de racismo e ódio.

Tecnologia

Ruteere disse que com o avanço tecnológico, os websites extremistas continuam aumentando, não só em tamanho, mas também na capacidade tecnológica.

Segundo o relator, esses grupos usam a internet para provocar violência racial, abusar de minorias e para recrutar novos membros. (mais…)

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MA – Moradores de quilombo ameaçados por pistoleiros conseguem vitória na Justiça

Parte da mata de babaçu desmatada por trator. Fotos: Divulgação CPT-MA

Advogado denuncia ação de milícia em disputa por área onde vivem famílias há 140 anos. Ex-prefeito terá que pagar multa se insistir em invadir terras

Por Stefano Wrobleski

Os moradores do povoado quilombola Puraquê, que fica na zona rural da cidade de Codó, no Maranhão, conseguiram liminar garantindo a posse da área em que vivem na última quarta-feira, 19 de dezembro. Eles procuraram a Justiça por se sentirem intimidados por Benedito Francisco da Silveira Figueiredo, o Biné Figueiredo, empresário e ex-prefeito da cidade, que reivindica a propriedade de 17 quilômetros quadrados. De acordo com Diogo Cabral, advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT) do Maranhão, e representantes da comunidade, o político é responsável por cercar a área e tentar expulsar a população que está lá há pelo menos 140 anos. Biné Figueiredo não foi localizado para comentar a decisão judicial e as denúncias.

Há cinco anos, Biné tenta se apropriar das terras em que os quilombolas vivem, instalando cercas e apresentando documentos que comprovariam a propriedade da área. Em setembro desse ano, as estacas e arames chegaram às casas do povoado. A comunidade reagiu e impediu a continuidade de sua construção, e a tensão na região agravou-se. “Depois da eleição [desse ano], Biné Figueiredo contratou 26 pistoleiros, que descobrimos que eram de uma milícia rural, constituída por policiais militares”, denuncia Diogo Cabral.

De acordo com ele, a comunidade passou a ser intimidada por disparos de fogo; o“cemitério de anjinhos”, um local sagrado para os moradores onde crianças eram enterradas, foi destruído; e parte da mata de babaçu, um tipo de palmeira essencial para o sustento das famílias, foi colocado abaixo. (mais…)

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“Feliz Natal a todos os compadres e comadres e a quem mais precisa”

Pragmatismo Político deseja um Muito Bom Natal a todos os(as) companheiros(as) solidários e fraternos que por aqui se aventuram e têm a paciência de nos aturar

Muito bom natal para os que já rasgaram seus papéis de final de ano, na despedida do pânico e na esperança no próximo;

Muito bom natal para a menina pálida e triste que espera à margem da estrada, pela terra onde se cultive o trigo e se colha o pão;

Muito bom natal para os meninos que mendigam a infância perdida, a solidão do desencanto, e o desejo desesperador de que não se vão o riso e a alegria;

Muito bom natal para a catadora de papel, para os jovens desencontrados no mundo da violência, para as jovens estupradas pela miséria e pela indiferença;

Muito bom natal para os órfãos da afetividade que, destituídos de tudo, contemplam doloridos o tempo que passa, sem crenças, sem coragem, sem luz e sem sonhos;

…e muito bom natal, para todos que dedicam as horas de seus dias, à resistência contra a dor, a exploração, a fome, a impossibilidade da harmonia, o soterramento dos sonhos, a destruição da dignidade, o arquivamento dos direitos, a traição da justiça e, combatendo sobre escombros, mantêm acesa a certeza de que um mundo novo é possível.

Muito, muito bom natal!

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“Natal com Jesus e os magos”, por Gilvander Luís Moreira*

“Já imaginou se os Magos fossem mulheres magas? O que teria acontecido? Elas não teriam pedido informações a Herodes, mas às crianças, prediletas de Jesus. Teriam chegado a tempo. Ajudariam no parto, cuidariam do menino, limpariam o estábulo, fariam o jantar. Além disso, teriam trazido presentes práticos e o mundo viveria em paz”.

Gilvander Luís Moreira, para Combate ao Racismo Ambiental

No Evangelho de Mateus, em Mt 2,1-12, está a narrativa da visita de magos a Jesus, passagem exclusiva das comunidades de Mateus. Para Mateus foram os magos os que por primeiro experimentaram a chegada do divino no humano. O Evangelho de Lucas, ao invés de falar de magos, fala de pastores (Lc 2,1-20). Quem são esses magos? O texto só diz que eles vêm do Oriente, de onde o dia nasce e a vida recomeça. Os magos são pessoas sábias, porque viram a estrela que indicava o nascimento do “rei dos judeus”. Os magos têm intenções contrárias às do rei Herodes, que ficou alarmado e junto com ele toda a cidade de Jerusalém. Nem pela consulta às Escrituras Herodes, os sumos sacerdotes e os escribas se dispõem a reconhecer o divino no humano que acaba de nascer. Acontece então uma oposição muito significativa: aqueles que detêm o conhecimento e o poder da religião oficial ignoram Jesus, enquanto pessoas de outras culturas e práticas, que inclusive seriam condenadas pela lei judaica, como a consulta aos astros, reconhecem o nascimento daquele que iria testemunhar um caminho de salvação e vêm ao seu encontro.

Os magos identificam a estrela que indica Deus se humanizando em/a partir de Jesus. É interessante que depois que os magos saem de Jerusalém a estrela reaparece e os conduz até o lugar em que estava o menino. Curioso é que a estrela desaparece quando os magos chegam a Jerusalém, a capital, o centro político, econômico e religioso! Mas não adianta buscar esta estrela no céu. O texto faz uma ligação entre as atividades dos magos e a estrela que, segundo a tradição judaica, deveria indicar o surgimento do messias. Assim se lia naquela época o texto de Números 24,17: “um astro se levantará de Jacó e um homem surgirá de Israel”. (mais…)

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