“Ao Senhor Ministro Aldo Rebelo: sobre Maraiwatsede”

“Mas por trás da outra corrente parece movimentar-se um ressentimento retroativo que pretende compensar crimes cometidos contra os índios no passado com injustiças contra não índios no presente. Sua última intenção seria negociar um acordo bom para todos. Deixam de ver que nesse tipo de conflito fraticida [sic] que opõe interesses dos brasileiros não pode haver vencedor.” (A. Rebelo)

por Inês Rosa Bueno

Senhor Ministro, acima cito três frases suas de artigo publicado no jornal Correio do Brasil, sobre o processo de desintrusão de Maraiwatsede, no qual atuei como perita do juiz, embora aqueles que o senhor defende nesse artigo, onde demonstra irresponsável desconhecimento dos fatos, me mencionem, entre adjetivos tais como “antapóloga” (ou será substantivo???), como “antropóloga da FUNAI”, entidade de seu governo para a qual jamais trabalhei, fundada em 1967, um ano depois da retirada dos Xavante de Maraiwatsede, pelas Forças Aéreas Brasileiras, a pedido do latifundiário paulista que havia comprado as terras dos índios de um entre tantos governadores corruptos que fundaram o Estado no Mato Grosso. Meu pai foi Secretário da Agricultura de Pedro Pedrossian, nesse ano de 1966, mas em poucos meses, em 1967 retornou para São Paulo com a família, pois ali, naquele momento, não havia nada a fazer, por índios e posseiros destruídos pela ganância selvagem que até hoje domina a política, a economia, e a apropriação de recursos naturais e humanos aquele estado.

E são, sem a menor sombra de dúvida, esses políticos, aliados ao capital internacional, que usurparam as terras dos índios, com argumentos racistas com os quais reuniram poucas dezenas de capangas, para invadir as terras, em 1992, ao saber da conclusão do estudo de identificação e da disposição do presidente da empresa, muito pressionado, em ceder as terras, que jamais poderiam ter adquirido e da qual jamais fizeram outro uso além de desvio de caixa 2. Esses políticos, arquitetados como disse com o governador de estado, reservaram para si, as melhores terras, bem como a sede da Suiá Missu. Ali, segundo dados atualizados do INCRA e IBGE, tudo foi desmatado e destruído ilegalmente em nome do direito de quatrocentos e cinquenta e cinco indivíduos (os quais talvez tenham um décimo do número de filhos que o senhor diz estarem sendo obrigados a deixar a escola), alguns dos quais mantinham até escravos nas novas terras de latifúndio que adicionaram a anteriores pela região, entre eles, um desembargador. Os laudos de perícia fundiária e antropológica sempre afirmaram claramente que ali havia 798 indivíduos. O resto, foram mentiras difundidas com apoio da imprensa e juízes e algumas entidades indigenistas onde também prevalece a corrupção.

Nesse mesmo ano de 1992, enquanto estava em curso o trabalho da equipe de identificação das terras xavantes da Funai, foram encontradas, durante um desmatamento, grande número de ossadas humanas. Apenas os crâneos dessas ossadas, encontradas em 1992, foram colocados em três grandes sacos e escondidas na sede da Suiá Missu, enquanto o restante era queimado junto com o restante da mata que estava sendo derrubada. Suiá Missu, maior latifúndio do mundo, fazenda da empresa italiana AGIP Petroli, do holding da FIAT, que dominava aquele latifúndio improdutivo, onde no máximo foram empregados setenta funcionários tratados com cusparadas na cara por um gerente italiano. Latifúndio do qual uma parcela totalmente inabitada tinha sido identificada para ser entregue aos índios, que antes da homologação cederam num acordo a parte dos cemitérios antigos, habitada há mais tempo.

Isso, são fatos oficiais, de laudos informando sobre estudos realizados por peritos nomeados por juízes. Embora advogados de réus, afirmam o que quiserem imaginar, para a ignorância brasileira, inclusive institucional, sobre o que é aquilo; quem está ali; inventando o que, com quais intenções. E raramente juízes ou desembargadores lêem trechos de laudos ou correspondências pré-selecionadas por suas equipes, mesmo que se trate de processos que chegaram ao Tribunal Supremo do país. Nenhum desses gastos é analisado, nem os prejuízos públicos na região. Muito já cederam esses índios, que têm direitos às indenizações as mais diversas.

Mas, o que gostaria de lhe chamar a atenção é sobre essas ossadas, pois foram encontradas em região próxima ao Rio Araguaia, onde o senhor sabe que houve guerrilhas. Quem são esses mortos? Quem foi massacrado ali? Quem os massacrou faz parte do grupo de pessoas que mandou invadir e ocupou essas terras, e que está aliado a esse holding e outras transnacionais, tais como Monsanto e Cargill. A holding tem empresas do ramo do agronegócio, todas estrangeiras, tais como a New Holland, que pretende, como sabemos, passar ainda a adquirir terras legalmente em toda essa região, com sua tecnologia absolutamente inadequada para aproveitamento de nossos recursos mais valiosos, os quais destrói com prejuízos, os quais a História Brasileira jamais perdoará. Empresas essas que arquitetaram o golpe no Paraguay, com os mesmos brasiguaios latifundiários que vão subindo de Mato Grosso do Sul para o norte, além de cruzar fronteiras, em combinação com o Supremo de seu país.

Então, é isso, enfim. Talvez o senhor tenha interesse, ao invés de prejudicar o detalhado e delicadíssimo trabalho que está sendo feito por seu governo, comandado pela Presidente Dilma Roussef, que designou para isso o Ministro Gilberto Carvalho que confiou a Paulo Maldos a supervisão direta do assunto. Não é responsável que outro Ministro traia toda essa situação, aliando-se ao processo de desinformação liderado pelo advogado dos réus (que de fato cometeram crimes e são culpados) deste processo, irmão da senadora Kátia Abreu, Luís Alfredo Feresin de Abreu, pessoa baixa que até a mim se apresentou por artimanhas e mentiras, para depois me ameaçar no meu papel de perita do juiz.

Esses representantes do seu governo, informados, que se encarregaram deste assunto, lutam ali contra um golpe arquitetado pelos políticos mais reacionários deste país, reunidos, derrubando pontes e destruindo estradas, matando e ameaçando. Então, antes de publicar sobre o que desconhece, talvez o senhor pudesse ajudar se interessando em saber quem são esses cadáveres; procurando saber para onde foram transferidos ou se continuam na sede da Suiá Missu, pois podem eventualmente inclusive ser corpos de guerrilheiros, o que talvez desperte maior interesse e sentimento humanitário do que imaginar que sejam corpos de índios massacrados.

Atenciosamente,

Inês Rosa Bueno
Perita do juiz – processo de Maraiwatsede
Publicado no Comitê Permanente em Apoio à Causa Indígena.
Enviado para Combate ao Racismo Ambiental por Sônia Mariza Martuscelli.
http://oplanetaemmovimentojanetemelo.blogspot.com.br/2012/12/ao-senhor-ministro-aldo-rebelo.html

Comments (4)

  1. Será que o ministro teve a dignidade de corar ao ler esta carta?
    Será que se lembrou que ele faz parte de um Governo que está cumprindo uma decisão da Justiça, que diga-se de passagem que raras vezes se posicionou a favor dos espoliados e oprimidos como neste caso?
    Será que ele vai ter a dignidade de pedir ao Ministério da Justiça que investigue sobre essas ossadas encontras na região e escondidas pelos latifundiários? Ou será que ele vai se omitir e defender os latifundiários que esconderam os crânios? E finalmente uma última pergunta
    é o ministro um latifundiário?

  2. Porque a antropóloga não assume que não veio in loco para fazer o laudo, recebeu tudo pronto da FUNAI, sequer teve o bom senso de apagar o numero do fax da funai em seu relatório. O que se questiona não é se teve índio na região, mas sim na área em litigio. As verdadeiras terras indígenas, hoje assentamento do INCRA P.A MÃE MARIA, P.A DOM PEDRO E OUTROS. Um laudo forjado.

  3. Porque a nobre antropóloga nao diz que as terrados índios na verdade são lá na região da RIO MARIA, onde hoje há um assentamento do INCRA. Respondo: porque a nobre antropóloga nao foi in loco na região, porquê o laudo é forjado.

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