CE – Ato Somos Todos Guarani-Kaiowá

Sábado, 27 de Outubro, às 10:00, UTC-03, Praça dos Leões – Fortaleza

Ato em defesa das comunidades indígenas ameaçadas constantemente de expulsão de suas terras. No Ceará, temos conflitos nas terras dos Tapeba (Caucaia), Jenipapo-Kanindé (Aquiraz), Anecé (Pecém) e Pitaguari (Pacatuba).

No Mato Grosso do Sul, os Guarani, a maior etnia do país, está em situação mais crítica, mas o grupo Kaiowá resiste em sua terra sagrada até a morte, caso o estado não intervenha na guerra instalada com produtores de soja e cana.

São 50 homens, 50 mulheres e 70 crianças. Decidiram ficar e morrer como ato de resistência. Os Guaranis-Kaiowás avisam-nos por carta que, depois de tantas décadas de luta para viver, descobriram que agora só lhes resta morrer. Avisam a todos que morrerão como viveram: coletivamente.

Nestas últimas décadas testemunhamos o genocídio dos Guaranis-Kaiowás. Em geral, a situação dos indígenas brasileiros é vergonhosa. Sem poder viver segundo a sua cultura, imersos numa natureza degradada, corroídos pelo alcoolismo dos adultos e pela subnutrição das crianças, os índices de homicídio da reserva são maiores do que em zonas em estado de guerra. 

A cada seis dias, um jovem Guarani-Kaiowá se suicida. Desde 1980, cerca de 1500 tiraram a própria vida. A maioria deles enforcou-se num pé de árvore. Entre as várias causas elencadas está o fato de que, neste período da vida, os jovens precisam formar sua família e as perspectivas de futuro são ou trabalhar na cana de açúcar ou virar mendigos. O futuro, portanto, é não ser aquilo que se é. Algo que, talvez, para muitos deles, seja pior do que a morte.

Os Guaranis-Kaiowás estão sendo assassinados há muito tempo, de todas as formas disponíveis, as concretas e as simbólicas. Ao final de seus dois mandatos, Lula reconheceu que deixava o governo com essa dívida junto ao povo Guarani-Kaiowá. Legava a tarefa à sua sucessora, Dilma Rousseff. Os indígenas escreveram, então, uma carta:

“Presidente Dilma, a questão das nossas terras já era para ter sido resolvida há décadas. Mas todos os governos lavaram as mãos e foram deixando a situação se agravar. Por ultimo, o ex-presidente Lula prometeu, se comprometeu, mas não resolveu. Reconheceu que ficou com essa dívida para com nosso povo Guarani-Kaiowá e passou a solução para suas mãos.

E nós não podemos mais esperar. Não nos deixe sofrer e ficar chorando nossos mortos quase todos os dias. Não deixe que nossos filhos continuem enchendo as cadeias ou se suicidem por falta de esperança de futuro (…) Devolvam nossas condições de vida que são nossos tekohá, nossas terras tradicionais. Não estamos pedindo nada demais, apenas os nossos direitos que estão nas leis do Brasil e internacionais”.

Toda a História do Brasil é marcada pelo olhar de que o índio é um entrave no caminho do “progresso” ou do “desenvolvimento”. A concepção do índio como um entrave persiste. E persiste de forma impressionante, não só para uma parte significativa da população, mas para setores do Estado, tanto no governo atual quanto nas gestões passadas.

“Então é isso o que vocês querem? Nos matar a todos? Então nós decidimos: vamos morrer”.

Texto adaptado de Eliane Brum.

Compartilhada por Janete Melo.

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