Na BR-381, moradores chegam a fazer obras por conta própria para tentar se proteger
Mateus Parreiras
Nova Era – O medo de que parte da BR-381 desabasse sobre sua casa fez o aposentado Alcides Margadida da Mata, de 48 anos, juntar 650 pneus nas borracharias próximas para montar um muro de arrimo de seis metros de altura. Foram quatro dias para encher os pneus de terra e escorar a rodovia federal no trecho que passa em Nova Era, na Região Central. O vizinho do lado, que constrói uma casa, ainda não precisou fazer o mesmo, porque a vegetação ainda protege os alicerces da estrada. No trecho do quilômetro 327, moradias são levantadas em terras da faixa de domínio da rodovia sem qualquer interferência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), comprometendo alguns pontos da rodovia.
A interferência de invasores nas rodovias, como ocorre no caso da BR-381, é um dos principais problemas da ocupação irregular de faixas de domínio. O Anel Rodoviário de Belo Horizonte chegou a ser interditado no ano passado por conta de invasões. Em 19 de dezembro, a estrutura apresentou rachaduras na pista durante a temporada de chuvas. Só este mês o trecho foi liberado. De acordo com os engenheiros do Dnit, moradores de área invadida da Vila Cachoeirinha, a menos de dois metros do acostamento, bloquearam a drenagem da estrada, o que teria comprometido a sustentação da cabeceira da ponte. Foi preciso remover 15 famílias daquele ponto antes de as obras terminarem.
Morar no trecho da BR-381 perto de Nova Era é perigoso. Só no ano passado, foram registrados cinco acidentes com oito pessoas feridas. Um desses feridos foi o condutor de um Santana, que não conseguiu fazer a curva e voou por sobre a casa de Alcides. O carro parou no meio da garagem. “Eram umas 4h30. Só escutei a borracha no asfalto e depois aquele barulhão do carro se espatifando do lado da minha janela. Minha mulher e eu levantamos da cama num pulo”, relata.
Na entrada da cidade de Periquito, no Vale do Rio Doce, a 285 quilômetros de Belo Horizonte, as onze barracas que vendem palmitos, mexericas, tapetes coloridos e doces na beira da BR-381 representam risco principalmente quando motoristas de carros e carretas estacionam sobre o acostamento estreito para comprar, deixando a via sem qualquer área de escape.
Ocupações também em ferrovias mineiras
O problema de invasões se repete nas estradas de ferro. Das 355 ocupações às margens de trilhos de ferrovias brasileiras, 17% estão em Minas Gerais, que conta com 59 áreas ocupadas irregularmente. São trechos operados pela MRS, FCA e Vale. “Essas invasões são, na grande maioria, oriundas da extinta Rede Ferroviária Federal S.A.”, afirma o presidente da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários, Rodrigo Vilaça. “As invasões são prejudiciais para a segurança das comunidades, que correm riscos de acidentes. Além disso, prejudicam o desempenho operacional das ferrovias. Em alguns trechos, é preciso reduzir a velocidade para 20, 10 e até 5 quilômetros por hora”, diz.
Do tanque usado por sua mãe para lavar roupas o garoto vê composições da MRS descendo carregadas de minério. Acidentes são comuns. “Vi um cavalo partido ao meio, um boi e dois homens atropelados”, conta. Tirando a moradia sem custos, não há muitas vantagens na vida na invasão. O Bairro Jardim Rosário não tem transporte público, escola, esgoto ou comércios. “Aqui fica longe de tudo. Não tem lugar para comprar um palito de fósforo. Se adoecer, pode esquecer. Meu sonho é me mudar”, diz a cozinheira.