A imprensa que estupra – parte 3

A repórter que condenou e humilhou um suspeito não é exceção. O episódio mostra a conivência histórica entre parte da imprensa, da polícia e do sistema penitenciário na violação dos direitos de presos pobres (ou presos e pobres)

Eliane Brum

Uma pesquisa realizada em 2009 por Marcos Rolim, Luiz Eduardo Soares e Silvia Ramos com profissionais de segurança pública mostrou que 20,5% dos quase 65 mil policiais que responderam ao questionário – 1 em cada 5 – afirmaram ter sofrido torturas em seu processo de formação. O curioso é que a cultura de violência também se fazia presente na formação dos repórteres de polícia, ainda que em proporções mais amenas. Uma espécie de “batismo de sangue” (no caso, sangue alheio) era motivo de orgulho e até de certa superioridade diante dos “frouxos” de outras editorias. Posso afirmar que isso persistiu até pelo menos a década de 90 – mas há motivos para supor que ainda exista em algumas regiões do país.

Entre os jornalistas, a iniciação era feita de várias maneiras. Uma repórter contou que, em seu primeiro dia de trabalho, foi escoltada das 7h às 21h por um jornalista veterano, com um revólver calibre 38 na cintura (era a década de 80 e o “três-oitão” ainda vivia momentos de glória). Nestas 14 horas ininterruptas, eles acompanharam todas as mortes ocorridas na cidade – não só os assassinatos, mas também os suicídios. O veterano obrigou a “foca” a examinar os cadáveres, verificar o que havia nos bolsos, apalpar os “presuntos”, como ele chamava. Ao final do processo de violação dos corpos, ela tinha de relatar o número de buracos de bala e de perfurações de faca, sob os olhos cúmplices dos policiais responsáveis pela investigação.  (mais…)

Ler Mais

A imprensa que estupra – parte 2

A repórter que condenou e humilhou um suspeito não é exceção. O episódio mostra a conivência histórica entre parte da imprensa, da polícia e do sistema penitenciário na violação dos direitos de presos pobres (ou presos e pobres)

Eliane Brum

Basta ligar a televisão para ter certeza de que nem essa jornalista, nem esse apresentador, nem essa rede de TV são os únicos a violar direitos previstos em lei, especialmente contra presos e contra favelados e moradores das periferias do Brasil. Especialmente, portanto, contra os mais frágeis e com menos acesso à Justiça. Vale a pena lembrar que o número de defensores públicos no Brasil é insuficiente – em São Paulo, por exemplo, segundo relatório feito pela Pastoral Carcerária Nacional e pelo Instituto Terra, Trabalho e Cidadania, há apenas 500 defensores públicos para prestar assistência jurídica à população carente. E quase 60 mil presos que nunca foram julgados.

Como também sabemos, nenhum jornalista publica ou veicula o que quer. Para que reportagens como esta tenham espaço é preciso que exista antes uma estrutura disposta a permitir que os maus profissionais violem as leis. Em última instância, também quem anuncia seus produtos em programas que exibem esse tipo de reportagem está sendo conivente e estimulando a violação de direitos.

A responsabilidade não acaba aí. Nos blogs, onde o vídeo foi denunciado como uma violação de Direitos Humanos, parte dos comentários dos leitores pode ser assim resumida: “Ah, mas ele não é nenhum inocente”. Ou: “Queria ver se fosse você que ele tivesse assaltado”. São afirmações estúpidas, mas elas ajudam a explicar por que esse tipo de abordagem tem audiência. Persiste ainda no Brasil uma ideia de condenação sem julgamento – e o linchamento público, via TV, é uma das formas mais apreciadas de exercer a barbárie. Até porque, dessa forma, ninguém precisa sujar as mãos de sangue.  (mais…)

Ler Mais

A imprensa que estupra – parte 1

A repórter que condenou e humilhou um suspeito não é exceção. O episódio mostra a conivência histórica entre parte da imprensa, da polícia e do sistema penitenciário na violação dos direitos de presos pobres (ou presos e pobres)

Eliane Brum

– Não estuprou, mas queria estuprar!

A frase foi dita pela repórter Mirella Cunha, no programa “Brasil Urgente”, da Band da Bahia, a um jovem de 18 anos, preso em uma delegacia desde 31 de março. Algemado, ele diz que arrancou o celular e a corrente de ouro de uma mulher, mas repete que não a estuprou. Na reportagem, a jornalista o chama de “estuprador”. Pergunta se a marca que ele tem no rosto é resultado de um tiro. Ele responde que foi espancado. A repórter não estranha que um homem detido, sob responsabilidade do Estado, tenha marcas de tortura. O suspeito diz que fará todos os exames necessários para que seja provado que ele não estuprou a mulher. Ele não sabe o nome do exame, não sabe o que é “corpo de delito” e pronuncia uma palavra inexistente. Ela debocha e repete a pergunta para expô-lo ao ridículo. Ele então pronuncia uma palavra semelhante à “próstata”. A jornalista o faz repetir várias vezes o nome do exame para que ela e os telespectadores possam rir. Depois, pergunta se ele gosta de fazer exame de próstata. No estúdio, o apresentador Uziel Bueno diz: “Tá chorando? Você não fez o exame de próstata. Senão, meu irmão, você ia chorar. É metido a estuprador, é? É metido a estuprador? É o seguinte. Nas horas vagas eu sou urologista…”.

A chamada da reportagem era: “Chororô na delegacia: acusado de estupro alega inocência”. A certa altura, a jornalista olha para a câmera e diz ao apresentador, rindo: (mais…)

Ler Mais

Plantio de eucalipto no município de Itabela cresceu descontroladamente

Plantação de eucalipto
Plantação de eucalipto

Por: J. Alencar

ITABELA – Boa parte da madeira que abastece as operações da Veracel sai do município de Itabela. O que influencia a empresa investir no plantio de eucalipto no município é o histórico de condições climáticas, as estradas e o tipo de solo, favoráveis a cultura da madeira. Com isso o plantio cresceu desordenadamente.

A empresa Veracel Celulose, em 2003, há quase nove anos atrás, criou o fomento, uma parceria entre a multinacional e os fazendeiros da região. A empresa patrocina o plantio e cuida de toda a parte burocrática/documental, com a condição de que toda a produção será vendida para a empresa.

O plantio generalizado e algumas irregularidades envolvendo o nome da empresa acabaram gerando protestos e ações judiciais.  Entre os problemas apontados pela justiça, está a falta de cuidados com a preservação do meio ambiente. As mudanças climáticas são visivelmente claras na região, com a diminuição e até o desaparecimento de algumas nascentes, riachos e da vida selvagem. (mais…)

Ler Mais

Veto parcial mantém florestas brasileiras sob risco

O Comitê Brasil em Defesa das Florestas assistiu nesta sexta (25) com grave preocupação o anúncio da sanção parcial do projeto de Código Florestal aprovado no Congresso, o que frustrou a expectativa de ampla maioria da população pelo veto integral.

O conteúdo das medidas não foi divulgado oficialmente, denotando total falta de transparência. Preocupa-nos ainda, além do conteúdo anunciado, o desdobramento do processo por meio de Medida Provisória.

A anistia segue como eixo central do texto, visto que, a data de 2008 como linha de corte para manutenção de áreas desmatadas ilegalmente continua inalterada e, consequentemente, promove a isenção de recuperação de Áreas de Proteção Permanente (APP) e Reserva Legal.

As flexibilizações em relação a lei atual podem ser ainda ampliadas, pois a matéria e os pontos modificados serão devolvidos ao Congresso.

A sanção parcial pela presidente Dilma reforça a necessidade de ampliar a mobilização, que será intensificada na Rio+20. A campanha “Veta Tudo, Dilma!”, que se tornou um fenômeno social no Brasil, seguramente continuará, pois a sanção parcial não encerra a vontade dos brasileiros de construir um Código Florestal que concilie conservação e produção.

Brasília, 25 de maio de 2012

Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável

http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=6301&action=read

Ler Mais

Prorrogada permanência da Força Nacional em Mato Grosso

Christina Machado, Repórter da Agência Brasil

Brasília – O Ministério da Justiça prorrogou para até 30 de julho próximo a permanência da Força Nacional de Segurança Pública no estado de Mato Grosso, onde apóia a Operação Defesa da Vida, desenvolvida pela Polícia Federal. A portaria está publicada no Diário Oficial da União desta segunda-feira (28).

A Operação Defesa da Vida foi lançada em junho do ano passado pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e pela ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, para combater conflitos agrários, desmatamento ilegal e a ocorrência de homicídios nos estados do Pará, Amazonas e de Rondônia, além de Mato Grosso.

Junto com a Força Nacional, estão envolvidas também as polícias Federal e Rodoviária Federal, além das Forças Armadas. As tropas também acompanham os técnicos agropecuários e proprietários rurais na vacinação do gado contra a febre aftosa, nas propriedades rurais da região.

Edição: Davi Oliveira

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-05-28/prorrogada-permanencia-da-forca-nacional-em-mato-grosso

Ler Mais

Seminário Cultura Negra e Economia Criativa

FAN

O Seminário Cultura Negra  e Economia Criativa tem como objetivo reunir artistas, empresários, produtores, intelectuais representantes do setor público para  refletir sobre o desenvolvimento sustentável das artes e culturas negras. Dias 29  e 30 de maio.

Programação:

Dia 29: Sala Juvenal Dias

09 – 12h: Seminário – Cultura negra e economia criativa Mesa 1 – Panorama da economia negra
Susana Baca (Peru), Tatiana Silva (Ipea/Brasília)  e Youssou n’dou (Ministro da Cultura e Turismo do Senegal)
Mediadora: Thaïs Pimentel

14 – 18h: Seminário- Cultura Negra e Economia Criativa Mesa 2 – Perspectivas para a economia  da arte e da cultura negra Athayde Motta ( Fundo Baobá  para a Equidade Racial/PE), Regina Farias (Sebrae/MG) e Ana Flávia Machado (Cedeplar/UFMG) (mais…)

Ler Mais

Angra – Semana do Meio Ambiente 2012: Menos consumo, mais consciência

A comemoração do dia mundial do Meio Ambiente em 05 de junho nos traz a oportunidade de refletirmos sobre nosso modo de vida e as conseqüências para o meio em que vivemos e nossa qualidade de vida.

Neste ano a SAPE – Sociedade Angrense de Proteção Ecológica e a Rede de Economia Solidária aproveitam a data para apresentar três vídeos ambientais sobre questões de grande impacto para o cotidiano de Angra dos Reis, propormos a criação de uma reserva natural de uso público na Praia da Gruta e para focarmos a questão do consumo, produção e destinação de lixo e reciclagem/ reutilização de materiais.

Os filmes são de curta metragem e foram produzidos durante o curso de audiovisual “Projeto Nosso Filme” realizado pela SAPE no ano passado. A temática abordada envolve o cotidiano da indústria naval em contraposição ao da pesca artesanal; um documentário sobre a tragédia dos morros da cidade e outro sobre a presença da indústria nuclear em nosso município. Após a apresentação dos filmes será realizada uma roda de conversa com o tema “Imagem, cultura e meio ambiente” sobre as questões ambientais enfocadas e o processo de produção que envolve a capacitação de jovens na produção de audiovisual sobre sua realidade e ficção. (mais…)

Ler Mais

O que se espera da Rio+20?

Jean Pierre Leroy*

A Rio+20 realiza-se em um contexto particularmente adverso, tanto mundial quanto localmente. Ascensão econômica da China, conflitos no Oriente Médio, crises nos países europeus e na União Européia, eleições em vários países e em especial nos EUA, fim de um ciclo de expansão do capital fazem com que tanto os detentores do poder político e econômico quanto as sociedades humanas estejam em geral mais preocupados com o dia-a-dia e com um futuro em que a segurança, a manutenção dos privilégios de uma vida razoavelmente confortável ou a busca incessante para alcançar o “desenvolvimento” pesam muito mais do que um possível colapso das bases materiais deste desenvolvimento. Localmente, dois exemplos podem nos mostrar quão longe estamos de um debate de fundo. Tanto a construção da barragem hidroelétrica de Belo Monte quanto a votação pela Câmara do Código Florestal, mesmo que a Presidenta Dilma venha a vetar alguns artigos, colocam a questão socioambiental no seu verdadeira lugar, ou seja, próximo de zero. O meio ambiente não pode frear o crescimento: produção e exportação de commodities e produção de energia (qual e como) não podem ser questionadas.

Este quadro não permite criar ilusões. Gravíssimos problemas ambientais se avolumam e ameaçam grandes áreas e setores da humanidade de colapso num horizonte de tempo bastante curto. Não  é só o clima que está em jogo, mas a biodiversidade, as águas doces, os desertos, os solos, a alimentação, a moradia, etc., combinados numa dinâmica perversa em que múltiplas crises setoriais alimentam umas a outras e geram uma única crise de proporções ainda insuspeitas. Soma-se o aprofundamento e uma nova face da desigualdade, pois nem todos estão e estarão afetados por igual pela crise ambiental e pelo modo como o crescimento impacta territórios e comunidades. A percepção das ameaças e das tragédias em curso não foi ainda suficiente para criar um senso de urgência tão premente que provoque discussões e decisões efetivas sobre as questões de fundo. O filósofo Hans Jonas apelava à “heurística do medo”; e ainda não temos suficiente compreensão e medo do futuro! (mais…)

Ler Mais