Estudantes de Direito da UFPR criam Grupo de Estudos Raciais

“Apesar de sabermos que, a rigor, “raça” é um conceito biologicamente vazio, não podemos deixar de perceber que sua construção social foi e ainda é o marco utilizado para segregar e discriminar, contendo, justamente por isso, potencialidade de contestação da ordem racial vigente”

Thais Pinhata

A discussão das cotas raciais pelo Supremo Tribunal Federal reacendeu um debate que, em verdade, nunca deixou de ter importância em nossa realidade como um todo, refletindo seus efeitos no contexto universitário. O racismo – sua definição, seus limites – ainda é um tema extremamente mal compreendido. Não bastasse isso, tem um papel central na distribuição de poder, riqueza, e mesmo vida e morte, na sociedade.

É relativamente fácil perceber a discriminação direta, o racismo declarado e identificado com totalitarismos ultrapassados, ou com o já distante (será?) colonialismo. Por outro lado, é necessário aprofundar tal conceito para entender porque temos uma distribuição racial do poder e dos espaços de poder. Universidade branca, prisão negra são apenas um pequeno exemplo disso.

Há também a necessidade de contestar a dita democracia racial, que diz ter abolido as raças em prol da mistura. Num país de maioria preta e parda, continua-se tendo uma auto-imagem (propagandística, televisiva, estética) aproximada de padrões europeus, onde o negro, antes trazido à força, vira mercadoria de exportação, mulata globeleza, preto trabalhador.

Mas não só na desigualdade de presença física em espaços de poder reside o problema. Também na sub-representação cultural do pensamento e valores de matriz afro-brasileira: criminalização do candomblé, do funk, do hip hop, das roupas, da linguagem, e de tudo que escape da imagem passada quase à força do país branco, masculino, heterossexual e cristão. Não entender esses mecanismos de distribuição de poder é incorrer no erro de naturalizar situações construídas, e que, portanto, podem ser desconstruídas.

Tendo em vista estas e outras questões relacionadas, um grupo de estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, pretas e pretos, pardas e pardos, brancas e brancos, partindo dos temas debatidos na Semana da Consciência Negra de 2011, fundou o Grupo de Estudos Raciais, com o objetivo de desenvolver tais reflexões, analisar a realidade, desistoriscizando-a, auxiliando tanto na formação de militantes, quanto agindo diante do contexto de desigualdade racial no qual nos encontramos imersos.

Apesar de sabermos que, a rigor, “raça” é um conceito biologicamente vazio, não podemos deixar de perceber que sua construção social foi e ainda é o marco utilizado para segregar e discriminar, contendo, justamente por isso, potencialidade de contestação da ordem racial vigente.

O GER atualmente reúne-se em encontros quinzenais, às quartas-feiras, nos intervalos dos debates do Grupo de Gênero. Neste espaço, é feita a análise de uma bibliografia previamente apontada, e onde também são debatidos os problemas de ontem e de hoje, inclusive de nosso contexto próximo. Não se trata apenas de um grupo de pesquisa, mas de um espaço de reflexão e mobilização em prol de uma pauta tão gritante e, talvez por isso, tão invisibilizada.

Seria muito bom contar com a presença de todos vocês em nossa próxima reunião, dia 06/06. Os textos encontram-se no Xerox da biblioteca, na pasta do GER, sendo o próximo texto Raça Pura de Pietra Diwan.

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