MT – Índios insatisfeitos com atual política

Representantes das etnias do Estado entregaram documento de repúdio ao MPF pedindo a interferência do órgão para que governos tomem providências

Keka Werneck, Especial para o Diário

Lideranças indígenas de Mato Grosso protocolaram na quinta-feira, no Ministério Público Federal (MPF), um documento de repúdio à política atual de educação voltada para as 42 etnias que vivem no Estado. O documento, dividido em sete itens, expõe a insatisfação principalmente de professores indígenas com o modelo implementado hoje em todos os níveis de ensino que, para eles, desconsidera a diversidade das nações tão distintas entre si quanto quaisquer outras.

“O Estado tem falhado conosco”, reclamou o bakairi Edson dos Santos, presidente da Organização de Professores Indígenas (Oprimt), referindo-se as decisões tomadas sem que sejam ouvidos os maiores interessados – a população que vive nas aldeias.

O projeto Hayo do governo estadual, de magistério para índios, está parado. Hayo em língua nambiquara significa “tudo de bom”. Mas na opinião dos contemplados pelo projeto, houve omissão da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), o que não faz jus ao nome da iniciativa.

“Aconteceram coisas que eu jamais pensei que aconteceriam, não tínhamos lugar direito para dormir, o que prejudicou a saúde de muitos de nós”, lamenta a chiquitana Jurenilda Ramos Panará, de Acorizal, que busca se capacitar para atuar na base. “Precisamos dessa formação, de discutir essa formação, mas com quem conhece nossa realidade”.

Grade curricular diferenciada por etnia é outra reivindicação que, como garantem, jamais foi ouvida. “Carnaval para mim não significa nada, não quero ver coisa suja”, reage o xavante Osvaldo Buruwe, representante do Conselho Nacional de Educação Indígena.

Discussões com a diretoria da Seduc, conforme o professor indígena Filadelfo, são raras e o resultado disso é o descumprimento da Constituição, que prevê ensino diferenciado a grupos que têm especificidades. Ele, que representa o Conselho Estadual de Educação Indígena, afirma que a entidade existe oficialmente, mas não é levada em conta na tomada de decisões. “Só fazem de conta que ela está aí”.

O gerente de Educação Indígena da Seduc, Sebastião Ferreira, admite que tem sido “um tanto restrita” a relação do governo e representantes das etnias, devido à distância entre o órgão público e as terras indígenas. Mas diz que será marcada uma reunião com a secretária de Estado de Educação, Ana Carla Muniz, para tratarem de sugestões propostas pelo Conselho Estadual de Educação Indígena. Ferreira garante ainda que o projeto Hayo será retomado em setembro nos quatro pólos – Comodoro, Canarana, Campinápolis e Xingu – para 250 alunos.

A reivindicação tem apoio do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). “O Estado precisa repensar este modelo, que é tido como avançado. Daí podemos avaliar a quantas anda a educação indígena no Brasil”, observa o coordenador Regional do Cimi, Sebastião Carlos Moreira. Apesar de protocolado no MPF, ontem à tarde o documento ainda não havia chegado às mãos da equipe do procurador Mário Lúcio Avelar, que está de férias e só retorna em setembro, a quem as lideranças indígenas pedem a interferência.

http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=262470

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