Temendo políticas de Hollande, milionários cruzam Canal da Mancha

O primeiro ministro François Hollande é o rimeiro presidente socialista a liderar o país nos últimos 17 anos

A derrota de Nicolas Sarkozy por François Hollande – primeiro presidente socialista a liderar o país nos últimos 17 anos – está causando algum medo entre os círculos mais ricos de Paris. O novo presidente pode bloquear a política de austeridade da zona do euro, defendida pela chanceler alemã Angela Merkel, mas ele não se opõe que seus cidadãos mais ricos sintam o aperto. As informações são do diário britânico The Telegraph.

Hollande planeja implementar um imposto de 75% em rendimentos acima de 800 mil euros (cerca de R$ 2 milhões), sobre 45% para pessoas que ganham mais de 150 mil euros (cerca de R$ 375 mil) ou mais. Ele também espera elevar impostos em propriedades e terminar com os incentivos de seu predecessor para atrair banqueiros.

Em adição a isso, as pessoas com maiores rendimentos da Franca se sentem cada vez mais desconfortáveis em um país governado por um homem que admite não gostar dos ricos. Então, onde eles estão procurando oportunidades? Em Londres. Não é surpresa – enquanto Hollande se prepara para aumentar impostos, na cidade britânica David Cameron está cortando a taxa para rendas acima de 150 mil euros (aproximadamente R$ 375 mil) de 50% para 45%. “Eu já trabalhei em Londres e vivi em South Kensington”, disse um banqueiro francês, que espera voltar ao Reino Unido nos próximos três meses. “A questão é o quando a retórica de Hollande vai se materializar em políticas”, afirma.

Poucos estão dispostos a esperar para descobrir. Empresas privadas de capital e bancos americanos em Paris já começaram a se organizar para que seus principais executivos se transfiram para escritórios em Londres, em meio a preocupações sobre mudanças no regime de impostos francês.

Pessoas com altos rendimentos estão mudando seu comportamento para que estejam seguros em Londres antes de qualquer ofensiva mais dolorosa. “Sócios estão nos procurando para estabelecer um histórico de comportamento que esteja fora do imposto, desde a fase inicial, para que eles possam responder rapidamente ao que está por vir”, conta uma fonte de uma firma privada.

“O êxodo vai significar que muitos milionários da França se mudarão para Londres”, afirmou um gestor de fundos. “Isso não vai ser possível para todos, mas aqueles que puderem se mudar vão trabalhar em um plano de contingência”, complementa.

Um banco americano está organizando conselhos sobre impostos para seus funcionários em Paris. “Naturalmente, as pessoas estão preocupadas, e nós estamos tentando abordar estas preocupações”, revelou uma fonte.

A fonte insiste que a situação não significa uma saída em massa da França, mas prefere que os funcionários tenham opções. De qualquer forma, diversos funcionários pediram para ser transferidos, muitos para Londres.

Londres, obviamente, já tem uma população francesa de milhares de pessoas. Todos os bancos franceses têm subsidiários no Reino Unido.

Mas agora as comportas estão rangendo. Agências imobiliárias relatam um aumento de interesse nas últimas semanas, quando a vitória de Hollande começou a se concretizar, e as pessoas citavam esse motivo, especificamente, para começar a procurar imóveis no país.

A agência Winkworth, em South Kensington , diz que viu um aumento de 50% em consultas de compradores franceses desde as eleições, e que por isso teria contratado um funcionário fluente em francês para ajudar na demanda.

Agências rivais contam a mesma história. Noel de Keyzer, da agência Sloane Street of Savills, afirma que mesmo antes das eleições, falou com diversas filiais francesas sobre seus temores a respeito das propostas de Hollande, e todos disseram que veriam um aumento de compradores franceses na região central de Londres.

James Pace, gerente dos escritórios de Knight Frank’s Chelsea e South Kensington, conta que um investidor lhe disse que a chegada de Hollande marcaria “o terceiro maior êxodo da França – o primeiro na Revolução, e o segundo quando Mitterand [último presidente socialista] chegou ao poder”. Clientes que até agora viviam de aluguel agora estão buscando firmar raízes em Londres.

Mas nem todas as preocupações são sobre uma cobrança de impostos punitiva, de acordo com os franceses que já estão em Londres. Stéphane Rambosson, sócio-gerente da consultoria Veni Partners, argumenta que a chegada de Hollande é um mau presságio para os negócios.

“Você tem que ter uma razão muito específica para ter um negócio na França em vez de no Reino Unido, por exemplo o acesso a trabalhadores capacitados, ou a necessidade de estar bem próximo aos clientes”, ele afirma. “Sarkozy havia implementado uma redução nas mudanças sociais para aumentar a competitividade na França. Essas mudanças vão desaparecer, e os custos trabalhistas, que são enormes, devem aumentar”, acrescenta.

“Se você paga 100 mil euros (R$ 250 mil) para um empregado em Londres, o equivalente na França é de 170 mil euros (R$ 425 mil), praticamente o dobro do custo. A administração e o quadro regulamentar também são muito complicados”, relata.

O grito de “Bem-vindo a Londres”, do prefeito Boris Johnson, feito mais cedo esse ano, quando a França adotou o imposto sobre transações financeiras – odiado pela cidade – foi ouvido alto e claro.

Enquanto a Suíça, Bélgica e Reino Unido têm sido, tradicionalmente países considerados interessantes por aqueles que deixavam a França, Londres está cada vez mais atraente, segundo David Blanc, sócio da gestora de riquezas Vestra Wealth.

Há, ainda, outro fator. Com o novo presidente em oposição ao esforço da Alemanha para impor duras medidas de austeridade, a perspectiva de tumulto na zona do euro sobe.

Nesse contexto, os atrativos de Londres em relação à propriedade é particularmente grande. É sabido que o dinheiro estrangeiro foi espalhado pelos locais centrais da cidade, enquanto as pessoas procuram por um refúgio para suas riquezas em meio à incerteza econômica. Enquanto os investimentos “seguros” tradicionais, como títulos, oferecem rendimentos irrisórios, a propriedade comercial em Londres pode render entre 4% e 5% em um ano.

“Os franceses mais ricos podem ficar chateados com a perspectiva de aumento de impostos, no entanto, isso não se compara ao susto que tiveram em 1981 [quando o socialista Mitterrand foi eleito].”, opina Jessica Scale, chefe francesa da consultora Logica. “Os rumores na época eram de que os tanques soviéticos iriam invadir o Champs Elysées”, recorda.

http://www.jb.com.br/internacional/noticias/2012/05/13/temendo-politicas-de-hollande-milionarios-cruzam-canal-da-mancha/#.T7A-o6bchJQ.gmail

Enviada por José Carlos.

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