O desabafo indignado de um ex trabalhador terceirizado da Veracel

Nelson Nedis Santos de Jesus

“A Veracel celulose é uma multinacional instalada no extremo sul da Bahia, situada no município de Eunápolis, às margens da BA 275. A Veracel celulose não é uma empresa que nasceu em 1995, como ela propaga; os seus primórdios remontam à Froníbal, uma transnacional que chegou aqui no extremo sul na década de setenta (1970) com um único objetivo: desmatar e obrigar os pequenos agricultores a saírem das suas terras, terras devolutas (da União).

Depois de atingir o seu objetivo de desmatar e erradicar a fauna e a flora, ela, a Froníbal, passou as suas “terras” para a Vale do Rio Doce, que teve como desenvovimento  a pecuária (criação de gado) a qual perdurou até a Veracruz Florestal. Essa nomenclatura – Veracruz Florestal – ficou até 1994, quando aparece com uma nomenclatura de Veracel celulose, isso em 1995. Essa nomenclaturas se estendeu desde a década de 1970, como uma forma de camuflar o seu intento maior e perverso, que era a incrementação do plantio do eucalipto nos municípios de Eunápolis, Crabália, Porto Seguro, Itagi Mirim, Belmonte, Itabela, Guaratinga, Itapebi.

A Veracruz (Veracel) desmatou e envenenou os rios e as nascentes, plantou em terras Indígenas, fez tudo isso em nome do “progresso”. Como progresso pode ser definido como desenvolvimento, a Veracel desenvolveu um deserto verde e cancerígeno, que paulatinamente erradicou a fauna e a flora. Hoje ela (Veracel) se ostenta da RPPN que tem aproximadamente umas 6.000 ha, mas que na realidade foram das outras nomenclaturas: Froníbal, Vale do Rio doce e Veracruz Florestal.

O que houve na bem verdade foi uma hierarquia fundiária perversa. A Vale do Rio Doce usava pistoleiros para matar pais e mães de famílias que não queriam sair de suas terras. Todo esse processo hierárquico tinha como único objetivo concentrar as terras para a monocultura do eucalipto.

No começo a Froníbal tentou a incrementação do pinho (o pinho é uma espécie de arvore exótica que na época foi trazida para o município de Porto Seguro e Crabália como experiência) para celulose. Hoje o pinho não existe mais, mas até os meados da década de 1990 eles ainda existiam, e indo para o Rio do Sul no município de Crabália, entrando em Zeca de Liliu havia um experimento.

O que mudava era as nomenclaturas, mas  o racismo ambiental era e é o mesmo. A Veracel celulose vai além de agredir o meio ambiente, ela agride as pessoas. Hoje a empresa Veracel tem demitido seus funcionários que fazem parte dos movimentos sociais que reivindicam as terras devolutas que estão com a Veracel. Há casos em que a Veracel mandou empresas rescindirem contratos de trabalho com pequeno empreendedor só porque ele faz parte de um movimento social que tem uma repercurssão a nível não somente de Brasl, mas de mundo, que é o MST…

Só para se ter uma ideia do racismo ambiental promovido pela Veracel, em 2011 houve algumas audiências sobre a ampliação da fabrica (a construção de  outra fabrica). Várias pessoas que fazem parte dos movimentos, como eu, estiveram presentes para dizer o que essa empresa famigerada fez e o que pretende fazer com essa nova fabrica. Eu na época trabalhava em uma empresa que prestava serviço para a Veracel, e fui demitido. Na época sofri um acidente de trabalho na Plantar, empresa que mencionei anteriormente. Me submeti a duas intervenções cirúrgicas na coluna lombar e cervical com fixação de artefatos metálicos, e a empresa por mando da Veracel celulose me demitiu.

Hoje estou desempregado, e não há nenhuma perspectiva de que eu arrume emprego devido às sequelas pós cirúrgicas. Tenho ações trabalhistas contra a empresa Plantar S/A, mas como a nossa justiça é morosa  – “morosa para julgar os processos contra as  empresas que racistamente agem contra o cidadão”, cidadão desprovido dos seus direitos, direitos que o estado “democrático de direito” que é o Brasil lhe tira.

Como se não bastasse o racismo ambiental, usa-se uma outra forma de racismo, que é o racismo visual: a justiça fecha os olhos para tais atos cometidos pela Veracel. Daí o termo de que a justiça é cega é fato: a justiça é cega para ver os crimes cometidos por tal empresa, mas enxerga claramente quando é para beneficiá-la, como foi o caso do INEMA, quando concedeu a licença ambiental  para a Veracel ampliar (contruir sua nova fabrica), mesmo havendo uma série de irregularidades ambientais.

O racismo ambiental é uma prática bem definida em nossa região, mas não há um entendimento da sociedade a respeito, e os órgãos competentes não tratam o assunto com seriedade e humanismo. E igualmente o racismo visual.

Observação. “O racismo visual é uma forma de se excluir visualmente o racismo ambiental para não considerá-lo, mesmo sabendo que o racismo ambiental existe”. Se o termo racismo visual não for ponderável, gostaria que o fizessem, ou o tivessem como termo relevante. Porque o racismo visual tem sido uma realidade perversa e hedionda…!”

Enviado através de Ivonete Gonçalves.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.