Pensamento marxista é crucial para entender mudanças, diz Therborn

O pensamento de Karl Marx é crucial para compreender as mudanças ocorridas nos séculos XVIII e XIX e as gradativas transformações de regiões até então eminentemente agrárias em zonas urbanas a partir do século XX. A opinião é do sociólogo sueco Göran Therborn, que fez conferência no dia 11/4 à noite, no Plenário Otávio Rocha da Câmara Municipal de Porto Alegre. Ele abordou o tema Os Novos Patamares da Política – Marxismo, Pós-Marxismo e o Retorno de Marx. O evento foi promovido pelo Memorial da Câmara, Escola do Legislativo Julieta Battistioli e Comissão de Educação, Cultura, Esportes e Juventude (Cece), com apoio do Cpers/Sindicato, Hotel Everest, Sinpro-RS e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

Para Therborn, a análise do que ocorreu no século XX passa pelo entendimento do capitalismo através do pensamento de Karl Marx. “Os cientistas sociais do século XX se perguntam por que Marx tem esta atração. Marx continua a ser a fonte”, disse o sociólogo. Segundo ele, mesmo jornalistas liberais parecem ter redescoberto Marx, recentemente, reconhecendo a sua capacidade de análise.

O apelo ao pensamento marxista, diz Göran Therborn, pode ser explicado pela sistematização que Marx conseguiu fazer a respeito do capitalismo e das condições de vida dos trabalhadores. “Mesmo a social-democracia da Europa, na época, não conseguiu sistematizar de forma consistente o que estava acontecendo no mundo.” Segundo ele, Marx não apenas apresentava as razões para o que ocorria como também mostrava soluções, apontando a organização da classe trabalhadora como a grande geradora de oportunidades de mudanças. “Ele mostrou aos povos que sofriam com o imperialismo que a única forma de mudança seria a organização.”

Contradições

De acordo com o pensador sueco, a análise marxista pode ser resumida pela demonstração de todas as contradições geradas pelo crescimento da riqueza e da produtividade. “A riqueza não fica com quem a produz.” Therborn avalia que o fortalecimento do capitalismo significou o crescimento do Estado, com a oferta de serviços como transporte e telefonia. Ao mesmo tempo, diz ele, houve também o crescimento dos movimentos sociais e sindicais. “O capitalismo confirmou as análises feitas por Marx.”

Therborn, no entanto, ressalta que o marxismo não foi capaz de fazer uma autocrítica e analisar suas derrotas. “Com a globalização e o neoliberalismo do século XX, houve mudanças nas relações entre trabalho e capital. As mudanças que ocorreram no final do século XX já eram visíveis nos anos 60, quando houve o enfraquecimento do movimento trabalhista, a produção mais especializada, a acumulação de polos de capital financeiro e a geração de enormes recursos para o capital privado através do comércio eletrônico. Novas formas de fazer dinheiro transformaram as relações do capitalismo e explicam o triunfo do neoliberalismo.”

Livro 

Citando alguns pontos abordados no seu mais recente livro, Marxismo e Pós-marxismo (Editora Boitempo), Göran Therborn disse que Marx é não apenas um analista do capitalismo, como também da modernidade. Ao analisar a conjuntura econômica atual, o sociólogo destaca a contradição existente na recuperação de bancos com a ajuda do Estado. “O peso maior da crise está recaindo sobre os trabalhadores da manufatura, pois aqueles que realmente armaram a situação não estão pagando a conta. Houve uma deslegitimação da exploração capitalista e do neoliberalismo, sem que tenha sido eleita nenhuma alternativa de esquerda para dar soluções ao capitalismo.”

Professor emérito aposentado da Universidade de Cambridge, Therborn esteve no Brasil para um ciclo de três conferências, em São Paulo (dia 10/4), Porto Alegre (11/4) e Belém (13/4), e para o lançamento de seu mais novo livro: Marxismo e Pós-marxismo (Editora Boitempo). A obra traz um balanço dos avanços e retrocessos no cenário mundial dos campos políticos de esquerda e de direita.

Therborn também é professor de Sociologia da Universidade Linnaeus, Suécia. Foi co-diretor do Collegium Sueco para Estudos Avançados em Ciências Sociais em Uppsala e professor de Sociologia da Universidade de Gotemburgo, Suécia, além de ter sido professor de Ciência Política na Universidade Católica de Nijmegen, Holanda. Tem obras publicadas em pelo menos 24 idiomas.

Enviada por Elisabete Coutinho para a lista CEDEFES.

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