Povos tradicionais de terreiros se mobilizam rumo à Cúpula

No Brasil, povos tradicionais de matriz africana enfrentam questões que afetam diretamente a preservação de sua cultura: a intolerância religiosa e o desenvolvimento urbano desenfreado.

Para buscar soluções, esses temas estão na pauta do encontro que acontece na próxima terça-feira (20/3), no Rio de Janeiro, organizado pela Associação do Movimento Afro-religioso do Rio de Janeiro. Pela primeira vez, grupos afro-religiosos se reunirão para pensar sua participação na Cúpula dos Povos. Eles precisam mostrar ao mundo a fragilidade de tradições que envolvem natureza e fé.

Ativistas do movimento afro-religioso apontam a expansão do espaço urbano como um dos principais fatores para a perda de seus templos, os terreiros. “As cidades crescem em ritmo cada vez mais acelerado e, junto com o crescimento, acontece a especulação imobiliária. Essa expansão também reduz o número de áreas verdes no espaço urbano. Consequentemente, fomos perdendo nossos territórios litúrgicos”, explica Ogan Israel Evangelista, coordenador da associação.

Uma cultura ameaçada
O desenvolvimento urbano incide como grave problema na preservação dos terreiros à medida que esses povos deixam de receber apoio do governo. Os movimentos reivindicam políticas públicas voltadas tanto para a conservação desses espaços quanto para a própria comunidade afro-religiosa.

“Toda religião tem seu templo. Os católicos e evangélicos, por exemplo, têm as igrejas. Os muçulmanos, as mesquitas. E nós, os terreiros. Enquanto outras religiões são reconhecidas pela sociedade, as religiões afro-brasileiras não são valorizadas e, por isso, não recebem nenhum tipo de apoio do governo para que mantenham seus territórios sagrados”, explica Kika Bessen, representante da Confederação Nacional de Entidades Negras (Conen).

Os terreiros de candomblé e de outras vertentes religiosas não são apenas locais de ritos espirituais. Tradicionalmente, também são áreas de cultivo de ervas medicinais. Por isso, os movimentos afro-religiosos entram, ainda, na luta pela preservação do meio-ambiente.

“Estamos correndo o risco de perder nossos territórios para plantio. As ervas medicinais são elementos da nossa cultura, da nossa religião. Fazem parte dos nossos rituais”, lembra Ogan.

Esses mesmos rituais também são alvo de preconceito das comunidades no entorno dos terreiros. Kika conta conhecer muitos casos em que moradores pediram à prefeitura que terreiros fossem interditados. “Fazem isso em tom de denúncia, porque somos criminalizados. Por isso, também é preciso fortalecer nossa luta contra a intolerância religiosa”.

Na Cúpula dos Povos, entidades pretendem apresentar um documento sobre os direitos dos povos afro-religiosos. Segundo Kika, a construção dessa carta será feita em conjunto com diversos grupos brasileiros. Para isso, mais encontros serão realizados pelo Brasil.

“Queremos organizar uma articulação nacional e depois intensificar nosso relacionamento com povos da América Latina e da África”, acrescenta.

Serviço:

I Encontro de Articulação e Mobilização dos Povos Tradicionais de Terreiros para a participação na Cúpula dos povos da Rio + 20

Quando: 20 de março de 2012, das 14h às 19h
Onde: rua Camerino, 51, Centro, Rio de Janeiro.

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