A descoberta do paraíso terrestre

Mino Carta, CartaCapital

“Quando em 1501 Americo Vespucci chegou ao deslumbrante recanto em que anos depois seria fundada São Sebastião do Rio de Janeiro, ficou extasiado. Mais tarde escreveria: “É o paraíso terrestre”. Há quem considere Vespucci mais importante do que Colombo, certo é que foi o florentino quem desfez a crença do genovês: a terra alcançada não era a Ásia, as Índias, mas um novo, inesperado continente. O qual, por isso, se chamou América.

Vespucci, aliás, é o verdadeiro descobridor do Brasil, Cabral foi quem tomou posse da terra “onde tudo, em se plantando, dá”. O navegador toscano fez duas viagens americanas. A primeira em 1497, a serviço dos reis da Espanha, repetiu a rota de Colombo para estender-se às costas da Venezuela e, a partir delas, descer até as do Maranhão. A segunda, três anos depois, ao deixar a Espanha para servir a Portugal.

Graças a Vespucci, na certeza de encontrar o Brasil, Cabral saiu da rota que oficialmente repetiria Vasco da Gama para dobrar o Cabo da Boa Esperança e chegar às colônias indianas. Burlar o Tratado de Tordesilhas recomendava subterfúgios e artimanhas; cuidou-se, portanto, de atribuir o desvio a um vento imprevisto. Resta o êxtase do primeiro europeu a se defrontar com o cenário guanabarino. Ali estava o paraíso terrestre. (mais…)

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Jerusalém, Tel Aviv, Gaza e Sderot: cidades entre muros e fronteiras

Raquel Rolnik*

Entre os dias 29 de janeiro e 12 de fevereiro, visitei algumas cidades em Israel e na Palestina, como Relatora da ONU para o Direito à Moradia Adequada. Em uma área de menos de 40 mil quilômetros quadrados, numa terra disputada milímetro a milímetro, estas cidades se debatem entre muros e fronteiras.

Em Jerusalém, cada uma das pedras branco-amareladas que vão desenhando colinas, muralhas, igrejas, mesquitas, casas e tumbas, já foi de cananeus, filisteus, babilônios, gregos, romanos, cruzados, islamitas, hebreus e, numa sucessão de ocupações, massacres e peregrinações, a cidade constituiu um tecido carregado de simbolismo e tensão. Mesmo com a anexação de sua parte oriental e a expansão de suas fronteiras pelos israelenses, depois da vitória militar na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Jerusalém ainda é uma cidade dividida. Nos bairros palestinos da parte leste, Jerusalém é uma cidade árabe, que resiste, com suas vielas e o canto dos muezim. Na parte oeste, e em toda a sua volta, os bairros lembram a paisagem da periferia de cidades europeias, com seus blocos de edifícios e pequenos centros comerciais.

Uma linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilho) foi construída recentemente onde antes passava a Green Line — a fronteira entre Israel e Jordânia estabelecida em 1948. Para alguns, o VLT rasga o coração da cidade árabe para juntar os dois pedaços da cidade judia – a velha Jerusalém ocidental e os assentamentos judaicos que foram construídos para além da Green Line, numa estratégia clara, por parte dos israelenses, de consolidar a ocupação. Para outros, ela é o elemento de ligação e tentativa de costura das duas cidades – a judia e a árabe – que, há 45 anos, resistem a uma unificação que, na prática, nunca existiu. (mais…)

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”Atender a demanda indígena é contrariar a política federal de incentivo ao agronegócio”. Entrevista especial com Eduardo Carlini

“A morte de caciques e professores, lideranças Guarani-kaiowá, são a máxima expressão dos conflitos fundiários que envolvem a permanente luta por território e por sobrevivência dos indígenas e a ascensão dos latifúndios do agronegócio”, afirma o geógrafo

“A omissão do Estado em relação à questão agrária e indígena no Brasil é algo que reforça a violência no campo brasileiro enquanto um problema estrutural, ao mesmo tempo em que fortalece a elite agrária e provoca a morte dos povos indígenas”. A afirmação é de Eduardo Luiz Damiani Goyos Carlini, geógrafo, que fez parte da Expedição Marcos Veron, que visitou, até o último dia 25 de janeiro, diversas aldeias do estado de Mato Grosso do Sul para registrar a situação de vida dos Guarani-kaiowá e as ameaças de morte às suas lideranças. O objetivo é elaborar um material que possa compor a luta dos Guarani-kaiowá pela demarcação de seu território e pela cessação imediata da violência a que estão submetidos cotidianamente. Na entrevista que concedeu por e-mail para a IHU On-Line, ele dá detalhes da experiência e é enfático quando questionado sobre as ameaças de morte às lideranças indígenas: “Não são apenas ameaças, mas assassinatos praticados rotineiramente”.

E continua: “a ação dos fazendeiros se configura por homicídios bem planejados. Não mandam matar qualquer membro da comunidade, mas sim lideranças – sejam eles caciques ou professores. Tiram de circulação aquelas pessoas escolhidas pela própria comunidade por terem a capacidade de repassar os ensinamentos para o coletivo e inevitavelmente fortalecer a organização do movimento indígena. A perda dessas referências para a comunidade traz, em si, o medo como parte do cotidiano. E essa é uma estratégia utilizada pelo agronegócio para o extermínio desses povos. A população vive em constante incerteza sobre seu próximo amanhecer”. Por fim, conclui Eduardo, “precisamos também destacar que não só os indígenas em todo o Brasil recebem ameaças de morte por parte da elite agrária, mas também os camponeses que lutam pelo direito legítimo de acesso à terra de trabalho nos mais diversos cantos deste país”. (mais…)

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Imobiliária devedora de IPTU quer despejar 700 famílias em Carapicuíba

A Favela do Savoy – que adotou o nome da empresa – já vive essa briga pela posse do local desde 2005, dois anos depois que as pessoas iniciaram a ocupação. Mas desta vez o prazo apertou e os moradores, que receberam no dia 25 de janeiro o aviso de reintegração, buscam acreditar nas promessas que lhes são feitas. A ação de reintegração de posse, marcada para 6 de março, pode dar vitória à Savoy Imobiliária Construtora na disputa do terreno de 66 mil metros quadrados

Fábio Nassif

Mais 700 famílias podem ficar sem moradia em um despejo marcado para o dia 6 de março em Carapicuíba, em São Paulo. A ação de reintegração de posse, marcada para às 6 horas, pode dar vitória à empresa Savoy Imobiliária Construtora na disputa do terreno de 66 mil metros quadrados. A empresa ficou marcada na CPI do IPTU, realizada em 2009 pela Câmara dos Vereadores de São Paulo, por ser o maior grupo devedor de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) da cidade, e provavelmente do Brasil.

A Favela do Savoy – que adotou o nome da empresa – já vive essa briga pela posse do local desde 2005, dois anos depois que as pessoas iniciaram a ocupação. Mas desta vez o prazo apertou e os moradores, que receberam no dia 25 de janeiro o aviso de reintegração, buscam acreditar nas promessas que lhes são feitas.

Segundo Tião, que mora lá, as famílias passaram a ter esperanças nas palavras do prefeito Sergio Ribeiro (PT), que prometeu, na campanha eleitoral, que este caso poderia ser resolvido quando ele assumisse a gestão da Prefeitura. (mais…)

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Entrevista histórica com Eleonora Menecucci

Eleonora Menicucci de Oliveira, nasceu em Lavras, Minas Gerais, em 1944, é Professora de Ciências Humanas em Saúde da Universidade Federal de São Paulo, atuou em grupo clandestino durante a ditadura sendo militante da POLOP e da POC. Reside em São Paulo.

Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (1974), mestrado em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba (1983) e doutorado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (1990) e Livre Docência em Saúde Coletiva pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Atualmente, é servidora pública da Universidade Federal de São Paulo, lotada como docente no Departamento de Medicina Preventiva da UNIFESP. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da Saúde, atuando principalmente nos seguintes temas: direitos humanos, direitos reprodutivos e sexuais, autonomia, aborto-escolha, violência doméstica e sexual, políticas públicas, avaliação qualitativa e autodeterminação.

Entrevista com Eleonora Menicucci de Oliveira (feita em 14/10/2004, por Joana Maria Pedro em Cárceres, MT*). (mais…)

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Mia Couto e o exercício da humildade

Por Marilene Felinto*

O principal escritor moçambicano diz que é mais velho do que o seu próprio país

Mia Couto, ou António Emílio Leite Couto, 47, uma das vozes mais originais da literatura de expressão portuguesa contemporânea, é também biólogo formado. Moçambicano de nascimento, filho de portugueses, vive em Maputo.

Militante da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) desde a sua fundação, com a qual lutou pela Independência contra Portugal e trabalhou durante o período da guerra civil, ele se diz hoje afastado da militância e saudoso da época em que a ex-marxista Frelimo, liderada por Samora Machel, “um homem a quem nós endeusávamos”, cantava nas reuniões e congressos.

Em seu escritório de em Maputo, Mia falou sobre o exercício de humildade que é fazer literatura de ficção num país pobre como Moçambique e da influência da literatura brasileira sobre sua obra. “Aqui, o nascimento de uma literatura nacional é contemporâneo do nascimento da própria nacionalidade. Eu sou mais velho que o meu país. É uma circunstância histórica realmente singular.”

Couto é autor de, entre outros, “Cada Homem é Uma Raça” (Ed. Nova Fronteira, 1990) e “A Varanda do Frangipani” (1996). (mais…)

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Videla admite execuções em ditadura argentina

Videla, durante as últimas três décadas, negou a existência de desaparecidos

Em sua 1ª entrevista desde a redemocratização, general que deu golpe em 1976 diz que regime militar ‘cumpriu objetivos’ e agradece ajuda da Igreja

Ariel Palacios

BUENOS AIRES – “A ditadura militar cumpriu seus objetivos.” Com estas palavras, o general Jorge Rafael Videla justificou o golpe militar do qual participou em 1976, dando início a um regime militar de sete anos de duração, que deixou milhares de civis torturados e mortos pela ditadura, além de centenas de milhares de exilados políticos e econômicos.

Em entrevista à revista espanhola Cambio 16 – suas primeiras declarações à imprensa desde o fim da ditadura, em 1983 -, Videla, de 87 anos, que está preso há vários anos na Unidade 34 do Serviço Penitenciário do quartel de Campo de Mayo por crimes contra a humanidade, reconheceu a morte de 7 mil civis por parte da ditadura.

A declaração significa uma drástica mudança na posição de Videla que, durante as últimas três décadas, nos diversos julgamentos aos quais foi submetido, negou a existência de desaparecidos, de uma política sistemática de campos de concentração e da eliminação física dos críticos do regime. (mais…)

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Polícia realiza despejo em acampamento do MST no estado de Alagoas

Cerca de 80 famílias de trabalhadores rurais do MST sofreram, ontem, o despejo forçado do Acampamento Patativa do Assaré, em Maragogi (AL), na área da fazenda Cachoeira, ocupada desde janeiro de 2011.

A fazenda, arrendada à Usina Santa Maria, possui dívidas que nem proprietário, nem arrendatário pretendem quitar.

A reintegração de posse está sendo cumprida pelo Centro de Gerenciamento de Crises, Direitos Humanos e Polícia Comunitária (CGCDHPC) da Polícia Militar. As famílias agora entulham seus pertences no caminhão trazido pela polícia. As negociações vinham acontecendo no âmbito da Vara Agrária, que decidiu pela reintegração.

Surpreende a agilidade do estado brasileiro, em diferentes níveis, quando se trata de se mobilizar a favor dos interesses das elites que o permeiam, ao mesmo tempo em que nega as condições mínimas de vida e dignidade à sua população, como terra, moradia, educação, saúde, etc.

“A responsabilidade da Reforma Agrária não é só do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), mas do estado brasileiro, que nega o acesso ao trabalho, renda, moradia, mas garante todas as condições estruturais para atender interesses da classe latifundiária, industrial, que por hora domina a sociedade”, afirma Débora Nunes do MST.

http://www.mst.org.br/Policia-realiza-despejo-em-acampamento-do-MST#.Tz2xljVCTB4.email

Enviada por José Carlos.

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MST ocupa Fazenda sonegadora de impostos no município de Serrana (SP)

Cerca de 200 integrantes do MST da região de Ribeirão Preto ocuparam no último sábado (11) a Fazenda Martinópolis, ligada a Usina Nova União, situada no município de Serrana, estado de São Paulo.

A área está em processo de execução fiscal por parte do governo do estado contra os proprietários da Fazenda Martinópolis que sonegaram impostos.

A Usina Nova União – de açúcar e etanol – sonegou cerca de R$ 300 milhões por não ter arrecadado Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). São inúmeras as denúncias de problemas trabalhistas e ambientais que envolvem esta Usina. E o povo brasileiro não vai pagar essa conta.

Reforma Agrária na Martinópolis

Lutamos pela arrecadação da área para realização de um assentamento agroambiental. Estamos em luta há mais de três anos com o acampamento permanente Alexandra Kollontai, próximo a área, com o total de seis (6) ocupações já realizadas nessa Fazenda.

As famílias continuam no local realizando atividades de educação infantil, cultura, cinema. A polícia foi até lá na manhã de sábado (11), mas não houve confronto e não foi emitido o mandado de reintegração de posse.

http://www.mst.org.br/MST-ocupa-Fazenda-por-sonegar-impostos-no-municipio-de-Serrano-SP#.Tz2yAVa4ZLI.email

Enviada por José Carlos.

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MST terá barraca da Reforma Agrária no carnaval de Olinda

Mao Tsé-Tung dizia que “a revolução não é um convite para um jantar”. Mas ela deve ser bonita, ter poesia e alegria, conforme nos ensinou nosso sempre presente companheiro Josias Barros, dirigente do MST de Pernambuco, assassinado em 2006 com um tiro pelas costas enquanto defendia a bandeira do MST.

E é com alegria e comprometimento, com espirito de festejo – mas também de luta -, que o MST participa do Carnaval, essa que é a mais popular de todas as festas. Seja com nossa escola de samba, a Unidos da Lona Preta, seja com blocos regionais e locais ou com a participação da nossa militância nas ruas, o MST devolve ao carnaval seu sentido popular, contestador e, porque não dizer, revolucionário.

É nesse sentido que esse ano trazemos a Reforma Agrária para o carnaval de Olinda, com a Barraca da Reforma Agrária do MST. Além de um ponto de encontro da militância política que participa do carnaval de Olinda, a barraca trará ainda uma série de programações. No sábado de Zé Pereira, o Bloco “Lula e o Polvo” fará o encerramento de seu desfile, e na segunda-feira haverá a “Batucada da Reforma Agrária”.

A Barraca da Reforma Agrária funcionará no Polo Sítio de seu Reis, atrás da Praça do Carmo, do sábado à terça-feira de Carnaval.

Afinal, “se aqui estamos, cantando essa canção, viemos defender a nossa tradição, e dizer bem alto, que a injustiça dói, nós somos madeira de lei que cupim não rói”.

http://www.mst.org.br/MST-tera-barraca-da-Reforma-Agraria-no-carnaval-de-Olinda#.Tz2yYs7ZE7E.email

Enviada por José Carlos.

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