Morales cede aos indígenas e rodovia não passará por reserva

O presidente boliviano, Evo Morales, aceitou nesta sexta-feira os pedidos de grupos indígenas de que uma estrada financiada pelo Brasil não atravesse o parque natural de Tipnis (Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure), cujos habitantes marcharam por 66 dias desde a Amazônia boliviana até La Paz em protesto contra a construção.

Após meses de impasse e tentativas frustradas de diálogo com o grupo, Morales afirmou que enviará ao Congresso uma reforma que atende à exigência dos indígenas.

O presidente disse que analisou o projeto apresentado pelos moradores da reserva e decidiu que a rodovia que passaria pelo parque — assim como qualquer outra futura estrada — não poderá ser construída ali.  “Estamos incorporando no primeiro artigo o texto que declara o Tipnis como zona intangível”, disse. “Assim, decide-se que a rodovia não atravessará a reserva”.

Morales lamentou a recusa dos indígenas na quinta-feira a dialogar sobre o assunto, mas ressaltou que vai se reunir ainda hoje com uma comissão de 20 representantes do grupo.

Participantes da marcha se recusaram a se reunir com o presidente ontem na sede da vice-Presidência do país, dizendo que só haveria diálogo caso fossem recebidos no Palácio do Governo. O grupo chegou na quinta-feira à cidade de La Paz, após 66 dias e mais de 500 km percorridos.

O Tipnis é uma reserva nacional boliviana de cerca de 1,2 milhão de hectares que deve ser atravessada pela rodovia. Construída pela empreiteira brasileira OAS com financiamento do BNDES, a estrada, que tem 306 km, deve custar US$ 415 milhões.

As obras foram suspensas no fim de setembro, até que um referendo seja realizado consultando as comunidades locais.
Os manifestantes argumentam que a obra levaria à ruína da reserva ecológica e à invasão da área por produtores de coca, planta base para fabricar cocaína.

O ápice da crise, após 40 dias de intensos protestos de indígenas, militantes e civis por todo o país, ocorreu no dia 25 de setembro, quando o governo ordenou uma violenta ação policial –usando gás lacrimogêneo e cassetetes– para conter cerca de 1.500 manifestantes.

Dois ministros e vários outros funcionários deixaram o governo após a polêmica em torno da operação.

Enviada por Pablo Camargo para a lista CEDEFES.

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