Seminário aprova moção contra TV por entrevistar Cabo Anselmo

Entrevista do programa Roda Viva, da TV Cultura com ex-militar que delatou companheiros adversários da ditadura de 1964 custou à emissora paulista e seu conselho curador moção de repúdio aprovada no V Seminário Latino-Americano de Direitos Humanos. “TV sequer se deu ao trabalho de ouvir outro lado’, diz deputada Luíza Erundina, autora da moção.

Najla Passos

BRASÍLIA – A direção da TV Cultura de São Paulo e o conselho curador da Fundação Padre Anchieta, que mantém a emissora, foram alvo de uma moção de repúdio, aprovada por unanimidade, nesta terça-feira (18), durante o V Seminário Latino-Americano de Anistia e Direitos Humanos, que acontece em Brasília. O motivo foi a veiculação, na véspera, de entrevista com Cabo Anselmo.

A moção foi proposta pela deputada Luíza Erundina (PSB-SP), que considerou um acinte à memória do país que o programa Roda Viva tenha entrevistado o ex-militar que delatou diversos companheiros militantes à ditadura brasileira. “A TV Cultura sequer se deu ao trabalho de ouvir o outro lado”, disse.

A deputada sugeriu também que o documento reivindique a exibição de programa idêntico, com entrevista com representante das vítimas da ditadura. Para Erundina, a visão do Cabo Anselmo não pode ser passada como verdade absoluta e nem mesmo exclusiva sobre um dos períodos mais polêmicos da história do país.

Revisão da Lei da Anistia

Luíza Erundina foi ovacionada pelos participantes do Seminário ao propor uma revisão imediata da Lei da Anistia, de 1979. Segundo ela, a lei foi pactuada em um momento político em que a correlação de forças era desfavorável à sociedade civil e, por isso, seria injusta. “Nós ainda estávamos na ditadura. A sociedade começava a se reorganizar. Precisamos de uma lei mais justa, que não beneficie tanto os torturadores”, afirmou.

Contudo, projeto da deputada que propunha a revisão foi rejeitado, no fim de setembro, pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara. O texto defendia excluir da lei os agentes públicos que cometeram crimes na ditadura, incluindo torturas, execuções e prisões clandestinas.

A deputada aproveitou para criticar o projeto que cria a Comissão da Verdade, por não atender a necessidade social de se fazer a justiça histórica. “Mesmo que a Comissão seja mudada e aponte os culpados, eles não poderão ser punidos por causa da Lei da Anistia. Por isso, precisamos alterá-la e, também, garantir alterações para o projeto de lei que, agora, tramita no senado”, ressaltou.

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