Tania Pacheco
Primeiro foi Hermano de Castro, pesquisador da ENSP/Fiocruz, processado por ter assinado um laudo médico no qual afirmava que “O que se verificou foram eventos sentinelas que demonstram a possibilidade de danos causados pela exposição ambiental, relacionadas ao acidente ocorrido na região ou ao processo de emissão dos poluentes produzidos pela fábrica”. E recomendava, ao final: “Tomando-se em conta a proximidade das habitações e da população no entorno da fábrica e possíveis danos à saúde de curto prazo (efeitos agudos), médio e longo prazo, como câncer (efeitos crônicos), esta população deveria ser colocada sob vigilância ambiental em saúde pelo tempo em que ficar exposta e por pelo menos 20 anos após retirada da exposição”. Resultado: a TKCSA sentiu-se injustiçada e atingida em sua honra. Talvez até seus dirigentes tenham precisado, eles, de cuidados médicos, ante tanta “ignomínia”! Processo nele!
Agora, a “atacante” é Mônica Brandão dos Santos Lima, alvo do Processo 0367407-59.2011.8.19.0001, aberto pela TKCSA na 34ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O advogado da pobre empresa atingida pede “indenização por danos morais”, causados por “Dano Moral/Outros”. O “Outros” provavelmente diga respeito ao fato de Mônica, enquanto bióloga do Hospital Universitário Pedro Ernesto, ter sido, juntamente com o Professor Paulo Pavão, uma das responsáveis pelos laudos que vêm também sendo usados para comprovar o nível dos danos causados pela TKCSA.
Será que os rábulas e causídicos da TKCSA já tiveram tempo de ler o relatório Avaliação dos Impactos Socioambientais e de Saúde em Santa Cruz decorrentes da instalação e operação da empresa TKCSA, resultado de dois GTs da Fiocruz, da Escola Nacional de Saúde Publica Sergio Arouca (ENSP) e da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV)? Seu Sumário Executivo, aliás, já esclarece bastante quem está causando “danos”, em todos os sentidos, a toda uma comunidade. Vale citar aqui, inclusive, a citação que o abre:
“Deixamos que a chuva química letal caia sobre nós como se não houvessem alternativas, quando na verdade existem muitas e nossa engenhosidade poderia descobrir muito mais, se lhe déssemos a oportunidade. Será que caímos em um estado de entorpecimento que faz com que aceitemos como inevitável aquilo que é inferior, prejudicial, como se houvéssemos perdido a vontade ou a visão para exigir o que é bom?” (Rachel Carson, Primavera Silenciosa, 1962).
Como fizemos em relação a Hermano de Castro, todo o nosso apoio, agora, também a Mônica Lima!