Uma carta de Minas: “Minha casa foi alvo de um tiro na sexta-feira…”

Comentar o quê? Afirmar o quê? Segue, abaixo, a carta de Cláudia Marques de Oliveira, que atua junto à comunidade Quilombola de Pimental, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais. Como ela mesma escreve, silenciar é aumentar o risco. Vamos, pois, dar visibilidade à sua denúncia. TP.

“Queridos amigos e companheiros de luta, gostaria de compartilhar com vocês um fato que ocorreu em minha casa no último dia 23 de setembro, sexta feira, onde reparei em um pequeno furo no vidro da janela do quarto de meu filho na parte inferior do vidro.

A princípio movida pela pressa não avaliei corretamente, associando o furo a algum tipo de brincadeira de alguma criança da vizinhança, como uma pedra por exemplo. No entanto, no dia seguinte constatamos um pequeno furo na cortina no mesmo lugar do furo da janela. Não demorou para acharmos um projétil de bala no chão no quarto; essa janela está na direção exata do portão da rua, o que nos leva crer que esse tiro pode ter sido disparado da rua em direção ao quarto de meu filho, provavelmente, entre 10 h e 12 h, da sexta feira.

Quando encontramos a bala chamamos a polícia militar para fazer a ocorrência e a bala foi levada para perícia. Infelizmente, ninguém viu nada ou mesmo ouviu o tiro sendo disparado, nos deixando sem maiores informações sobre o mesmo. Nada até o momento indica a possibilidade de bala perdida, abrindo espaço para se pensar a possibilidade de ter sido uma forma de me amedrontar e coagir a parar minha militância sobre as questões em torno do Quilombo de Pimentel e do Movimento Kdê PL, que cobra transparência e fiscaliza as ações do legislativo e também do executivo na cidade de Pedro Leopoldo.

Minha atuação tem sido assídua nos protestos e nos pedidos de transparência sobre os projetos da prefeitura, levando informações à Comunidade e aos diferentes Movimentos e entidades da cidade, o que tem causado muito descontentamento, gerando de forma implícita algumas ameaças. Meu nome vem sendo usado em questões sérias sem sequer passar pelo meu conhecimento, divulgam fatos se passando por mim ou me incluindo como contra projetos que na verdade ajudo a apoiar e até sugiro implementações (não posso citar nomes, nem as situações aqui).

Infelizmente, em momentos assim fica ainda mais claro o quanto estamos sem proteção efetiva do poder e da segurança pública desse município, pois tenho ouvido falas que demonstram despreparo e até uma certa falta de interesse no esclarecimento dos fatos. O fato de poder ter alguma ligação com a política torna o tiro cotidiano e previsível, sendo eu que tenho que me resguardar para garantir minha própria segurança.

(Devo encarar a ocorrência de um tiro direcionado à minha casa como NORMAL???)

O fato é que não posso afirmar que a bala foi ou não intencional, no entanto considero que qualquer ameaça deve ser investigada e um tiro nesses momentos pode ser uma forte evidência em conseqüência dessas ameaças.

Tenho acionado outras formas de proteção e espero ter melhores notícias em breve. Penso que se estão incomodados, então estamos no caminho certo. E isto é que não pode parar.

Recuar ou silenciar neste momento é o maior risco, é me colocar ainda mais em perigo. Espero contar com apoios.

Em breve enviarei mais informações. E a luta continua…

Abraços,

Cláudia Marques de Oliveira.
Programa Açõe Afirmativas na UFMG
Fórum Permanente de Educação e Diversidade Étnico-racial do Estado de MG”

Postada na lista do CEDEFES.

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