Adital – Cerca de 50 representantes de comunidades quilombolas do Pará, região Norte do Brasil, estão desde quarta-feira (22) na capital do estado para apresentar as demandas dos quilombolas para os futuros governantes do estado. O seminário “Eleições e os Compromissos com os Quilombolas” acontece até hoje (24) no auditório do Clube dos Lojistas (Rua 28 de setembro, 16 – Bairro do Comércio, Belém-PA).Organizado pela Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (Malungu), o evento tem o objetivo de chamar a atenção dos candidatos ao governo do estado sobre a importância de promover uma política afirmativa para a população negra, com destaque para os quilombolas.
De acordo com José Carlos Galiza, coordenador administrativo da Malungu, os participantes do encontro elaboraram uma Carta de Compromisso e convidaram os candidatos ao governo – e seus representantes – para assinar o documento. “Todos os candidatos, dos diversos partidos e coligações, foram convidados a assinar a carta e a falar sobre o assunto”, afirma, destacando que a ideia é apresentar novamente a Carta após as eleições a fim de reafirmar ao candidato eleito a necessidade de uma política de igualdade racial. Entre as reivindicações, destacam-se: criação de um órgão de autarquia para coordenar a política estadual quilombola; garantia de recursos específicos e agilidade na titulação e na proteção dos territórios; apoio ao desenvolvimento sustentável; políticas de inclusão para jovens e mulheres quilombolas; melhoria na saúde e na educação; e valorização da cultura negra e quilombola.
Além da elaboração do documento, os presentes ainda tiveram a oportunidade de participar de mesas como: “A sociedade e as eleições” e “O movimento negro e as eleições”. Faltando poucos dias para as eleições deste ano, o seminário aproveita para chamar atenção da sociedade e dos candidatos para a questão negra no estado.
Para José Galiza, a igualdade racial ainda é um assunto pouco abordado pelos candidatos paraenses. “A igualdade racial está fora da pauta. Não é prioridade para os candidatos daqui”, comenta, destacando ainda a falta de discussão sobre a temática até mesmo pelos candidatos negros. “Os candidatos negros também não trazem posição específica para a questão negra. Há poucas propostas”, revela.
Na opinião dele, os políticos ainda não demonstraram interesse na luta da população negra. Prova disso é que, segundo Galiza, quando os candidatos vão às comunidades pedir votos, apresentam poucas propostas referentes aos direitos dos quilombolas.
“Felizmente as comunidades estão mais atentas e fazem debates com os candidatos que aparecem. Mas, quando provocados pelos quilombolas sobre seus direitos, dizem: ‘a gente precisa conversar mais com vocês’”, relata.
Para o coordenador da Malungu, os negros no Brasil são deixados de lado desde o período colonial. “O negro sempre foi colocado à margem, desde o processo de escravidão que o povo negro é excluído da sociedade. A diferença é que a luta inicial era para fugir da escravidão e a de hoje é para conseguir visibilidade”, comenta.
* Jornalista da Adital
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