Por Ricardo Andrade, em Geledés/Folha Popular
O racismo no Brasil funciona como um sistema, ou seja um conjunto de elementos interligados, que atua de forma precisa, no sentido de manter a segregação e a distância social, que impede o desenvolvimento da nação.
O primeiro sistema sócio político implantado no Brasil foi o sistema escravocrata e dele se originaram os pilares que estruturaram as bases da nossa sociedade. Daí pra frente, tudo que acontece à nossa volta está correlacionado a esse sistema, que atua na manutenção da pirâmide social. O racismo está presente em tudo. Podemos dizer que o racismo está para a sociedade brasileira tal e qual o Windows está para um computador pessoal.
Quando ligamos o PC, é o Sistema operacional Windows que nos recebe, nos direciona e nos conduz a todos os programas, acessórios e ferramentas existentes na máquina. É o Sistema que nos permite ou não desenvolver as ações que queremos. Se nossa intenção ao ligar o PC for escrever um texto, será o Windows que nos direcionará ao world e disponibilizará as ferramentas de digitação e formatação. Caso nossa intenção seja a elaboração de uma tabela, será o sistema Windows que nos conduzirá ao Excel e as suas funções. É o Windows que nos faz navegar por todo o conteúdo de um PC. É esse sistema que abre e fecha os programas. É o sistema que liga e desliga a máquina e, se por acaso tentarmos executar alguma ação que não esteja em sintonia coma sua programação original, o sistema para, a máquina trava e, se essa intervenção acontecer de forma que drible a capacidade de gestão desse sistema, ele reinicia, para que a sua função original seja mantida: a função de proporcionar a operação da máquina exclusivamente para aquilo que ele foi programado.
Com a nação brasileira é assim também que as coisas funcionam! É o Sistema Operacional Racismo que determinou e dita as regras do funcionamento do Estado Brasileiro. É o racismo que seleciona quem deve ou não concluir os estudos. É o sistema racismo que aponta os que devem morrer, os que devem se aposentar, entre outras definições. O racismo determina quanto de recurso será alocado na educação e na saúde. É o sistema operacional racismo que determina a intensidade da luz que se coloca nos postes dos bairros populares. Determina, ainda, o horário e a frequência da coleta do lixo. É o racismo que especifica a política de segurança e a política alimentar. É o racismo que elege a imensa maioria dos representantes legislativos. É o racismo que versa sobre o judiciário, que pauta a política carcerária. O racismo está presente também no processo de formação intelectual e profissional das polícias, advogados, médicos…
Assim como o Windows, o racismo está presente em tudo; ele incide sobre os partidos políticos, sobre as religiões, sindicatos, associações. Não há nada que passe despercebido pelo racismo. Caso haja alguma ação que vá de encontro ao racismo, imediatamente os elementos de defesa se manifestam, a máquina para. Logo, logo, algum jurista formado pelo racismo encontra inconstitucionalidade em programas como cotas, bolsa família e outras ações afirmativas. Quando vamos de encontro a esse sistema a mensagem de -“uma ameaça foi identificada”- é disparada, e os responsáveis pela manutenção desse sistema logo tomam as providencias necessárias. Se formos às ruas denunciar o estado, o sistema aciona o antivírus (policia) para destruir os focos de resistência. Quando insistimos em ações que nos tragam vantagem e combatam o racismo, a máquina estatal para e o sistema se reinicia. Projetos de leis são engavetados ou voltam para serem redigidos no sentido de contemplar o sistema e seu status quo. Precisamos sair do sistema para combatê-lo. Precisamos de uma nova matriz que nos permita navegar pelo estado sem ser dirigido por seu sistema.