Brasil Profundo: Indígenas sofrem com falta de assistência e perseguição no Sul do Amazonas

Mídia NINJA - Foto de Gabriel Ivan
Povo Pirahã. Foto: Gabriel Ivan (NINJA)

Por Cley Medeiros, enviado especial da Mídia NINJA à Terra Indígena Tenharim

Nesta semana completam 18 dias desde a última onda de violência contra indígenas na região de Humaitá no sul do Amazonas. Com a ausência da FUNAI e da Secretaria Especial da Saúde Indígena (SESAI) – que foram transferidos para outros lugares do Brasil depois dos ataques à sede da entidade – aldeias como a dos Tenharim e Jiahui padecem da completa falta de alimentos e medicamentos

Os indígenas, ameaçados de envenenamento, sequer podem comprar mantimentos em Humaitá. A interrupção da cobrança da compensação social – taxada de pedágio pela população – prejudica a única fonte de renda de diversas famílias.

Esses impactos se estendem além das áreas de tensão, afetando também outras etnias da região. A Mídia NINJA teve acesso exclusivo aos indígenas Pirahã, que habitam às margens do Rio Maici, a 90km da cidade de Humaitá. Nessa época do ano os Pirahãs sobem o rio até a ponte Bela Vista, no Km 100 da Transamazônica, onde a FUNAI/SESAI deixam mantimentos e remédios para eles levarem até a aldeia, o que não aconteceu essa semana.

A falta de abastecimento tem prejudicado a distribuição de alimentos e medicamentos, a fome tem sido um problema grave. Cerca de 10 indígenas Pirahãs estão desde o começo da semana sob a ponte esperando ajuda humanitária. Até este momento, o único apoio é da dona de um mercado, – talvez o único até o Km 180 – que em troca da caça de peixes do rio dá arroz, feijão e farinha, além de alguns biscoitos para as crianças.

Enquanto procurava alimento em áreas mais profundas da floresta, Elizete Tenharim foi picada por uma cobra surucucu-pico-de-jaca, uma das mais venenosas da região. Minutos depois, o braço já estava começando a perder o movimento. Procurada pelos índios para prestar assistência, a Polícia Rodoviária Federal chegou a ir até a aldeia, mas não conseguiu convencer a indígena a ir até Humaitá, distante 140 km, para ser medicada. “Eu não sei o que eles fariam comigo lá na cidade, eles não gostam de índio, podem muito bem me matar,” declarou Elizete.

Até o momento nenhuma providência foi tomada pelo órgão responsável pela saúde indígena. Elizete continua na sua aldeia esperando a assistência médica. Desde o dia 25 de dezembro todos os tratamentos médicos foram interrompidos, inclusive aqueles de maior gravidade, como pacientes com deficiências físicas e mentais.

A ONG Kanindé, conhecida na defesa dos direitos indígenas, fez uma campanha onde conseguiu arrecadar cerca de 200 cestas básicas. Os alimentos serão entregues nas aldeias Tenharim, Jiahui e Pirahã. Até o momento eles esperam a ajuda de um caminhão da FUNAI para transportar os mantimentos até os territórios indígenas.

Saiba mais sobre os últimos acontecimentos na região de Humaitá, Sul do Amazonas, em NINJA.

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