Humaitá é um município do Estado do Amazonas localizado a sudoeste da capital Manaus. O território, mais recentemente, foi formado por migrantes sulistas e caboclos. Os índios que compõem o conjunto populacional já lá estavam desde tempos datados de 5 a 8 mil anos atrás.
Atualmente, ao todo, existem cerca de 45 mil almas torrando sob o calor dessa cidade média do bioma caracterizada por queimadas, desmatamento, pecuária, comércio irregular de terras sem registro de cadeia dominial e tristes festivais de vaquejada. Além desse posicionamento clássico e questionável acerca de modos de vida na Amazônia, outra coisa que caracteriza a cidade, hoje, é a aversão a indígenas. Uma aversão clara e instrumentalizada, constituída a partir de discursos e armas de grileiros, posseiros, megaempresários inescrupulosos e demais tipos de espíritos preconceituosos que lucram com a tragédia do outro – sobretudo se esse outro tiver identidade pré-colombiana na América.
Durante trânsito no entorno da rodovia Transamazônica e na sede de Humaitá na semana que passou e um pouco antes, foram tomados registros de falas de pesquisadores locais e moradores da região a respeito da sociocultura do município, que hoje se configura como espaço controverso de fronteiras étnicas. Contataram-se pessoas comuns localizadas em bares, restaurantes, posto de gasolina e ainda dois pesquisadores, um filósofo e outro antropólogo, que ajudaram com informações socioculturais do lugar.
A tentativa foi perceber em que medida poderiam se situar algumas das angulações daquelas pessoas, tradicionais e não tradicionais, acerca da indianidade das pessoas do lugar. A pretensão foi comparar o contexto social de humaitaenses, territorializados no Arco do Desmatamento, ante a representação social do índio segundo residentes do Baixo Amazonas, onde há cinco anos tem sido investigadas pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ambientes Amazônicos (Nepam) – o qual lidero na Universidade Federal do Amazonas, com registro no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – concepções referentes às etnias Sateré-Mawé e Hixkariana. (mais…)