Associação Indígena KAAPORTARUPI
As cenas de violência continuam fazendo parte da vida do povo Ka’apor e sendo um pesadelo constante, fato agravado a partir do ano de 2013. Mesmo a despeito de dificuldades, este ano foi marcado pela união das várias aldeias do território em defesa da floresta, da identidade e da vida. Em decorrência dessa tomada de consciência e atitude por parte dos Ka’apor, houve uma série de ameaças, agressões e mortes impetradas por forças contrárias à autogestão dos indígenas.
Ainda no primeiro semestre aconteceram duas operações com participação do Exército, IBAMA e FUNAI que expuseram ainda mais os indígenas à insegurança e à violência, pois, após a saída da área do efetivo dessas instituições, em julho de 2013, o povo indígena assistiu, no final de agosto, à invasão violenta da antiga aldeia Gurupiúna, com a entrada de 50 pessoas armadas e incitadas por grandes madeireiros e donos de serrarias dos municípios de Centro Novo do Maranhão, Centro do Guilherme e Maranhãozinho. A ação violenta foi marcada por agressão, espancamento de idosos e crianças, roubo de criações, roupas e documentos dos indígenas o que ocasionou um clima de insegurança e medo nas aldeias vizinhas, com perseguições e ameaças de morte às lideranças.
Em setembro, os indígenas da aldeia Ximborenda detiveram 6 invasores durante três dias, flagrados derrubando árvores seculares no interior do território às proximidades da aldeia, posteriormente liberados por servidores da Funai.
No inicio de outubro de 2013, depois de iniciadas as atividades de vigilância, monitoramento territorial com a identificação e reavivamento dos limites, lideranças indígenas foram surpreendidas por um grupo de madeireiros armados dentro do território, à margem direita do Rio Gurupiúna. Os indígenas tiveram que se refugiar na mata após ameaças de tiros e agressões. Com a chegada de indígenas de outras regiões, os madeireiros foram desarmados e expulsos da área. Com isso, intensificaram a fiscalização em seu território no mês de novembro, o que culminou na apreensão de armas e motocicletas, na apreensão de tratores e caminhões utilizados na destruição da floresta e na expulsão de madeireiros que realizavam corte de árvores, transporte e comercialização de madeira em serrarias da região noroeste do Maranhão.
Antes do Natal, um grupo de indígenas, que realizava a identificação e reavivamento dos limites, prenderam por três dias um madeireiro influente da região, que realizava corte ilegal de madeira, que, posteriormente, foi solto pelo delegado e servidores da Funai no município de Santa Luzia do Paruá. Também apreenderam armas, tratores e caminhões no limite noroeste de seu território no Rio Gurupi, às proximidades da divisa com o Pará. Essas sucessivas agressões têm interferido diretamente na dinâmica cultural do povo.
Em 2014, o ano se inicia com a desintrusão da TI Awá do povo indígena Awá-Guajá, em região limítrofe à TI Alto Turiaçu. A boa notícia para o povo indígena parente não teve a mesma correspondência para os Ka’apor, pois, em 07 de janeiro, um grupo de 10 Ka’apor, que realizava abertura de trilhas nos limites de seu território, para a autovigilância, foi surpreendido com tiros que atingiram as costas e pernas de 2 jovens Ka’apor e a cabeça do cacique da aldeia. Os jovens foram hospitalizados às pressas no município de Zé Doca (MA) e o cacique permaneceu na aldeia, por sorte; não correram risco de morte, pois receberam a devida atenção de profissionais de saúde que atuam junto aos indígenas. O madeireiro “Maradona”, que comandou a ação violenta, encontra-se foragido.
Diante das ameaças de fazendeiros e madeireiros, e o envolvimento de policiais militares com a “segurança privada” ligada aos agressores, os indígenas ficam receosos de registrar boletins de ocorrência em delegacias da região, além de ficarem temerosos de circular em vilas, povoados e cidades da região em razão das contínuas agressões à sua integridade física e à sua identidade, pois são povos da floresta. Lideranças são permanentemente seguidas e monitoradas por madeireiros na região. A conivência e envolvimento de prefeitos, vereadores, servidores e demais agentes públicos com a exploração madeireira tornam esses agressores reincidentes, imperando o descaso e a impunidade, o que somente confirma a falta de lei e rei no território maranhense, fato lamentável em razão da sofrida luta dos povos indígenas e das populações empobrecidas desse Estado.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Jsm Andrade.
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