Por Fabiano Maisonnave e Avener Prado na Folha de São Paulo
Alegando não ser “babá de imprensa”, um agente da Polícia Federal proibiu a reportagem da Folha de desembarcar da balsa que liga a cidade de Humaitá (AM) à rodovia Transamazônica, no início da madrugada deste sábado.
O agente Alvino comandava um comboio para levar peritos até um local dentro da Terra Indígena Tenharim onde, segundo a PF, foram encontrados vestígios de um carro que poderia ser o Gol preto no qual viajavam três homens desaparecidos desde o último dia 16. A região é atravessada pela rodovia Transamazônica.
O carro da reportagem entrou na balsa antes dos carros da PF. A viagem, por volta da meia-noite, estava marcada a pedido dos policiais, mas um sitiante local também estava na embarcação.
Logo após estacionar o carro na balsa, Alvino abordou os repórteres e disse que não permitiria o acesso ao local, a cerca de 140 km de distância. A reportagem argumentou que uma equipe da TV Globo já estava na região e que havia viajado horas num comboio da polícia.
Alvino então concordou que a Folha acompanhasse, mas, minutos depois, mudou novamente de ideia e orientou os trabalhadores da balsa a levar o carro da reportagem de volta a Humaitá.
Ele não permitiu sequer que a reportagem viajasse até o km 90, ainda fora do território indígena, onde funciona uma hospedagem.
Na hora do desembarque, Alvino se irritou quando a reportagem, que não ligou o carro para desembarcar, perguntou o seu nome. Falando que, “se vocês vão me foder, eu também vou foder vocês”, disse que instauraria um inquérito.
O policial pediu então os documentos dos repórteres e do carro e chamou dois trabalhadores da balsa para anotar os nomes: “Vocês são testemunhas de que eu mandei eles desembarcarem lá e eles não desembarcaram, tá?”
“Estou até com vontade de deixar vocês [irem até a terra indígena] pra você ver como eles são bonzinhos. Mas eu não sou babá de imprensa, não. O [delegado Alves, que permitiu a presença da TV Globo] pode até ser, mas eu não sou, não. Não estou aqui pra te tratar bem, não, estou aqui pra fazer o meu serviço.”
A polícia suspeita que os indígenas tenham matado os três ocupantes do carro, cujo desaparecimento provocou ataques da população vizinha a “alvos indígenas”, como veículos e a sede da Funai e postos de pedágio operados pelos tenharim na Transamazônica.
Os tenharim negam qualquer envolvimento com o desaparecimento. Na quinta e na sexta-feira, permitiram que a reportagem visitasse suas aldeias e conversasse com qualquer morador.
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